Palavras de Chico Xavier - Parte 1
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 12/07/2007 19:08:22
Gostaria de agradecer publicamente a Om Shanti pelos livros que me enviou, de Carlos A. Bacelli. Aproveito pra partilhar o presente com meus leitores, em trechos selecionados que muito me interessaram. O livro que estou lendo é "Chico Xavier, à sombra do abacateiro".
De 1980 a 1985, todos os sábados, habitualmente Chico Xavier realizava um culto evangélico, à sombra do frondoso abacateiro, em pleno coração da Natureza, em Uberaba. Bacelli e colaboradores escreveram, à mão, o que Chico dizia, intuído por Emmanuel. É uma coletânea de frases e lições preciosas ditas a céu aberto, para um público heterogêneo, que incluía desde médicos sedentos do pão espiritual de Chico/Emmanuel, a pobres esfomeados que iam atrás do pão material (distribuído no local). Muito embora Chico (ou Emmanuel, ninguém sabe ao certo) fizesse uma ressalva: "Jesus multiplicou os pães. Nós repartimos as migalhas".
Para os poucos (creio eu) que ainda não sabem quem foi Chico Xavier (no futuro dirão que ele foi apenas uma lenda, como alguns dizem de Buda ou mesmo Jesus), faço aqui um breve histórico, baseado na tradicional e conceituada enciclopédia eletrônica, a Desciclopédia:
Francisco Cândido Xavier (também conhecido pela alcunha de Professor X) é um renomado mutante psicógrafo e também o líder dos X-píritas. Xavier possui a faculdade de ver mortos, ouvi-los, conversar com eles via MSN, adicioná-los no Orkut e receber Torpedos MMS dos mesmos.
Chico teve uma infância difícil, por conta do medo e da incompreensão dos seus poderes, que o levaram a se afastar da sociedade e refugiar-se no movimento punk, como líder da banda Ramones. Pra sobreviver, fazia bicos como Detetive Sobrenatural, resolvendo aqui casos de espíritos que fugiam do Umbral para a Terra.
Já em 1931, Chico Xavier entrou em contato com uma entidade do Ultiverso, conhecida como Emmanuel, que acabou amplificando seus poderes, tornando-o um dos mutantes mais poderosos do planeta. Guiado por Emmanuel, Xavier devotou a sua vida a ensinar os mutantes a lidar com os seus poderes, ajudando mutantes, mortos e humanos normais a coexistirem sem medo.
Agora que já conhecemos melhor este fenômeno mediúnico, vamos aos trechos de suas palestras à sombra do abacateiro:
Sobre as reuniões espíritas
Chico principiou afirmando que "durante trezentos anos quase, os cristãos se reuniam ao ar livre. (...) O Sermão da Montanha, o documento mais importante da humanidade, não foi produzido entre quatro paredes; mas sim, ao ar livre, junto daqueles que são os herdeiros do Evangelho, que somos nós todos, através dos tempos". Aproveitou então para se referir às reuniões de caráter elitista. Ultimamente, Chico vinha se preocupando muito com o elitismo que grassa nas fileiras espíritas, não deixando passar a oportunidade de alertar quanto ao mesmo erro em que incorreu o Cristianismo ao metamorfosear-se em Catolicismo. Ele acrescentou que as "reuniões fechadas" são também necessárias, mas carecemos ir de encontro aos mais simples "para que todos saibam, e nós também, que somos irmãos uns dos outros. (...) Quando desencarnarmos, encontraremos com a família da idéia, do coração..."
Repetindo que, na essência, somos todos irmãos, Chico advertiu-nos em nome da Espiritualidade Superior: "O cumprimento do dever estabelece a diferença; igualdade absoluta só existe na origem e na chegada. (...) Os mais fortes são chamados para ajudar os mais fracos; os que têm mais saúde podem ajudar os doentes..."
E falou que as reuniões "fora de nossas especificidades são boas e necessárias...", pela aproximação real que promovem... pelo formalismo que é posto de lado...
"Temos o (A bem da verdade, o percursor foi Sócrates, por volta de 400 antes de Cristo, na Grécia.) precursor do 'céu aberto'(*) em Jesus Cristo, que ensinou nas praças públicas e deixou o Sermão da montanha em pleno ar livre, falando a milhares de pessoas de todas as condições, ensinando o amor, a misericórdia, a brandura, a paz. O Sermão da montanha representa para muitos dos estudiosos do progresso humano o maior documento da humanidade, no qual Jesus nos ensinou, sobretudo, a despertar o nosso coração para o amor, e Allan Kardec prosseguiu nessa tarefa doando-nos O livro dos espíritos, que contém os ensinamentos do amor".
"Jesus ensinou em barcos emprestados, ensinou em bancos públicos, nas praças em que comparecia, nos montes, nos lares de companheiros... A única propriedade de Cristo foi a cruz. Não se fala de uma casa do Cristo, de um território do Cristo, mas a Cruz do Cristo é muito recordada".
Sobre a aflição (stress)
"À medida que a Providência Divina determina melhoras para nós, na Terra inventamos aflições. (...) Para cultivar o solo temos o auxílio do trator, antes só possuíamos carros-de-bois. Hoje, temos veículos motorizados encurtando distâncias, mas não nos contentamos com os 80 km/h; antes, andava-se a pé. Hoje, a geladeira conserva quase tudo; antes, plantava-se canteiros..."
