Planeta X, Nibiru e 2012
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 04/12/2008 16:48:25
O dia 14 de outubro passou, os ETs não vieram, e agora os que não conseguem viver sem uma data apocalíptica (ou histórica), marcada no calendário, voltaram suas atenções para 2012. Isso porque, desde a popularização do Calendário Maia, 2012 é um prato cheio para especulações (algumas até embasadas cientificamente, como a possibilidade de uma grande tempestade solar). Só que o povo esquisotérico não sabe viver com um "pânico moderado" (tipo "ok, existe a possibilidade de um cometa desconhecido se chocar com a Terra; existe a possibilidade de ficarmos sem energia elétrica por semanas, mas não sabemos de nada ao certo"), é tudo ou nada, ou seja, "a Terra VAI acabar e o destruidor já está chegando!!! Arrependei-vos! Corram para os montes!" Embora eu ache que alguma coisa vai acontecer em 2012, é preciso manter os pés no chão! Nenhuma data apocalíptica marcada com antecedência aconteceu até hoje, então, por que aconteceria inexoravelmente agora?
Eu estudo esse assunto desde os 14 anos, fui um dos primeiros a falar sobre o Planeta X (no antigo X-files, da finada Acidpage), já acreditei em muita bobagem e confesso que alimentei muito da paranóia em torno disso (tem várias versões do primeiro artigo rolando por aí); já fiz um post mais recente, aqui mesmo no Saindo da Matrix; já esperei o fim do mundo pra 1999 (Nostradamus, e tal), depois em 2001 de novo, e ele (o mundo) teimou em não acabar. Então aprendi a separar as baboseiras dos fatos (e os fatos são apenas históricos e culturais, pois a parte científica é mínima) e aumentar minha visão crítica, pra não cair em qualquer coisa que escrevam por aí (como eu acreditei na época). E se preparem, pois vai ter um post cobrindo a chegada do Planeta X em 2012, quer ele venha ou não!), e o que está rolando nos canais esotéricos atualmente é muito mais baboseira do que informação.
Quando você trata de coisas como discos voadores ou crop circles, tanto faz você pedir a opinião de um astrofísico ou cartomante, pois ambos, por profissão, não dominam o assunto. Mas quando se trata de PLANETA, seja ele hipotético ou não, a opinião de um astrofísico ou astrônomo é indispensável. E aqui vai uma resposta bem embasada a toda essa paranóia, no artigo escrito pelo físico Renato Las Casas para o Portal Uai:
Nos últimos dias, várias pessoas vieram me perguntar sobre "Nibiru e o Fim do Mundo".
Sobre o Fim do Mundo, nós, astrônomos, temos o que dizer. A ciência hoje admite mais de vinte possibilidades para o fim da humanidade, sendo várias delas com origens astronômicas. Vejam, por exemplo, nossos artigos "Apocalipse" e "O Fim da Humanidade".
Sobre Nibiru, tivemos que pesquisar...
Tem sido muito visualizado no "YouTube" um vídeo que especula sobre a aproximação de um planeta de nome Nibiru ao nosso planeta Terra em 2012. Como conseqüência dessa aproximação teríamos o fim da Humanidade.
Aparentemente está nesse vídeo a origem do grande interesse que as pessoas têm manifestado sobre Nibiru e o Fim do Mundo. A origem dessa estória (teoria?) estaria na interpretação dada por Zecharia Sitchin a alguns escritos dos antigos sumérios.
O vídeo do YouTube passa muito longe de qualquer compromisso com a seriedade. Nele, imagens e fatos astronômicos e científicos são usados equivocadamente (por desconhecimento do autor do vídeo ou para "vender o peixe"?). Logo no início, o autor nos fala que, em 1982, a NASA reconheceu a possibilidade da existência de mais um planeta no Sistema Solar. Essa questão, evidentemente, passa pela definição da palavra planeta, porém, quem, já há décadas, não reconhece a possibilidade de existência de inúmeros corpos orbitando o Sol com órbitas além da órbita de Netuno? Temos mesmo teorias que nos levam a crer na existência de duas regiões "cheias" desses objetos (O Cinturão de Kuiper e a Nuvem de Oort). Seriam objetos de tamanhos os mais variados, mas acreditamos que muito dificilmente encontraremos algum do tamanho de nosso planeta ou, pior ainda, do tamanho de Júpiter (no vídeo, mais na frente, dirão que o pretenso Nibiru é do tamanho de Júpiter). Além disso, não acreditamos que algum desses corpos possa ter órbita que o aproxime significativamente da Terra, como teria o Nibiru descrito nesse vídeo.
