O Bom Samaritano
por Wilson Francisco em EspiritualidadeAtualizado em 07/10/2005 12:22:26
As parábolas de Jesus são poemas que encantam e ensinam. Lidas com emoção podem arrebatar almas dos escombros da solidão e da dor; no entanto, quando lidas com consciência, se tornam um instrumento poderoso de transformação porque determinam com exatidão que caminho o ser humano deve seguir para conquistar a paz interior.
Nesta parábola do Bom Samaritano podemos nos deliciar com a poesia e entender com inteligência o que, na verdade, Jesus queria dizer.
Vamos a ela.
Um homem descia de Jerusalém para Jericó e foi assaltado, sendo ferido por ladrões. Ficou caído a beira da estrada.
Fazia o mesmo caminho um Levita que passou à distância sem ver a criatura; em seguida um Sacerdote também descia para Jericó e não percebeu a presença do homem.
Mais tarde, um Samaritano que passava por ali viu a pessoa em sofrimento e tomado de compaixão a socorreu, fazendo-lhe curativos e levando-a a uma pensão onde o deixou com algum dinheiro.
Jerusalém, na época de Jesus, era a cidade dos Templos, onde se orava e se faziam as oferendas, enquanto Jericó era uma cidade portuária com um comercio intenso onde predominavam os negócios.
O recado que Jesus dá nessa parábola pode ser o seguinte: quando a criatura sai do Templo, isto é, da dimensão divina, espiritual, dos pensamentos bons para estar no Mundo, para entrar na dimensão humana ou para cultivar pensamentos densos de baixo teor vibracional, ela pode ser assaltada, dominada por doenças ou envolvida por obstáculos.
O homem descia de Jerusalém para Jericó, por isso foi assaltado.
O Sacerdote e o Levita, um cultivador da religião e o outro detentor do conhecimento das leis, faziam ambos o mesmo caminho do homem. Em razão disso, não viram o homem com sua dor e sofrimento.
É uma outra ocorrência que se dá: quando você desce da dimensão superior dos bons hábitos, da humildade, para deixar-se dominar pela discórdia, pela fragilidade, sua visão do mundo embaça, você nada percebe. E você segue sua vida, sempre ao largo, alheio, isolado e egocêntrico.
A Samaria era considerada a cidade das luzes. Nela estavam localizadas as torres de vigilância com grandes fogueiras que indicavam o caminho correto para as embarcações.
O Samaritano, então, simbolicamente, é o homem vigilante, aquele que habita na luz.
Diferente dos outros, ele não descia de Jerusalém para Jericó. Ele passava por ali. A criatura que vigia, que vive em sintonia com a sua luz interior e do Universo, é perceptiva, tem o dom de observar tudo e todos, envolvendo-se com as coisas do mundo para proteger, curar e ensinar. Ele percebeu a dor do semelhante, tirou o homem da beira do caminho e o levou a uma pensão onde indicou o socorro a ser prestado, deixando ainda dinheiro suficiente para que o hospedeiro o atendesse totalmente.
Talvez esteja aí, nesse ensinamento de Jesus, um caminho salutar para a humanidade: O ser humano, não é perverso.
Falta-lhe percepção do que acontece com exatidão e quase sempre disposição para agir. Esta mobilização interna, este senso de agir é uma questão de hábito, de repetir atitudes, ensaiar ações e padronizar costumes. Somos essencialmente seres da Luz, oriundos da Samaria espiritual, caminhando pela vida. Gestados para esta vivência carnal, transitamos por esta moradia temporária (Jericó), porto de nossa existencialidade física, onde adestraremos força e inteligência na negociação dos bens temporais para a conquista dos outros valores, espirituais, que necessitamos para preencher o farnel da nossa viagem existencial, em busca de nossa espiritualidade.
AS IDÉIAS SOBREVIVEM QUANDO HÁ PESSOAS CUJAS VIDAS SEJAM A MENSAGEM. Erich Fromm
