Múltiplos Big Bangs
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 19/03/2004 16:16:52
Procurei fazer um resumo simplificado de um artigo belíssimo* que foi publicado no New York Times sobre a criação do Universo (que aliás recomendo seja lido integralmente).
Uma questão que desafia a mente dos cientistas é a origem do universo. Chegou-se ao Big Bang, com relativo sucesso e comprovação. Mas empacaram na constatação de que o universo possui a mesma temperatura da radiação cósmica em qualquer direção que se olhe. Ora, no modelo antigo de big Bang não haveria tempo suficiente no início do universo para que o calor fluísse de uma região pra outra. Então tem-se estudado formas de representar a realidade atual do universo e a mais aceita atualmente é a teoria do universo inflacionário.
Nesta teoria, o universo não teria um começo definido, justamente porque não teve UM Big Bang, e sim vários - indefinidamente - como uma bolha criando outra. Na verdade, cada bolha seria um novo Big Bang, um novo universo com diferentes características e talvez até mesmo com diferentes dimensões. O nosso universo seria meramente um entre vários.
"Caso se inicie, esse processo pode prosseguir para sempre", explica o cosmólogo Linde. "Ele pode ocorrer neste momento, em alguma parte do universo".
O maior dos universos concebidos pela inflação eterna é tão inimaginavelmente grande, caótico e variado que a questão da sua origem se torna quase que irrelevante.
A explicação para a origem do universo estaria no princípio de incerteza da física quântica, onde o espaço vazio nunca pode ser considerado como sendo realmente vazio. Então o universo poderia ser resultado de uma flutuação quântica no "nada" primordial.
A equação Wheeler-De Witt procura englobar todos os universos possíveis: Aqueles que existem por apenas cinco minutos, antes de virarem buracos negros; os que existem por toda a eternidade; aqueles cheios de vida; os que são completamente desertos. Os físicos chamam esse agrupamento de "super-espaço".
Isto dá margem a mais uma das grandes questões. Já que ninguém pode sair do universo, quem o estaria observando?
Wheeler sugere que uma resposta para essa questão seria afirmar que os observadores seríamos nós mesmos, agindo por meio de uma observação mecânico-quântica.
"O passado é teoria", escreveu o cientista. "Ele não possui existência, exceto nos registros do presente. Nós somos participantes, no nível microscópico, da confecção do passado, bem como do presente e do futuro". De fato, a resposta de Wheeler para Santo Agostinho é que nós, coletivamente, somos Deus, e estamos incessantemente criando o universo.
Mas um outro mistério embutido na equação Wheeler-De Witt é o fato de ela não fazer menção ao tempo. No super-espaço, tudo ocorre uma vez e definitivamente, o que leva alguns físicos a questionar o papel do tempo nas leis fundamentais da natureza.
Julian Barbour, um físico independente que foi aluno de Einstein na Inglaterra, argumenta que o universo consiste de uma pilha de momentos, como cartas de um baralho, que podem ser embaralhados e reembaralhados de forma arbitrária, de forma a fornecer a ilusão de que existe tempo e história.
O Big Bang seria apenas uma outra carta no baralho, juntamente com todos os outros momentos. Um passado eterno do universo. "A imortalidade está aqui", escreve ele no livro O Fim do Tempo: "A nossa tarefa é reconhecê-la".
Essa idéia do tempo simultâneo é a mesma de quando um Budha atinge a iluminação: Não há passado, presente ou futuro. O Budha pode ver o "super-espaço"; ele está fora da Matrix. É aí que a ciência falha, porque simplesmente não pode conceber que alguém possa fazer isso.
A criação de universos paralelos seria como múltiplos Big Bangs, que acontecem esporadicamente, em planos diferentes. Cada plano com suas respectivas dimensões: Altura, largura, profundidade, e, talvez, o tempo. Ora, o tempo para nós, humanos, é uma sucessão de eventos. Na física já está provado que o tempo se estica com a velocidade (freqüência), passando mais devagar. A teoria dos gêmeos de Einstein demonstra bem isso. Então, como podem notar, a certeza sobre o que é "tempo" nos outros planos não pode ter como base a nossa idéia de tempo.
* link
FAQ de Cosmologia (Inglês): link