Tirando a venda dos olhos... e seguindo o coração...
por Rubia A. Dantés em EspiritualidadeAtualizado em 08/04/2020 11:35:07
Somos bombardeados o tempo todo com regras e maneiras adequadas de agir que, se o que somos não se enquadra a essas regras, escondemos aquilo para não sermos descobertos por aqueles que julgamos mais sábios ou mesmo por aqueles que fazem parte de um grupo que queremos pertencer. Para pertencer a esse ou aquele grupo acreditamos, erroneamente, que, todas as coisas que não estão de acordo com as regras e conceitos daquele grupo são erradas, são coisas ruins.
Na busca da espiritualidade, quando isso envolve pertencer a uma religião ou a um grupo, é humanamente impossível que todas as regras e condutas ditas "boas" por aquele grupo sejam o que representa a nossa verdadeira essência.
E por medo de não sermos considerados bons o suficiente para fazer parte daquele grupo, taxamos de negativas as partes nossas que não se adequam àquelas regras e tentamos reprimir e esconder essas partes ou comportamentos. Muitas vezes, as partes que não se adequam as regras podem ser nossas melhores partes, porque podem falar de liberdade, de buscar mostrar o que temos de mais genuíno de mais puro... e cometemos um crime contra a nossa integridade quando, para seguirmos os valores do outro, negamos os nossos mais verdadeiros valores... aqueles que vêm da nossa natureza mais pura, mais selvagem. Selvagem no sentido de que ainda não foi domada.
Assim como um animal que ainda não foi domado e que ainda não consegue ficar preso e obedecer ao domador, existe em cada de um de nós partes que se rebelam contra o controle e contra tudo que quer nos fazer diferentes de quem somos... ainda bem que temos essa rebeldia, essa parte selvagem que nos mobiliza a ir além de tudo que quer nos prender e limitar... mesmo que ela pareça adormecida e sem força, e mesmo até que pareça morta, essa parte da nossa natureza está sempre pronta a nos apoiar e a ir contra ao que querem nos impor se damos um brechinha para que ela se manifeste...
Se ousamos questionar as autoridades que as crenças e religiões nos impõem... e se não aceitamos mais o que nos é falado, mesmo que isso venha da mais alta autoridade, isso é um sinal que nossa natureza mais selvagem está pronta para nos ajudar nessa guerra que travamos com a gente mesmo... uma parte que quer seguir e obedecer ao outro e a outra parte que quer "Ser".
Por que sempre temos que obedecer sem questionar... será que tudo que seguimos à risca resistiria a um olhar mais lúcido e a um questionamento um pouquinho mais aprofundado?
Por que temos que negar o que somos para fazer de conta que somos o que não somos?
Sabemos que o único caminho é nos conhecermos... mas, como podemos nos conhecer se nos impõem tantas regras do que é certo e errado e se nos pedem para deixar morrer em nós o que consideram errado, mesmo que isso seja uma parte viva e genuína de quem somos...
Geralmente, quando entramos para algum grupo, é porque alguma coisa ali nos faz bem e bate como verdade... mas a partir daí, ou por preguiça... por medo... ou mesmo por acreditar que existem coisas que não podem ser questionadas vamos engolindo tudo que vem dali... Até que um dia passamos a ser facilmente controlados... ou, por um lapso de lucidez ousamos questionar o que estamos seguindo, por seguir... Na verdade não deveríamos seguir nada por seguir... ou por que vem de alguém muito especial, ou seja por que for...
Chega um ponto em que precisamos tirar a venda dos olhos e ter coragem de caminhar guiados pelo nosso próprio coração... e nesse ponto pode ser que muita coisa que acreditávamos e que tínhamos como muito sagradas e verdadeiras caiam por Terra... provocando uma verdadeira reviravolta no que era verdade até então... Mas é no meio desse caos, que nossa natureza selvagem nos mostra que está bem viva e sempre pronta para nos guiar em busca do nosso verdadeiro Ser...
"Não importa a cultura pela qual a mulher seja influenciada, ela compreende as palavras mulher e selvagem intuitivamente. Quando as mulheres ouvem essas palavras, uma lembrança muito antiga é acionada, voltando a ter vida. Trata-se da lembrança do nosso parentesco absoluto, inegável e irrevogável com o feminino selvagem, um relacionamento que pode ter se tornado espectral pela negligência, que pode ter sido soterrado pelo excesso de domesticação, proscrito pela cultura que nos cerca ou simplesmente não ser mais compreendido. Podemos ter-nos esquecido do seu nome, podemos não atender quando ela chama o nosso; mas na nossa medula nós a conhecemos e sentimos sua falta. Sabemos que ela nos pertence; bem como nós a ela..." Clarissa Pinkola Éstes do livro "Mulheres que Correm com os Lobos".