O comum e o extraordinário
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 08/04/2020 11:35:01
No início de nossas vidas, somos geralmente direcionados para buscar a excelência, sermos sempre os melhores entre os melhores, pois somente deste modo poderemos sair vencedores num mundo altamente competitivo.
Esta premissa nos leva à ilusão de que é necessário que nos transformemos em seres perfeitos, onde a fragilidade, a dúvida e a incerteza jamais tenham lugar.
Ocorre que o erro, a experimentação e as tentativas, são as únicas maneiras de descobrirmos o caminho onde nos sentiremos felizes e integrados com nossa real natureza.
Entretanto, a insegurança gerada pelo excesso de cobrança paralisa e faz com que nos sintamos incapazes sempre que não obtivermos o topo, o lugar mais valioso, de acordo com os valores do mundo.
O ego, que é direcionado por esta ilusão, faz com que muitos seres humanos não consigam valorizar suas pequenas conquistas, por considerá-las inúteis para obter o reconhecimento alheio.
Enquanto seguirmos determinando nosso valor pelos parâmetros exteriores, será difícil atingir um estado de paz, harmonia e equilíbrio, que nos permita experimentar a felicidade a cada dia, simplesmente usufruindo das inúmeras maravilhas existentes no mundo.
Seguiremos ansiosos, depressivos e insatisfeitos, tentando preencher um vazio que nunca se completa, pois tem como diretriz a conquista de coisas absolutamente ilusórias.
É tempo de, finalmente, reconhecermos que o mais extraordinário objetivo da vida é vivê-la em plenitude, desfrutando de cada momento com total entrega, e a consciência acerca do valor intrínseco que todos possuímos, não por alcançarmos conquistas extraordinárias, mas pelo simples fato de sermos expressões individualizadas do divino.
"O mestre, o jardineiro e o hóspede
...Essa história é linda, uma das anedotas mais belas do Zen. Bankei é um dos Mestres supremos. Mas também era um homem comum.
Certo dia, Bankei estava trabalhando em seu jardim. Um buscador apareceu, um homem em busca de um Mestre, aproximou-se e perguntou a Bankei, "Jardineiro, onde está o Mestre?"
Bankei sorriu e disse, "Espere. Passe por essa porta, e lá dentro você achará o Mestre".
Então, o homem deu a volta e entrou. Encontrou Bankei sentado num trono, o mesmo homem que ele viu cuidando do jardim. O jovem perguntou, "Você está brincando? Desça desse trono. Isso é sacrilégio! você não tem respeito pelo Mestre".
Bankei desceu, sentou-se no chão, e disse: "Assim você torna as coisas difíceis. Agora você não irá encontrar o mestre aqui, pois eu sou o mestre".
Era difícil para esse homem entender que um grande mestre podia trabalhar no jardim, podia ser uma pessoa comum. Ele foi embora, pois não podia acreditar que aquele homem era o mestre, ele não entendeu.
Todos temem ser ninguém. Somente pessoas raras e extraordinárias não temem ser ninguém - um Gautama Buddha, um Bankei. Um ninguém não é um fenômeno comum; é uma das grandes experiências da vida - o fato de que você é, mas ainda assim não é. Que você é pura existência sem nome, sem endereço, sem fronteiras. Nem pecador nem santo, nem inferior nem superior, apenas um silêncio.
Pessoas estão com medo disso porque toda a personalidade delas terá então desaparecido; nome, fama, respeitabilidade, tudo se vai; daí, o medo. Mas a morte vai tirá-las de você de qualquer forma. Aqueles que são sensatos permitem que essas coisas caiam por si mesmas. Assim nada resta para a morte levar. Depois todos os medos desaparecem, pois a morte não pode acontecer a você; já que nada terá restado para ela. A morte não pode matar um ninguém.
Uma vez que você sente essa anulação do ser, você se torna imortal. A experiência de anular o seu ser, de ser ninguém, é o sentido exato do nirvana, do nada, do silêncio absoluto e imperturbável, sem ego, sem personalidade, sem nenhuma hipocrisia. Apenas silêncio - e a sinfonia dos insetos no meio da noite.
Você está aqui de certa forma, e ainda assim não está.
Você está aqui devido à velha associação com o corpo, mas olhe para dentro e verá que não está. E esse insight, essa percepção, onde há puro silêncio e puro estado-de-ser, isso é sua realidade, que a morte não pode destruir. Essa é sua eternidade, sua imortalidade.
Não há nada a temer. Não há nada a perder. E se você acha que perdeu algo - nome, respeitabilidade, fama - estes são sem valor. Estes são brinquedos de crianças, não servem para pessoas maduras. É hora de você amadurecer, hora de você apenas ser.
Seu ser - alguém é tão pequeno. Quanto mais alguém você for, menor é; quanto mais ninguém você for, maior você é. Seja absolutamente ninguém, e você será um com a própria existência".
OSHO - TARÔ DA TRANSFORMAÇÃO.