O Cobrador de Impostos
por Jaime Benedetti em EspiritualidadeAtualizado em 02/12/2003 12:05:41
Histórias de Vidas Passadas
Canalizada por: Maria Silvia
Eu fui um cobrador de impostos, vim de uma família pobre e essa família pobre passou por muitas privações, muitas mesmo, mas meu pai era um homem muito dedicado e um carpinteiro muito habilidoso. Então, quando começaram a construir a grande igreja que iria reunir as pessoas vindas de vilarejos e de cidades, meu pai foi convidado para trabalhar como carpinteiro, sendo de fato muito habilidoso, pois as coisas que ele fazia eram obras de arte e não eram simples entalhes na madeira. Nada do que ele fazia ficava com aparência grosseira ou inacabada.
Ele tinha nas suas obras, na sua atuação, aquele toque de ouro, aquele toque de mídas, então as coisas em que ele punha a mão ficavam realmente muito bonitas e eram muito boas e confiáveis; era tudo muito sólido.
O meu pai foi colocado como chefe de todos aqueles carpinteiros. Ele era um artífice extremamente habilidoso e os padres começaram a negociar com ele, que foi crescendo e prosperando da penúria que a minha família passava quando eu era criança, nós começamos a ser considerados ricos, porque a igreja pagava muito bem, com tributos e com honrarias que muita gente não tinha.
O trabalho do meu pai era extremamente apreciado e eu que era jovem e realmente não tinha mesmo a habilidade dele, fui encaminhado por esses padres que tinham se tornado amigos do meu pai, para trabalhar junto à igreja. Mas não tinha herdado o dom dele. Mesmo sendo filho dele, não me parecia com ele.
Mas precisava trabalhar, precisava de um direcionamento, era jovem e ai me tornei um coletor de impostos, então o dinheiro passava pela minha mão e cada vez mais eu fui me sujando com ele, porque eu não era como o meu pai, pago por um dom, por uma habilidade, por um serviço prestado. Eu era pago para azucrinar a vida das pessoas, eu era pago para tirar o dinheiro da vida das pessoas. Eram às vezes comerciantes simples, eram lavradores, eram viúvas, eram homens que não tinham mais condições de trabalhar e que ainda assim vinham negociar as suas dívidas comigo, porque eu era representante dos padres, eu ficava ali sentado com eles.
Eu não era um padre, eu nunca quis ser um padre, mas eu ficava ali junto com eles o tempo inteiro e eles ali junto comigo, me fazendo endurecer, endurecer, endurecer e eu me sentia aprisionado, era um prisioneiro daquilo, porque ao mesmo tempo em que sempre eu desejei fugir, sair daquela vida, eu nunca consegui, porque o sistema, as pessoas perto de mim eram muito mais fortes e ai comecei a me corromper pelo dinheiro, a me entusiasmar pelas facilidades que o dinheiro podia me trazer, a esquecer da minha origem, esquecer de mim mesmo e foi isso que eu fiz durante toda a minha vida. Eu me tornei uma máquina de cumprir aquela missão, porque não queria ver gente chorando, não queria ver gente sofrendo, não queria ser o alvo de tortura daquelas pessoas, não queria apontar as falhas delas, não queria que elas se justificassem para mim, porque aquilo doía muito em meu coração.
Sempre fui alguém que valorizou o amor, o ser humano e ali o tempo inteiro eu estava com os olhos fechados para não ver quem estava na minha frente e estava tão sofrido que eu me afundava no álcool. Não quis me casar, não quis ter filhos, porque eu não queria que ninguém, que filhos meus, que uma mulher que eu amasse fosse apontada como a família de um cobrador de impostos. Eu tinha muita vergonha de ser o que era, porque não cobrava impostos, e sim cobrava vidas, punia as pessoas, não porque quisesse, ou porque eu sentisse qualquer prazer nisso, mas era a minha função. A minha simples presença fazia mal para as pessoas, fazia muito mal para as pessoas e assim eu fui fechando os meus olhos para não sofrer, para não enxergar o sofrimento que eu causava para o outro.
Eu me sentia vítima desse destino, me sentia aprisionado a uma situação em que não me propiciava uma fuga; me senti muito torturado, muito triste e a única hora em que eu me sentia bem, era quando eu bebia, porque o álcool vinha para mim como uma abertura, um momento em que eu não tinha que pensar mais em ninguém e assim fui envelhecendo na solidão, acompanhado pelo meu complexo e o sentimento de culpa.
E hoje venho me libertando disso, porque tenho que ouvir as pessoas. Hoje eu não tenho apenas que ouvi-las, nem cobrá-las. Hoje eu ouço, eu apoio, eu faço com que elas vejam o lado bom da vida delas, a Luz da alma delas.
Essa é a minha obrigação. Ver o meu lado bom, amar o meu lado bom, incentivar o meu lado bom e fazer a mesma coisa com aqueles que chegam perto de mim. Esse é o meu maior pagamento, essa é a minha maior luz. Essa é a minha oportunidade de redenção.
Eu me sinto como aquele que tirou pesos das suas costas!