Iniciação - Crônica de um despertar
por Wagner Borges em EspiritualidadeAtualizado em 08/04/2020 11:35:20
O véu de Ísis* se ergueu...
E o iniciado se viu diante da Luz da Verdade.
O seu ego capitulou e teve fim a escuridão que o rondava há tanto tempo.
Sob o olhar da Deusa, ele se ajoelhou e chorou...
Porque o Amor derreteu o seu coração.
Ele agora sabia que era uno com a Luz!
Ali, diante da Madrinha dos Iniciados, ele estava nu, em Espírito e Verdade.
Então, uma linda coluna de Luz desceu sobre ele, e o brilho das estrelas inundou suas células... sim, agora ele sabia que era centelha vital do Todo.
Na borda por entre os planos, ele viu o imenso plano de evolução da humanidade...
E soube que havia se tornado um servidor do Alto.
Ele era da Luz... e nada poderia separá-lo d'Ela.
Ah, ele chorou, sim!
Porque todo iniciado chora a dor do mundo e verte lágrimas luminosas.
E, ali, diante da Mãe Ísis, as escamas do seu antigo eu se desprenderam...
E ele viu um novo Céu e uma nova Terra. E isso era em seu próprio coração.
Então, ele orou, em Espírito e Verdade!
Nesse dia, parte dele morreu na Luz...
E outra parte sua surgiu, renascida, na mesma Luz. E ele nunca mais foi o mesmo...
Porque agora ele sabia que era da Luz.
E que a sua missão seria "fazer o Bem sem olhar a quem!"
Na borda por entre os planos, ele viu o Amor mais lindo de todos. E se encantou...
E chorou o choro de renascimento dos iniciados.
Agora ele sabia da verdade essencial, que o Todo** está em tudo!
E que ele e a Luz sempre foram um só!
Ali, no átrio da câmara secreta da iniciação, a Mãe Ísis o abraçou como filho da Luz... e, enfim, ele despertou.
P.S.:
Face a face com o invisível, todo homem chora.
Diante do olho onipresente do Todo, não há sombras.
O iniciado espiritual sabe disso. A dor o ensinou, por muitas vezes.
Quando o seu ego era grande, tempestades corretivas o açoitaram.
Maat***, com grande generosidade, curvou seus joelhos no sal e no sangue.
E ele chorou nas areias quentes de si mesmo, sem que os deuses o ouvissem.
No cadinho da experiência, sua arrogância foi solvida no fogo do espírito.
E, na grande hora de sua ascese, a Mãe Ísis o guiou pelos túneis escuros.
Ela trouxe acesa a tocha do Amor e sorriu para ele, enchendo-o de graça.
Depois, na presença dos hierofantes****, ele aprendeu a servir à Luz.
Ali, ele abriu seu coração e chorou, mais uma vez, renascido em si mesmo.
Mas suas lágrimas eram libertárias. Eram lágrimas de agradecimento.
Sim, todo homem chora diante do olho da verdade. E seu orgulho se cala!
Em muitos voos para fora de seu corpo*****, ele viu verdades e foi testado.
Enquanto seu corpo repousava, em espírito ele era iniciado nos templos sutis.
Ele viu muitas sombras, dentro e fora de si mesmo. Mas trabalhou firme!
Em silêncio, ele orava e se fiava na Luz. Ele se lembrava da graça de Ísis.
Só de pensar na Grande Mãe, o seu coração se enternecia. Ela era o seu sol!
Ele aprendeu a seguir os ditames do Alto e seguiu em frente, pela Luz...
Às portas do infinito, em seu próprio coração, ele dissolveu-se num lindo Amor.
Ele não era mais seu, era da Luz! E em sua fronte brilhava uma estrela espiritual.
Admirado, ele agradeceu, mais uma vez, à Mãe Ísis, pelo presente brilhante.
Ele sabia que, por onde fosse, a estrela prânica****** o guiaria e protegeria.
- Wagner Borges - mestre de nada e discípulo de coisa alguma.
- Notas:
* Ísis - A Grande Mãe na cosmogonia egípcia antiga, esposa de Osíris e Mãe de Hórus. Era considerada a madrinha dos iniciados nos grandes arcanos espirituais. E sobre isso escrevi um texto há alguns anos - "No Fogo do Espírito, Face a Face com o Invisível" -, que pode ser acessado no site do IPPB, neste endereço específico.
** O Todo - expressão hermética para designar o Poder Absoluto que está em tudo. O Supremo, O Grande Arquiteto Do Universo, Deus, O Amor Maior Que Gera a Vida. Na verdade, O Supremo não é homem ou mulher, mas pura consciência além de toda forma. Por isso, tanto faz chamá-lo de Pai Celestial ou de Mãe Divina. Ele é Pai-Mãe de todos.
*** Maat - na cosmogonia egípcia clássica é a deusa da justiça; por metáfora, muitas vezes ela é representada por um par de asas (ou apenas uma pena de ave), simbolizando que Ela paira acima do mundo, atenta a todas as coisas que os homens pensam, sentem e fazem em suas vidas.
Obs.: Ver o excelente texto "Antigo Egito (De Hoje)", de autoria de minha amiga Monica Allan - postado no site do IPPB, no seguinte link.
**** Hierofantes - dentro do contexto das iniciações esotéricas da antiguidade, eram os mestres que testavam os neófitos (calouros) nas provas iniciáticas.
Obs.: Ver o texto "Uma Noite Dentro da Grande Pirâmide", postado nesse link.
***** Projeção da consciência - é a capacidade parapsíquica - inerente a todas as criaturas -, que consiste na projeção da consciência para fora de seu corpo físico.
