O Caminho - Parte 6
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 23/06/2006 12:13:00
Osho nos conduz agora ao sexto vale, onde nos aproximamos do final da jornada que nos levará à superação da dualidade.
Aí vem O Sexto Vale - o vale abismal.
Desaparece-se. No quinto estava desaparecendo; no sexto não mais existe. Desaparece-se, se é apenas memória do passado. No quinto você estava entrando na morte; no sexto, a morte aconteceu, morreu-se, não mais se existe. É por isso que é chamado de “vale abismal". É o mais doloroso, porque é o sexto, o penúltimo. Passa-se pela grande dor de não ser, do nada. Não se pode acreditar - porque em certo sentido, se existe, e num outro sentido, não mais se existe. O paradoxo chegou ao pico definitivo. Existe-se e não se existe. Pode-se ver o próprio cadáver - morremos - e ainda assim, sabe-se que estamos vendo, que estamos resistindo de algum modo, em algum sentido. Todas as idéias do passado do ser se tornaram irrelevantes. Uma nova idéia de ser surge.
A morte acontece, desaparecemos. É isso que os cristão chamam de crucificação. Alcançamos o nada, somos apenas um céu vazio. Os hindus o chamam de samadhi, o povo zen o chama de satori.
E a parte negativa reclama. Será bom relembrar a vocês. Na crucificação, Jesus Cristo mostrou ambas as atitudes. Primeiro ele reclamou. Ele olhou para o céu e disse: "Por quê? Por que o Senhor me desamparou? "Por que o Senhor me abandonou? Esta é a parte negativa. Ele está reclamando. Ele está morrendo e não chega nenhuma ajuda. Ele está na cruz - e bem lá no fundo devia haver um desejo à espreita, um desejo de que a mão de Deus viria e tudo estaria ok, e a cruz se tornaria uma coroa e ele desceria numa nova glória. Em algum lugar devia haver um desejo à espreita, no mais profundo inconsciente de sua mente - ele poderia nem estar consciente dele. Ele esperou suficientemente, a última questão chegou. Ele carregou a cruz nas montanhas, ele sofreu todos os tipos de humilhação, mas ele esperou, esperou pacientemente - esperou por este momento. Agora as suas mãos foram pregadas. É uma questão de segundos e ele terá ido. Não há mais tempo para esperar e a ajuda não veio... e Deus não está visível. Por isso o grito "Porque me desamparaste? Porque me abandonaste”? Esta é a parte negativa, natural até num homem como Jesus.
Se você pensa no seu passado e reclama - "Eu tenho feito tudo o que me foi pedido, tudo o que me foi ordenado fazer. Eu o segui cegamente, e é este o resultado? É esta a realização”?
A parte positiva é gratidão profunda. Com a segunda parte, a parte positiva. esquecemos o passado, olhamos para o futuro e confiamos. O último teste chegou, o teste definitivo, e nos sentimos gratos de que "se for este o seu desejo, seja feita a sua vontade". É isso o que Jesus fez. Ele mostrou ambas as atitudes. Primeiro, ele mostrou a negativa - o que é muito humano. É por isso que ele costumava dizer sempre: "Eu sou o filho do homem". Tantas vezes quantas disse "Eu sou o filho de Deus," ele disse "eu sou o filho do homem".
Ele era a eternidade entrando no tempo; ele era o além vindo para o mundo. Ele pertencia a ambos, o mundo e o além. É como cada mestre se relaciona - com ambos. Um pé está num mundo, o outro pé está no outro mundo. E no dia da crucificação, naquele momento em que tudo estava desaparecendo, Jesus mostrou as duas atitudes. Primeiro ele mostra a atitude de ser "Filho do Homem". Ele diz: "Por quê? Por que me abandonaste? Eu esperei, eu orei, eu vivi uma vida de virtude - e essa é a realização? Essa é a recompensa”?
Mas imediatamente ele compreende que está se perdendo. Se é esse o desejo de Deus, então tem que ser assim. Ele se rende. A parte positiva é gratidão, rendição.
Com "Por que me abandonaste?” ele reconhece a sua queixa, a sua humanidade. Ele deve ter rido naquele momento, ele deve ter visto a sua limitação como ser humano, e jogou-a fora. Imediatamente ele disse, sua declaração imediata: "O reino veio. Assim seja". Agora ele não mais existe. Agora ele não tem desejo próprio.
OSHO – The people of the path.