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Plano de ação de primavera

por Adília Belotti em Espiritualidade
Atualizado em 10/11/2006 11:28:36


Tradicionalmente, a primavera é tempo de renovação. Vai-se embora o velho, seja bem-vindo o novo... mas como é que a gente pode entrar nesse clima? Como é que você vive a primavera?

Na pontinha do ar já faz calor e a chuva lava sem parar o verde recém-nascido... Mesmo vista assim, da janela, a primavera impressiona. Impossível não se sentir tocada pelo vigor da mudança e pela promessa que se esconde em cada folhinha verde, no canto alvoroçado dos passarinhos, na faceirice das flores. Tudo nesse tempo grávido parece falar de renascimento, de possibilidades inimagináveis de renovação...

Rituais antigos de primavera
Não é fácil viver a primavera. Os antigos sabiam. Os rituais de fertilidade que saudavam a estação tornavam todos os humanos co-responsáveis pela gestação da vida. Mas havia que olhar sem medo para os inícios misteriosos e honrar o tempo de fecundar a Natureza: nas festas das aldeias, os jovens se enfeitavam para as núpcias e se uniam nos campos; as mulheres menstruadas aspergiam a terra com seu sangue e o casamento sagrado era mais uma vez reencenado nos templos; a dança e o transe marcavam o ritmo da orgia, enquanto o universo explodia num formidável orgasmo...
Não participar era insensato. “O desrespeito pelas manifestações da energia vital que fluía na natureza poderia interromper o ciclo”, explica David Suzuki, no livro Wisdom of the Elders. E romper o delicado equilíbrio que existia entre todos os seres.

Para viver esse tempo em harmonia
Não é fácil viver um tempo assim, de mergulhar no novo, na vertigem do “ainda não vivido”...

Por isso, aproveitei a chuva para imaginar um plano de ação que me fizesse chegar mais “redonda” no Natal. Veja o que você acha e me conte, lá embaixo, nos comentários, o que você vai fazer esse ano para viver sem medo a primavera...

Cultivar a valentia. E ousar uma coisa aterrorizante por dia. Essa é uma receitinha que li não sei mais onde há um tempão e achei altamente estimulante. Dizer sim para as pequenas coisas que fazem você sair da tal “zona de conforto”, aquele cantinho psíquico onde a gente se refugia para não sofrer, não arriscar, não experimentar. Vale desde abrir os olhos na montanha-russa até dizer um “não” bem merecido, daqueles há muito escondidos na gavetinha perfumada da boa moça que a gente aprende a ser...

Cuidar de mim. Sem culpas, mas também sem autoindulgência que o cuidado de si não fica guardado nem na geladeira nem na despensa, nem no bar, nem no shopping... ah, e muito menos no armário de remédios! Para quem queria alternativas fáceis, melhor procurar em outros lugares... imagino que se eu fosse a babá amorosa de mim mesma acho que eu me levaria para longas caminhadas pelo parque de manhãzinha, e iria garantir espaço na agenda para a aula de yoga na sala ensolarada da Surya, aprovaria banhos de banheira perfumados e, quem sabe uma vez por semana, uma massagem ayurvédica para acordar o corpo... se eu fosse essa babá carinhosa, eu me embalaria toda noite nas bênçãos do dia, nada muito complicado, que o carinho consigo mesma nasce de coisas pequenas...

Comer devagar. Sim, slow food, já tenho até uma bandeira. Reunir a família e os amigos e passar algumas horas cozinhando sem pressa, e, depois, comer devagar, saboreando o momento, é, com certeza, minha idéia pessoal de “boa vida”. E se ainda o encontro acontecer fora de casa, numa mesa de jardim com toalha absurdamente florida e se um solzinho teimoso insistir em chegar junto da sombra fresca onde as pessoas comem, bebem e riem e se tiverem crianças passarinhando em volta e se o vinho tiver cheiro de musgo... a felicidade não deve ser nada tão maior do que isso...

Namorar. Esse estado intra-uterino do amor, tem tudo a ver com a primavera. Às voltas com os desajeitos dessa gestação, os namorados ainda nem sabem se amam um ao outro ou se estão apaixonados pela própria idéia de amor. E afinal nem importam as certezas, que o namoro é feito de expectativa e de experimentações. Que gosto tem a boca do outro? O que é isso que é dele e me faz rir ou desejar que ele fique só mais um pouquinho? Relacionamentos antigos, é verdade, podem perder esse frescor dos inícios. Mas é primavera, e vou vestir meu amor de verde claro e azul cor de anil, e vamos passear de mãos dadas – como é mesmo o desenho das mãos dele? – olhando para a Lua, trocar ao menos um daqueles selinhos apressados por um beijo de verdade e buscar no seu olhar a memória do primeiro encontro...

Recuperar o tempo. Frase esquisita essa... porque, de fato, a gente nunca perde o tempo, estamos sempre mergulhados nele. Nem existimos de outra forma. O que fica perdido na correria do cotidiano é a percepção dos fragmentos de tempo que compõem nossa vida. Deixamos largados pelo caminho infinitos pedacinhos de nós, feitos de horas, minutos, segundos... Não prestar atenção nesse instante que é tudo que nós temos de mais nosso parece mesmo um tremendo desperdício...
Vou mergulhar neste tempo de primavera, amigas, ainda não sei bem como, mas vou e volto para contar...

Para saber mais sobre Slow Food, navegue por aqui
Se você mora em São Paulo e quiser conhecer a tal sala ensolarada da Surya Yoga
Nos EUA e no Canadá, recuperar o tempo é assunto de importância nacional. No site do Time Day você descobre como
Navegue por esse blog excelente (pena, eu sei, é em inglês!) e aprenda a fazer o tempo parar.
Para recuperar o prazer de jantar em família, visite essesite.


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adilia
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM.
Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma.
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