Tal Pai, Tal Filho
por Izabel Telles em EspiritualidadeAtualizado em 21/07/2003 11:29:35
Agosto chega para nos lembrar sobre o dia dos pais. Como se fosse preciso um dia para lembrar quem somos e de onde viemos.
Nosso pai (e nossa mãe, claro) é nossa matriz, é nossa semente, é nossa origem. O que a presença, ou não de um pai faz pela vida de seus filhos é marcante e definitiva. Um trabalho de uma vida toda não basta para apagar esta marca.
Recomendo a todos assistirem a um filme chamado A Última Ceia. Não pelo filme em si mas por apenas uma cena. Um filho atormentado, aniquilado, diminuído e recorrentemente ofendido pelo pai, senta-se em frente a ele (são ambos policiais), e fala: Diga, pai, diga agora aquilo o que sempre quis me dizer: diga que me odeia. O pai vira-se com a cara crispada de ódio e diz com todas as palavras:
- Eu te odeio!
O filho vira-se mansamente para ele e diz com dor e melancolia:
- Pois eu sempre te amei.
E dá um tiro no próprio peito.
Simbolicamente é isso que acontece muitas vezes quando o pai não diz ao filho o quanto gosta dele, o quanto ele é importante na vida dele e o quanto, no papel de pai, ele gostaria de estar ao lado do seu filho para acompanhar seus caminhos, suas escolhas e o seu desenvolvimento.
Mas alguns pais tem dificuldade em amar seus filhos. Especialmente seus filhos homens. Amam suas filhas e demonstram claramente este amor. Mas aos filhos homens, espelhos de sua própria imagem, nem uma gota de afeto é demonstrada e uma enxurrada de cobranças, julgamentos, avaliações e ordens, pairam no ar durante toda uma vida.
Convido estes pais e darem comigo uma espiadela na mente destes filhos punidos e aniquilados por uma expectativa brutal e ignorante de que eles sejam os homens brilhantes que muitos pais não conseguem ser.
Nesta projeção maluca de que o filho seja tudo aquilo que o pai não conseguiu ser, este indivíduo marca a ferro e fogo na mente de seu filho a imagem de um burro que anda de cabeça baixa, de um ser do tamanho de um dedal que não consegue olhar o mundo de frente, de um homem que tem a cabeça cortada, literalmente sem cabeça, de um homem amordaçado vivendo dentro de uma masmorra, ou mesmo a imagem de um menino nu, apavorado, andando num cavalo que é chicoteado por um adulto vestido com um uniforme militar que açoita impiedosamente mais e mais o cavalo.
Ao querer projetar seu filho para a fama e o sucesso, um pai pode, através da negação, jogar este filho para o mundo dos perdedores emocionais onde eles teimam em ser eternas crianças que não crescem e que precisam continuar a brincar com carros, armas, drogas e pessoas para se sentirem poderosos e potentes. Poder e potência que seu pai precocemente lhe roubou quando negou veementemente a possibilidade deste filho ou desta filha serem seres iluminados e capazes, cidadãos livres para escolher o caminho que mais os faz felizes.
Quantos homossexuais sofrem, e se destruem porque não são aceitos pelos pais, ou pelo pai, ou pela mãe. Quantos saem de casa precocemente para viver uma vida miserável de abandono e amarguras e doenças porque, em suas casas, são vistos como monstros e anormais muitas vezes por aqueles que os trouxeram ao mundo.
Quantos brilhantes filósofos, músicos, cientistas, são hoje médicos, advogados frustrados porque tiveram que viver a vocação e as expectativas do pai ou da mãe, afastando de seus mundos suas reais vocações porque elas não estavam alinhadas com aquilo que seus pais sonharam para seus filhos.
Quantos jovens não choram na minha frente porque seus pais se recusam a pagar uma faculdade de cinema ou artes porque “isso não tem futuro, não dá dinheiro”, segundo a opinião deles.
Pai, se você se identifica com estas palavras, eu, no lugar dos seus filhos, imploro de que mude imediatamente seu comportamento com seus filhos.
Veja, nos Estados Unidos o exemplo da família Bush: tal pai, tal filho. Igualzinho. Um seguindo o caminho do outro como uma matriz marcada em papel carbono.
Saiba que seu filho vai sempre copiar seu modelo: por imitação ou por rebeldia: ele estará querendo sempre chamar sua atenção, ganhar sua confiança e acima de tudo OBTER SEU AMOR.
Deixe que o amor jorre pelas suas palavras e pensamentos. Incentive seu filho a amar, a perdoar, a construir um mundo do confiança e compaixão.
Dê o exemplo todos os dias. Não fale mal dos outros, não seja preconceituoso, não julgue seus colegas. Permita que os sentimentos reais dos seus filhos penetrem no seu coração e procure sentir a pulsação do coração deles. Respeite as diferenças entre vocês, agradeça a refeição que vão usufruir, abrace e beije seu filho, transmitindo a ele o afeto, o respeito, a consideração.
Não são os políticos que vão mudar o mundo. Nós nem precisamos deles. Somos nós - cada um, individualmente - que podemos trazer para nossos lares os valores que o Planeta perdeu. Pelo nosso exemplo de vida vamos formando nossos filhos e nossos netos que, através de seus comportamentos vão formando um grande nação.
De que adianta condenar a violência do mundo de fora se ela está presente no mundo de dentro de nossas vidas.
Pai, peço que reflita sobre a qualidade de amor que tem dado aos seus filhos, imaginando sempre que somos apenas a continuação daquilo que você - pai - é, ensina, vive e transmite.
Pai, amo você.
E para comemorar este dia, proponho um exercício com imagens mentais para ser feito durante 21 dias sempre ao acordar. Antes de começar o exercício pense no seu filho (ou filhos), com quem precisa se harmonizar. Leve sua atenção para a intenção do exercício que é:
EXERCÍCIO DO NOVO CAMINHO
Sentado, com os pés apoiados no chão, olhos fechados, respire três vezes longamente e veja, sinta, perceba ou imagine-se abraçando fortemente seu filho. Diga a ele palavras amorosas e ouça dele palavras amorosas. Compartilhando o perdão e um novo pacto de paz entre vocês, respire abra os olhos.
Nota: se tiver mais de um filho com que quer harmonizar, faça um exercício para cada um. Não ponha todos no mesmo exercício.