Sinonímias: Viagem astral - Ocultismo.
Projeção astral - Teosofia.
Projeção do corpo psíquico - Ordem Rosacruz.
Experiência fora do corpo - Parapsicologia.
Viagem da alma - Eckancar.
Viagem espiritual - Espiritualismo.
Viagem fora do corpo - Diversos projetores extrafísicos e autores.
Emancipação da alma (ou desprendimento espiritual) - Espiritismo.
Arrebatamento espiritual - autores cristãos.
****** Estrela Prânica - do sânscrito, prana - a força vital; a energia - no contexto iogue é a estrela espiritual, manifestação do plano divino.
Obs.: Para melhor compreensão dos leitores sobre isso, sugiro a leitura desses dois textos:
- "Na Luz de Krishna - O Amor em Ação", postado no seguinte link.
- "A Canção das Estrelas-Bebês", postado no seguinte link.
O VELOCINO DE OURO E O CORAÇÃO
O velocino* de ouro está correndo, singrando as estrelas como um bólido e deixando uma trilha luminosa pelo espaço.
Muitas lendas foram criadas a seu respeito, mas só os verdadeiros iniciados conhecem seu real significado.
De seu movimento nascem as ondas: ondas de dor, ondas de Luz, ondas de Amor...
Na oscilação dessas ondas pulsa o coração, vertendo o sangue da experiência.
Batendo, batendo, batendo... sem parar, levando vida a cada canto e respirando a energia em forma de líquido.
Brilhando, brilhando, brilhando... sem parar, levando Luz a cada recanto.
Pulsando, pulsando, pulsando... sem parar, para romper a crisálida e fazer nascer um homem de ouro.
Velocino de ouro no espaço, coração dourado que mora no peito. Da união desses dois nasce o iniciado. Daí resulta que:
- O movimento gera experiência.
- A experiência gera uma situação.
- A situação gera a pulsação.
- A pulsação gera brilho.
Deste brilho nasce o novo Ser, renascido das próprias entranhas, um verdadeiro Dwidja**, pronto para recomeçar.
Velho homem de metal que morre, novo homem de ouro que renasce...
Não há como alcançar o velocino de ouro sem ter nascido o homem dourado, que é gerado no "útero do sentimento".
O coração fica brilhante e transforma-se em uma estrela "iniciada" na Luz.
O velocino de ouro é atraído pelo seu brilho.
Uma fusão ocorre: o velocino e o coração se unem.
É estrela com estrela gerando mais Luz nesse universo dourado.
Esse é o segredo da primeira iniciação.
O velocino de ouro correndo pelo espaço representa o homem correndo pela Evolução.
O coração pulsando representa o ritmo cósmico do Criador.
O homem correndo pela Evolução encontrará a pulsação cósmica de Deus em cada recanto do Universo.
Esse é o segredo da segunda iniciação.
O espírito emancipado singra o espaço como verdadeiro velocino humano, dourado de Amor... a ilusão foi vencida e ele descobre que, no âmago do Universo, está a verdadeira iniciação, pois, pulsando no peito de Deus está o coração de cada um que busca sinceramente a verdade.
Esse é o segredo da terceira iniciação.
O velocino de ouro e o coração é a saga do encontro entre o microcosmo e o macrocosmo... é a história da pequena-grande iniciação, que objetiva ensinar aos discípulos espiritualistas que, para expandir a consciência pelo espaço, é necessário, primeiro, expandir o sentimento pela Terra.
Que essa saga dourada possa resumir para os buscadores espirituais, "que tenham olhos para ver", "ouvidos para ouvir", e "conhecimento para entender", a máxima oculta de toda verdadeira iniciação:
"Evoluir para encontrar a Pulsação de Deus dentro do próprio coração!"
Paz e Luz!
Rama*** -
(Recebido espiritualmente por Wagner Borges - Texto extraído do livro "Viagem Espiritual - I" - Editora Zennex - 1993.)
- Notas:
* Velocino - carneiro fabuloso da mitologia que tinha velo (pêlo) de ouro.
** Dwidja - do sânscrito - o renascido; aquele que tem duas vidas. Aquele que venceu a barreira da morte e vislumbrou o que há mais além... em outras palavras, trata-se do projetor astral iniciado nos arcanos espirituais.
*** Rama - mentor extrafísico ligado ao Grupo dos Iniciados e à Fraternidade da Cruz e do Triângulo.
Obs.: Enquanto eu digitava essas linhas, lembrei-me de um belo poema projetivo de Baudelaire. Então, reproduzo o mesmo, na sequência
TRADUÇÃO DE POEMA DE BAUDELAIRE
Acima dos lagos, acima dos vales,
das montanhas, dos bosques,
das nuvens, dos mares,
além do sol, além do espaço etéreo,
além dos confins das esferas estelares,
o espírito se move com agilidade.
E como bom nadador que delira na onda,
singra alegremente a imensidão profunda,
com indizível e máscula volúpia.
Voa meu espírito, bem longe
desses miasmas mórbidos,
vá se purificar no ar superior
e beber como puro e divino licor
o fogo claro dos espaços límpidos,
longe do tédio e das vastas mágoas,
que carregam com seu peso a existência brumosa.
Feliz quem pode com asa vigorosa
se lançar aos campos luminosos e serenos,
aquele que com pensamentos como pássaros,
que de manhã voam para o céu livremente.
Quem paira sobre a vida e sem esforço compreende
a linguagem das flores e das coisas mudas.
- Nota:
Charles-Pierre Baudelaire (Paris, 1821-1867) - foi poeta e teórico da arte francesa. É considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia, juntamente com Walt Whitman, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.