O Templo da Paz
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 19/02/2009 14:20:22
Durante a história, o povo judeu sempre teve problemas em se fixar à terra. Na prática, isso impossibilitou que eles tivessem um único ponto focal para suas atividades religiosas por mais de mil anos. Desde que a Arca da Aliança foi construída ela ficou alojada numa tenda, em trânsito, e uma vez por ano era levantada uma "super tenda" (tabernáculo) para receber a " (Vejam Êxodo 40:34-38, que mais parece um relato ufológico do que místico.) glória do Senhor(*)".
Por volta de 1050 a.C o Rei Davi, da tribo de Judá, desejou construir uma casa de cedro para Yaveh (YHWH), onde a Arca da Aliança pudesse ficar definitivamente guardada. Mas Yaveh mandou uma mensagem (psicofonia?) através de Natã dizendo pra Davi (De forma irônica, inclusive: `E em todo lugar em que tenho andado com todos os filhos de Israel, falei porventura, alguma palavra a qualquer das suas tribos a que mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: por que não me edificais uma casa de cedro?´(2Sa 7:7))) não fazer isso(*) (não é dito claramente, mas subentende-se que este desejo lhe foi negado em virtude de David ainda ter muitas guerras a travar). Mas, na mesma comunicação, Yaveh esclarece que isso seria permitido tempos depois ao filho de Davi, Salomão, nome cuja raiz remete a "paz" ( (Dessa raiz semítica provém as palavras ShaLoM e SaLaM, ambas significando Paz em hebraico e árabe.) SLM(*)). Isto parece enfatizar a vontade divina de que a Casa de Deus seja edificada em tempos de paz, por um homem íntegro. E assim aconteceu.
Existe uma lenda, contada no livro The legend of the Jews (de Louis Ginzberg), de como Salomão escolheu o local físico para o primeiro Templo:
Por muito tempo, Salomão ficou em dúvida quanto ao local onde construir o templo. Uma voz celestial o indicou que fosse ao Monte Sion à noite, a um campo de propriedade de dois irmãos. Um dos irmãos era um solteirão pobre; o outro fora abençoado com fortuna e uma grande família com muitas crianças. Era tempo de colheita. Na calada da noite, o irmão pobre adicionava grãos à pilha do irmão, por considerar que ele precisava de mais, devido à família numerosa. O irmão rico, da mesma maneira clandestina, contribuía com os estoques do irmão pobre, considerando que, apesar de ter família para sustentar, o outro não tinha meios de subsistência. Salomão, que havia trazido à tona esta manifestação tão notável de amor fraternal, concluiu que este campo era o melhor local para o Templo e o comprou.
Assim, o Templo de Salomão (Beit Hamikdash, ou Casa divina) foi o primeiro Templo em Jerusalém, construído no século X a.C. Foi derrubado pelos babilônios em 586 a.C., e um segundo Templo foi construído no mesmo local. Voltou a ser destruído, desta vez pelos romanos, no ano 70 da nossa era, durante a Grande Revolta Judaica. Só uma parte do muro exterior ficou em pé, segundo a lenda para que os judeus tivessem a amarga lembrança de que Roma os vencera na Judéia (daí o nome de Muro das Lamentações). Os judeus, porém, atribuem isso a uma promessa feita por Deus, segundo a qual sempre ficaria de pé ao menos uma parte do Templo, como símbolo da sua aliança perpétua com o povo judeu. Para os judeus este é o lugar acessível mais sagrado da Terra, já que não podem perambular por onde era o interior do Templo (onde hoje está a Esplanada das Mesquitas, lugar sagrado para os muçulmanos) pelo risco de pisar sem querer no local considerado "o mais santo dos santos", onde apenas o sumo-sacerdote podia entrar uma vez ao ano.
A reconstrução do templo faz parte das orações diárias dos judeus. Enquanto os tradicionalistas tomam isso ao pé da letra (acabar com tudo o que tem no lugar, inclusive as Mesquitas), os místicos interpretam como uma manifestação do plano da consciência de Deus (assim como a volta do Messias). Para eles, a Torah e a lenda de Salomão fornecem uma pista importante: a de que a COEXISTÊNCIA foi um princípio sobre o qual o Templo foi fundado, e que foi preciso PAZ para sua realização; assim sendo, essas são condições básicas para a sua reconstrução. Judeus e árabes habitam o mesmo "campo", e são irmãos. Abandonados à própria sorte pela comunidade árabe, os palestinos são o irmão pobre. Os israelenses são o irmão rico, cuja família recebe "parentes" de todo o mundo. Que algum dia aflore o entendimento e a caridade entre esses irmãos - com ajuda mútua, como na lenda, onde cada um pense mais no próximo do que em si mesmo - para que possa ser possível erguer um TEMPLO DE PAZ neste campo, onde DEUS possa verdadeiramente habitar.
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