Em seguida, o autor nos fala do lançamento do IRAS, ocorrido em 1983, procurando relacioná-lo à constatação da possibilidade de existência de planetas ainda desconhecidos no Sistema Solar. O autor mostra aí um grande desconhecimento da astronomia. Mesmo se o intuito foi o de "vender o seu peixe", por que usar o IRAS para isso? Além do fato de já haverem sido lançados telescópios espaciais muito mais modernos e poderosos que o IRAS, esse seria inadequado para o trabalho de detectar novos planetas. O IRAS foi projetado para trabalhar na faixa do espectro eletromagnético conhecida como "infravermelho" (ele só "via" nessa faixa do espectro) que é muito boa para ver nuvens de poeira (por exemplo), mas completamente inadequada para a descoberta de um planeta com as características do Nibiru descritas no vídeo.
Pouco mais à frente, o autor fala da descoberta feita por um telescópio orbital (qual?) de um corpo descoberto na direção da constelação de Órion, possivelmente tão grande quanto Júpiter e tão próximo da Terra que deva fazer parte de nosso sistema orbital. Desconheço tal descoberta.
Em seguida, o autor apresenta uma determinada imagem, induzindo o internauta de boa fé a acreditar ser essa uma imagem desse pretenso objeto, para depois afirmar convictamente baboseiras do tipo: "...esse objeto irá destruir a Humanidade; os governantes sabem, mas escondem da população...".Mais na frente, em uma seção intitulada "O que é Nibiru?", o autor nos apresenta esse planeta como pertencente ao sistema de uma estrela "anã marrom" que de 3.600 em 3.600 anos se aproximaria do Sol, levando Nibiru a se aproximar drasticamente da Terra. Acredito ser esse cenário muito pouco provável. Colisões entre estrelas (ou aproximações colisivas como as descritas) não apenas são muitíssimo raras no universo, mas se já houvessem acontecido com o Sol, teriam nos deixado marcas inconfundíveis (não apenas em nosso planeta como por todo o Sistema Solar).
O autor também nos fala que a NASA estaria estudando esse objeto a partir de um telescópio localizado no Pólo Sul. Será que ele se refere ao SPT ("South Pole Telescope")? Esse telescópio foi inaugurado no início do ano passado. Assim como o IRAS, esse telescópio seria completamente inadequado para a detecção do pretenso Nibiru. Ele foi projetado, com objetivos cosmológicos, para detecção de radiação na faixa de microondas.
O video segue com mais baboseiras recheadas de imagens da NASA que, por não terem relação direta com o assunto, revelam que o autor não as compreende ou as usa com má intenção. São apresentadas também fotos absurdas de Nibiru ao pôr do Sol. Será que o autor não pensou que até mesmo uma criança não pensaria: - Se esse planeta foi fotografado por uma simples máquina fotográfica, então ele pode ser visto por todo mundo que tem um pequeno telescópio, ou binóculo, ou mesmo a olho nu?!
O vídeo finaliza nos dando a data fatídica: Em dezembro de 2012, o Nibiru passará pela eclíptica (plano da órbita da Terra) e dará início à destruição, que virá na forma de terremotos, maremotos, etc. O pior acontecerá em 14 de março de 2013. Dois terços da população da Terra será dizimada.
De concreto, sabemos que nada é eterno! Temos fortes razões para acreditarmos que o próprio Universo teve um início e deverá ter um fim! A Humanidade (algo muito recente na história do Universo) também deverá ter um fim!
Como falei no início dessa coluna, a ciência hoje admite mais de vinte possibilidades para o fim da humanidade, sendo várias dessas possibilidades com origens astronômicas. (As possibilidades que hoje mais me afligem são as de autodestruição!) Quanto mais conhecermos essas possibilidades, menos ficaremos sujeitos a elas! Mais longa será a nossa existência! Nos perpetuarmos! - Será esse um dos principais objetivos da Humanidade?
* Renato Las Casas é professor do Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas e Coordenador do Grupo de Astronomia da UFMG