Você sabe reconhecer o que é seu e o que é do outro?
por Isabel Romanello em EspiritualidadeAtualizado em 30/04/2004 12:22:40
É muito gostoso quando, ao escrever um artigo, imaginamos quem estará absorvendo seu conteúdo muito em breve. É muito bom sentir que cada novo artigo reconstrói um canal através do qual, todos, podemos compartilhar experiências, vibrações e muita energia, avaliando, em conjunto, um assunto que nos fale ao coração. Estamos nos relacionando... Ë necessário que qualquer tema, em qualquer assunto, seja transmitido e absorvido com sensibilidade e por isso se torna necessário falar ao coração. Um diálogo de aconchego e calor humano. Uma expressão que transmita amor. É sempre importante ressaltar que devemos, acima de tudo, sentir o que estamos assimilando. Então, é preciso questionar cada ponto e concluir, a partir dali, a nossa própria verdade essencial. É isso que nos permite crescer reciprocamente nesse nosso relacionamento ou em qualquer de nossas relações de troca.
Relacionamentos... É maravilhoso manter relacionamentos. Sempre consideramos as nossas relações muito especiais. Todos nós, a cada dia, inúmeras vezes e nas mais diversas situações, nos relacionamos com outras pessoas, com variadas espécies de seres vivos, em meios e ambientes com diferentes elementos ou variados objetos...
É sempre fascinante observar que, a cada relação com algo ou alguém, estamos, unicamente, no máximo de nossa expressão, podendo conhecer mais e melhor a nós mesmos. Unicamente a nós mesmos! Em cada outro. Você já havia observado isso? Que a única pessoa que você conhece é você mesmo e que todas as suas sensações, avaliações e opiniões a respeito de qualquer situação ou de qualquer pessoa falam, na realidade, única e exclusivamente de algo que você tem e traz dentro de si mesmo?
Muitos de vocês é certo que já observaram e sabem disso, sim. Entretanto, muitos outros devem, neste momento, estar fazendo a mesma expressão de estranheza que podemos observar em muitos dos participantes do CREC - Curso de Conscientização e Reequilíbrio Energético Corporal - quando abordamos o que chamamos de “apercepção”. Relevamos que, neste caso, o “a” atua como uma negação (não percepção) e define, por esse termo, uma alteração que turva nossa capacidade perceptiva. A “apercepção” demonstra que tudo aquilo que enxergamos em algo ou alguém, fora de nós mesmos é, inevitavelmente, nosso.
Uma outra forma de falar isso é explicando que uma pessoa é, sempre, um espelho de cada outra com quem ela se relaciona. É como se cada pessoa, em qualquer relacionamento, funcionasse, sempre, como um reflexo de sua própria consciência. Somos seres conscientes de uma vida e essa consciência se manifesta em todos os níveis de nosso ser e se projeta em tudo o que existe do lado de dentro ou do lado de fora deste nosso ser.
Nem sempre compreendemos isso, mas a percepção alterada, ou a “apercepção” é, senão a maior, uma das grandes causas de conflitos e dificuldades em nossos relacionamentos e em todas as áreas de nossas vidas.
Interessante é falar disso de uma forma mais prática. Isso torna a compreensão mais fácil e aplicável à vida. Vamos lá!?
Observe-se! Olhe para você mesmo. Perceba neste momento que você é uma síntese de todas as suas vivências ou experiências passadas até aqui, até esse último segundo de sua leitura. Pense em algo que tenha sido marcante em sua vida. Você pensou em um fato bom ou ruim? O que é mais comum você rememorar? Vamos dar um exemplo...
Uma criança ganhou uma linda bicicleta de sua tia. Num certo dia, pedalando a bicicleta, sofreu um grave acidente. A tia por sua vez se sentiu culpada pelo fato ocorrido e concluiu em sua síntese de vida que bicicletas são extremamente perigosas e que nunca mais comprará bicicletas para alguém.
Num outro caso, uma criança ganhou, também, uma linda bicicleta de sua tia. A partir de então, tomou gosto por atividades físicas, perdeu aqueles quilinhos a mais e ficou muito feliz. A tia, por sua vez, ficou alegre e concluiu em sua síntese de vida que bicicletas são ótimas, o melhor presente que uma criança pode ganhar.
