Terri, O direito de Morrer
por Wilson Francisco em EspiritualidadeAtualizado em 29/07/2005 13:10:43
O Estadão noticiou em 16 de junho de 2005: “A autópsia confirma: Michael Schiavo, estava certo. Terri, sua mulher, não tinha a mínima condição de sobreviver, embora até agora os pais contestem”. O que agitou a opinião publica foi um vídeo apresentado pelos pais e que mostrava Terri sorrindo e virando a cabeça para o lado da mãe.
Segundo o patologista Stephen Nelson, “O dano cerebral constatado na tomografia computadorizada, era irreversível e nenhuma terapia teria regenerado a perda maciça de neurônios e ela não seria capaz de formar nenhum pensamento cognitivo”, explicou.
Recentemente, foi aprovada uma Lei que permite ao paciente, quando consciente, ou parentes próximos, responsáveis pelo mesmo, determinarem a retirada de aparelhos em casos de comprovada morte encefálica.
Antonio Eduardo é um grande amigo meu, deixou o corpo vítima de câncer. Viajávamos muito para Uberaba e foi através dele que pude estar pessoalmente com o Chico Xavier. Acompanhei sua estadia no hospital e quando a gravidade do estado de saúde aumentou, tendo que ser aplicada morfina, seu irmão, médico, veio falar comigo e com a Maria. Como médico, seu procedimento seria sedar bastante o paciente para evitar sofrimento e induzir a falência dos órgãos, o que daria como conseqüência a morte. Mas como irmão e sabendo da convicção espírita dele, perguntou qual seria a opinião dos Espíritos. Minha mulher entrou em sintonia com a equipe espiritual e a sugestão foi que ele reduzisse a medicação, restaurando a consciência do irmão, para saber do próprio o que ele desejava. E o Antonio Eduardo decidiu que preferia não sofrer mais. Logo depois dessa nossa conversa, a enfermeira estava no quarto e constatou que o tubo de oxigênio estava avariado e entupido. Ficamos observando e entendendo o fato. Alguém do “lado de lá”, por certo, estava dando um jeito de fazer o desligamento sem comprometer tanto o irmão do Eduardo. A moça saiu para trocar o aparelho e a Maria me falou, baixinho. - Wilson, os Espíritos estão aproveitando esse “problema” no aparelho, para desligar o Eduardo e naquele instante eu vi uma espécie de neblina saindo do seu corpo. Era o sagrado momento da morte. Quando a enfermeira voltou, o fato estava consumado. Ele estava morto. Descemos para o salão para onde ele seria levado. O pessoal do hospital cuidou da arrumação e o levou para lá. Ao lado do caixão, sua filha Carla conversava chorando com ele, olhando seu rosto imóvel. A Maria falou para ela. - Carla, converse com seu pai, olhando para frente. Ele está aqui de pé, sorrindo para você. Foi um momento de emoção e paz.
Nelson era o marido de minha prima Justina, tendo deixado o corpo faz algum tempo. Acometido por um AVC (acidente vascular cerebral - ou simplesmente derrame), ele perdeu as condições básicas de vida, ficando sem qualquer sinal de consciência, ou seja, apenas com vida vegetativa, como a Terri. Viveu assim, deixando o corpo após dois anos.
Em todo esse tempo, sua mulher não cogitou de pedir aos médicos alguma atitude, ao contrário, cuidava dele com um carinho e atenção que eu nunca vi na minha vida. Se saía de casa voltava rapidinho, para dar a comida (na sonda) ou para trocar a roupa dele, dar banho, etc. e tal. E ele ali imóvel, sem nada dizer ou perceber. Ela fazia tudo sem reclamar, com muita alegria, apesar de sentir que dificilmente ele pudesse voltar a ter uma vida normal.
Sem saber, a Justina praticava aquilo que Albert Schweitzer ensinava: agir com amor pelo amor, não procurando recompensas nem resultados. Ele fizera muito isso, na África. Construiu hospitais e ensinou os nativos a respeito do trabalho e da higiene, mesmo sabendo que pouco ou nada teria de resultados práticos.
Como se diz popularmente, cada caso é um caso e não queremos aqui comparar atitudes, até porque a consciência de cada criatura é o seu mestre e seu deus. A Justiça Divina, entendo eu, não interfere, não julga, nem pune ninguém. Todo esse processo surge de nosso coração e cérebro. Elaboramos nossos destinos e criamos nossa felicidade ou infelicidade, na medida de nossas intenções, pensamentos e atitudes.