Transformando o Mundo
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 27/03/2008 17:24:00
A maioria das pessoas já sentiu, em algum momento, um profundo anseio por mudar o mundo. Quando olhamos ao nosso redor e vemos o estado atual em que se encontra a humanidade e, por conseqüência, o planeta, é natural que nos domine um profundo sentimento de impotência.
Se pudéssemos, transformaríamos, num passe de mágica, a realidade ao nosso redor, para uma vida mais justa, amorosa, humana e totalmente harmoniosa.
Entretanto, para que alcancemos este sonho ainda distante, só existe um único caminho: mudar a nós mesmos. Enquanto não conseguirmos atingir um estágio profundo de conhecimento acerca de quem somos e o quanto nossa realidade interior se reflete na exterior, nada poderá acontecer.
Esta é uma triste constatação que pode, apesar disso, se transformar num antídoto contra a desesperança. Iniciemos, pois, o quanto antes, a grandiosa tarefa que nos aguarda: a transformação individual, sem a qual nenhuma possibilidade existirá para que curemos a insanidade em que se encontra mergulhado nosso amado planeta.
Osho,
"Você é o mundo". Esta é uma das colocações de Krishnamurti que causam confusão... Você poderia dizer algo sobre isso?
A colocação de J. Krishnamurti de que "Você é o mundo" não é confusa de maneira alguma. É muito simples... O mundo é apenas um nome; o indivíduo é a realidade.
...Palavras como o "mundo", a "sociedade”, a "religião", a "nação", são meras palavras sem nenhum conteúdo por trás delas - caixas vazias. Exceto você, não existe mundo.
Essa é uma maneira de compreender a colocação: que o indivíduo é a única realidade. E o mundo não é nada mais do que a coletividade de indivíduos, então, seja lá o que for, é uma contribuição de indivíduos... Você não pode jogar a responsabilidade em alguém mais; você tem de aceitar a responsabilidade sobre os seus próprios ombros.
... Você pode ser contra a guerra, pode ser um pacifista, pode ser um manifestante crônico - sempre com uma bandeira protestando contra a guerra, contra a violência.
... Mas a vida é um fenômeno complexo. Os seus protestos, o seu pacifismo, a sua luta contra a guerra ainda é parte da guerra; você não é um homem de paz.
E você pode observar isso quando as pessoas protestam - a sua raiva, a sua violência é tão óbvia que a gente pensa por que essas pessoas estão protestando contra a guerra... Uma boa máscara, mas por dentro está a mesma raiva, o mesmo ódio, a mesma violência, a mesma destrutividade contra qualquer pessoa que não concorda com elas.
... A colocação de J. Krishnamurti de que "Você é o mundo" simplesmente enfatiza o fato de que todo indivíduo, onde quer que esteja, seja lá o que for que faça, deve aceitar a responsabilidade de criar esse mundo que existe ao nosso redor.
Se ele é insano, você contribuiu para essa insanidade da sua própria maneira. Se ele é doente, você também é um parceiro em torná-lo doente. E a ênfase é importante - porque a menos que você compreenda que "eu também sou responsável por esse mundo insano e miserável," não existe possibilidade de mudança. Quem vai mudar? Todo mundo acha que alguém mais é responsável.
... Se estiver sofrendo, se estiver miserável, se estiver tenso, cheio de ansiedades, angústia, não apenas se console dizendo que este mundo é feio, que todos os demais são feios, que você é uma vítima.
J. Krishnamurti está dizendo que você não é uma vítima, você é um criador deste mundo insano; naturalmente, você tem de participar no resultado de seja lá o que for que tenha contribuído. Você está participando em jogar as sementes, estará participando ao colher a colheita também; você não pode escapar.
Para tornar o indivíduo ciente, de forma que ele pare de jogar a responsabilidade nos outros - do contrário, ele começa a olhar para dentro para ver de que maneira ele está contribuindo para toda essa loucura - existe uma possibilidade de que ele possa parar de contribuir.
... Aceitar a sua responsabilidade irá transformá-lo e a sua transformação é o começo da transformação do mundo - porque você é o mundo. Seja lá o quão pequeno for, um mundo em miniatura, mas você carrega todas as sementes. Se a revolução acontece em você, ela carrega a revolução para o mundo todo.
... Se você quiser mudar o mundo, não comece mudando o mundo - essa é a maneira errada que a humanidade tem seguido até agora... Somente uma revolução pode ser bem sucedida, o que não foi tentado até agora - e essa é a revolução do indivíduo.
Mude você mesmo. Esteja alerta para não contribuir com qualquer coisa que torne o mundo um inferno. E lembre-se de contribuir com alguma coisa para o mundo que o torne um paraíso.
... Nenhuma revolução pode ter sucesso a menos que a mente humana seja compreendida pelos seres humanos e eles comecem a se comportar de maneira diferente... Escapar para o Himalaia não vai ajudar porque, mesmo no Himalaia, a sua mente permanecerá a mesma, apenas você não terá a oportunidade de saber disso.
... É um fato simples: as pessoas que escaparam do mundo não acham que são responsáveis por este mundo. Escapando, elas não mudaram o mundo... nem passaram por uma mudança interna nelas mesmas. Por essa razão eu sou contra renunciar ao mundo.
Fique no mundo, seja lá o quão difícil for - porque é apenas no mundo que será lembrado, em cada passo, que tipo de mente você está carregando por dentro. E essa mente é projetada no lado de fora e se torna enorme porque tantas mentes estão projetando da mesma maneira.
"Você é o mundo" não é uma colocação matemática.
"Você é o mundo" é um insight psicológico.
E pode se tornar a própria chave para a única revolução que pode acontecer.
Osho, em Sermons in Stones