Liberdade...
por Rubia A. Dantés em EspiritualidadeAtualizado em 01/09/2006 11:59:20
Eu pressinto a liberdade rondando o meu destino sempre que me lembro desse trecho do livro “O presente da Águia” do Carlos Castaneda...
“Já me dei ao poder que rege meu destino. E não me prendo a nada para não ter nada a defender. Não tenho pensamentos, por isso verei. Não receio nada, por isso me lembrarei de mim mesmo. Desprendido e à vontade, passarei como um jato pela águia para me tornar livre”
Deu tudo certo... desliguei o telefone depois de falar com uma amiga que tudo tinha dado certo... Afinal, na noite anterior ela tinha ficado preocupada com meu telefonema...
Tudo pode ser tanta coisa... mas nesse caso específico eu me referia a algo não muito palpável... algo que me vai na Alma... ligado à liberdade..
Trocando em miúdos, dentro do possível, é que nesses dois últimos dias acessei alguma coisa bem no profundo... dentro de mim, que pedia por liberação. É engraçado que quando a nossa Alma sente que estamos prontos para acessar e liberar mais alguma coisa que nos limita... isso acontece das formas mais inesperadas. Dessa vez, na noite anterior eu me senti um pouco sem esperanças... fiquei triste me sentindo sem saída.
Não que nada tenha mudado exteriormente e poderia ser até de se estranhar... porque tenho estado feliz esse dias, com as coisas em aparente ordem...
Mas me vi assim... de repente, e sem ter como negar aquele sentimento. Sei que poderia tentar escapar pela tangente sobrepondo ao sentimento coisas boas que tenho para agradecer... mas sei que isso de esconder o sentimento em baixo do tapete não é uma coisa boa para quem busca se conhecer... afinal, se veio à tona é porque estava lá em algum ponto do inconsciente e minha Alma achou de bom tamanho trazê-lo a luz...
Resolvi encarar de frente...
Como essas coisas não são muito boas de sentir, tentamos negá-las ou fugir colocando coisas boas no lugar, mas... existem coisas, que falam de padrões antigos que interferem em nossa conduta e que... quando liberados, abrem preciosos espaços de consciência...
Resumindo... dormi aceitando aquele sentimento e fazendo uma entrega profunda dos meus caminhos ao Grande Mistério...
Na manhã seguinte nem me lembrava do sentimento quando ele chegou de forma avassaladora... trazendo até sintomas físicos de falta de ar, opressão no peito e um aperto na garganta...
Deitei-me e me entreguei ao que estava sentindo, logo iniciando uma jornada para dentro... mesmo sem o tambor...
Vi-me encontrando uma mulher presa em um pequeno cômodo e a um tipo de trabalho que era totalmente controlado... Ela era alguém que tinha um Dom muito especial, mas que não podia exercer de forma natural porque aquele Dom era controlado... ela fazia aquele trabalho sem poder levar em conta o que sua Alma pedia e sim tendo que obedecer ordens... sem poder respeitar o tempo da criação...
De vez em quando ela olhava por uma pequena abertura redonda, como um buraco na parede... o Grande Mistério... daquela pequena fresta ela podia ver o infinito cheio de estrelas e era aquilo que acalentava a sua Alma...
Foi assim que eu a encontrei... ou me encontrei... ainda presa a alguma memória antiga.
Olhando bem aquele pequeno cômodo, percebi que tudo ao redor era de uma matéria muito tênue e quase sem existência, assim como uma película que envolve o ovo entre a casca e a clara... com a mão fui tirando tudo e só ficou a cadeira em que a mulher estava sentada...
A cadeira e a memória daquela prisão...
Mesmo vendo que não existia mais nada que a prendesse ali, ela resistia em me acompanhar para a liberdade...
Foi quando vi, embaixo da cadeira, um fio quase transparente que levava além...
Agora já me via junto com a mulher seguindo por esse fio por um túnel escuro... íamos a uma grande velocidade, nos deslocando no espaço com as mãos deslizando sobre esse fio condutor...
Muitas paisagens passaram... apenas pressentidas, porque estava bem escuro...
Até que senti que mergulhávamos em espiral para a Terra... a sensação era de um mergulho na Terra... caímos em um espaço escuro, como numa caverna e o fio caiu indicando que era ali o nosso destino...
Com o silêncio preenchendo nossa Alma sentimos uma presença muito acolhedora...
Uma mulher... anciã... mulher de raízes... xamã... sonhadora... ancestral...
Não existem palavras que possam descrever aquela que começou a se revelar com a Luz que entrava...
Ela tinha a força de todas as montanhas e a suavidade de todas as brisas...
Olhei para a mulher que me acompanhava para dividir com ela aquele encantamento e vi que ela era só luz e ao me abraçar se fundiu em mim...
Encaminhei-me para o contato com aquela que me parecia a Grande Mãe e isso me acalentou de esperança...
O que é do silêncio não existem palavras capazes de descrever...
A aceitação foi se instalando e eu experienciei uma liberdade tão grande que é difícil explicar... coisas que vivi foram voltando e eu me via revivendo-as de uma outra forma... sem julgamento... despojada de tudo...
No dia seguinte àquele encontro, percebo como tenho... ou tinha, um medo enorme de trabalhar onde não pudesse exercer meus Dons, e como... em um ponto do caminho, meu corpo se negou terminantemente a fazer o trabalho que fazia e não tive outra opção a não ser buscar meus Dons...
Entendo também que a memória dessa experiência, me impedia de viver algumas coisas pelo medo de me sentir presa...
Ao evitarmos tanto o que pensamos que vai nos prender... nem percebemos que esse evitar também pode ser uma prisão...
Tenho sede de liberdade e nem percebia, algumas vezes, como essa liberdade também pode nos prender... Saímos de um extremo e corremos o risco de nos prender no outro...
E a liberdade costuma rondar o caminho do meio...