Fala então do conforto em que o homem vive e do seu comodismo espiritual:
"É que precisamos de contentar-nos com o que temos; estamos ricos, sem saber aproveitar a nossa felicidade. Antes, as pessoas idosas desencarnavam conosco, hoje as mandamos para os abrigos. Tínhamos um pouco de prosa durante o dia, a oração à noite. Agora inventamos dificuldades e depois vem o complexo de culpa e vamos para os psiquiatras. (...) Se estamos numa fila e uma senhora doente nos pede o lugar, precisamos cedê-lo. Recordemos-nos da prece padrão para todos os tempos que é o Pai Nosso, quando Jesus nos diz: O pão nosso de cada dia... Por que acumular tanto? Existem pessoas que possuem 35 pares de sapatos; onde é que irão arrumar 70 pés?! (...) Estamos sofrendo mais por excesso de conforto do que por excesso de desconforto. Morre muito mais gente de tanto comer e de tanto beber, do que por falta de comida. (...) A inflação existe, porque queremos o que é demais..."
E conclui:
"Esta é a opinião dos Espíritos. Perdoem-me se eu falei mal, mas se eu falei mal, falei, foi, de mim."Paciência
"...Apenas uma lembrança do nosso Benfeitor Emmanuel. Ele me pede para recordar um item sobre a lição da paciência que nunca me havia ocorrido antes: paciência que nasce do verdadeiro amor pregado por Jesus, a paciência com a felicidade dos outros! Felicidade de um adversário de nossas idéias; às vezes, criamos dificuldades em torno da pessoa que se sente feliz num modo diferente do nosso. Estamos falando das pessoas operosas, que servem ao Bem".
"Então, é muitas vezes um filho que queremos que seja advogado, mas ele se sente feliz sendo lavrador... Por que, então, impor-lhe a obrigação de estudar ciência, em livros, a pretexto de ser feliz como queremos?! De outras vezes é o casamento... Por que é que procedemos dessa maneira se o nosso filho ou nossa filha estão felizes com esse tipo de união?! Doutras vezes, é um amigo que recebe uma casa... meu Deus, por que fulano ganhou a casa e não eu?!
Devemos sentir a felicidade de ter os nossos amigos felizes.
A felicidade deve reinar com todos e para todos.
A felicidade é um patrimônio que deve pertencer a todos.
Quantas vezes teremos perdido grandes oportunidades para aproveitar as lições da vida, quando nos deixamos perder pela inveja, pelo ciúme, pelo espírito de antagonismo... Todos podemos ser alegres dentro do nosso próprio lugar. Muitas vezes temos errado pela falta de paciência com a felicidade dos outros, especialmente com aqueles que estão convivendo conosco no cotidiano.
Se o nosso amigo está feliz, se o nosso irmão está feliz com determinado caminho, peçamos a Deus alegria, ainda que tenhamos pensamentos negativos a respeito da escolha deles, porque também queremos respeito para as nossas escolhas. Quantos suicídios e quantas fichas de Sanatório não existem por falta de paciência com a felicidade dos familiares?!
Deus não dá Xerox. Cada um é um mundo por si".
Sobre a palavra
"As palavras são uma rede de seda, através das quais nos escondemos, mas quem nos conhece nos vê".
Trabalhar e esperar
Chico Xavier contou uma lenda hindu, em que dois irmãos desejavam conquistar a pureza, seguir a trilha dos Mahatmas:
Combinaram que, depois de vinte anos, ambos deveriam encontrar-se naquele mesmo local.
Cada qual seguiu o seu caminho.
Um se isolou do mundo, mergulhando na meditação e na prece.
O outro voltou para casa, lutando com as dificuldades naturais da família.
O tempo correu.
Vinte anos haviam se passado, quando os dois irmãos, fiéis à palavra empenhada, reuniram-se no mesmo lugar.
O primeiro, o que se havia isolado, não reconheceu o segundo, tal o estado deplorável de imundície em que se encontrava; estava sujo, rasgado, seguido por um grande séqüito de necessitados...
O primeiro exibia uma túnica muito alva e refletia grande segurança.
Depois de se identificarem, foram à presença de um Anjo do Senhor, que somaria as dúvidas quanto ao aproveitamento de ambos, nas lutas da Vida.
A escolha recaiu sobre o segundo, o que havia voltado para o convívio familiar, expondo-se às tentações.
"Mas, Anjo Bom - disse o primeiro - eu alcancei a pureza máxima, ao passo que o meu irmão traz o joelho ralado pelas sucessivas quedas... Eu consegui atravessar o Ganges sem sequer tocar os pés na água...".
O Espírito iluminado, depois de ouvi-lo, falou, melancolicamente:
"Ah! meu irmão, para atravessar o Ganges sem molhar os pés, bastaria que você construísse uma pinguela!"
A lição nos tocou bem fundo a alma.
Com a prece final, fomos todos dar o nosso abraço de amizade aos irmãos que nos aguardavam, na certeza de que o melhor processo de avançar será sempre trabalhar e esperar.