Para melhor compreendermos basta imaginar nossos sentimentos com algumas cores. Vamos atribuir, por exemplo, o cinza aos sentimentos ruins e o branco aos bons sentimentos. Vamos encontrar como objeto uma linda, inédita e transparente bicicleta para apresentarmos aquelas duas pessoas.
Sem qualquer dúvida, a cada vez que uma delas olhar para a bicicleta estará visualizando sua própria experiência projetada naquele objeto. E, assim, a transparente bicicleta para uma dessas pessoas seria cinza e para a outra seria branca! Mesmo transparente, a bicicleta somente seria vista em sua verdade essencial quando e se o observador estivesse ileso de seus preconceitos. Limpo! Ele mesmo precisaria estar transparente. Somente nesse estado projetaria ou perceberia a realidade da transparência em todos os seus níveis estruturais e poderia, assim, refletir sua própria transparência na bicicleta, enxergando, somente então, a condição mais essencial daquele objeto.
Dá pra imaginar? Vamos transferir isso para a vida?
A simples inconsciência de fatos tão essenciais é que faz com que a gente não compreenda como alguém pode não gostar daquela sopa maravilhosa ou daquele prato divino, nossos prediletos, ou então, não estar com frio nesse “clima gelado”, ou não gostar de dirigir um carro quando isso é tão gostoso ou, ao contrário, gostar, quando isso é tão horrível... Enfim, o confronto de nossas experiências e preferências com as alheias, comumente gera conflitos que são gatilhos da “apercepção”. Isso termina por gerar o desrespeito à individualidade do outro, negando seus direitos e atribuindo-lhe deveres muitas vezes equivocados.
É fantástico! Se você vê valores especiais em alguém, certamente você os traz em si. Por vezes esses valores ainda estão latentes em seu ser, em outras vezes já vêm se desenvolvendo ou, ainda em terceira hipótese, já estão sob seu domínio, amplamente desenvolvidos e, assim, já se tornam valores regentes e atuantes em suas escolhas e decisões.
Vamos observar a outra possibilidade? Em pólo oposto, se você vê defeitos e imperfeições em outras pessoas, também, certamente, você os traz em si. Da mesma forma descrita acima. Essas imperfeições podem estar latentes em seu ser, em fase de desenvolvimento e, nesse caso, você pode estar assumido na imperfeição, sem resistir às tentações provocadas por elas ou defendendo-se ardorosamente das mesmas para não agir cedendo a elas e, é nesse caso que podemos observar a maior tendência reativa de agressiva defesa. Finalmente, em terceira hipótese, as imperfeições já estão sob seu domínio, amplamente desenvolvidas após terem sido transmutadas em virtudes e, assim, como virtudes também se tornam valores regentes e atuantes em suas escolhas e decisões.Em síntese o processo “aperceptivo” tem como causa os preconceitos e bloqueios armazenados em nossa consciência. A “apercepção” é a “mistura” que travamos com os objetos e as pessoas nas situações vivenciadas em nosso dia-a-dia. É o alimento de grande parte dos nossos sofrimentos.
A “apercepção” é trabalhada em nossos cursos através de um gráfico que nos permite visualizar a estrutura da consciência humana. Se você já leu o nosso artigo anterior “Você sabe decifrar sua consciência?”, deve ter uma idéia do que estamos falando. Esse gráfico decifra o caminho do Equilíbrio Essencial. Ele é simplesmente fascinante ao permitir a compreensão das causas mais essenciais de nossos conflitos, bloqueios e preconceitos e a eliminação dessas causas e efeitos em tudo o que nos atrapalha. E, assim, de uma maneira simples, gostosa e natural, podemos amenizar e até mesmo neutralizar as situações inadequadas de nossas vidas.
Se isso é importante e necessário? Muito! Porque, somente livres de preconceitos poderemos efetivamente corresponder a cada outro, em cada um de nossos relacionamentos, de forma essencialmente amorosa! Transparente! Livre de preconceitos! E essa é a grande tarefa que aqui estamos para cumprir. Expandir o amor no máximo de nossas capacidades.
A “apercepção” em nossas vidas acaba atuando como um bloqueio de nossa expressão essencial. Como o amor só pode ser vivido e ampliado ao nosso redor e em nosso meio se nos for possível o contato com o nosso Ser mais Profundo, se nos permitirmos as relações aperceptivas estaremos cada vez mais longe d’Aquele que lá, bem dentro de nossos corações, é a própria Fonte do Amor!