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A crise dos sete anos

por Maria Aparecida Diniz Bressani em Psicologia
Atualizado em 27/01/2003 12:05:18


Podemos entender o casamento (pelo menos na sua grande maioria) como o fruto do amor entre duas pessoas, como um filho o é.
Quando nasce um filho, pai e mãe têm amor e responsabilidades por aquele ser que está nascendo. A criança se desenvolve e tanto o pai como a mãe, dentro de seus papeis, cada um à sua maneira, têm uma função a desempenhar para que o desenvolvimento daquele ser aconteça da forma mais saudável possível.

O desenvolvimento de um filho tem suas fases, como também o tem o desenvolvimento de um casamento. Os pais, co-autores e co-responsáveis, têm que estar atentos a cada uma dessas fases e perceberem o que é necessário para o bom desenvolvimento de sua personalidade e um adequado fortalecimento da integridade de sua individualidade; por volta dos sete anos da criança acontece naturalmente uma mudança na orientação de sua educação.

Quando pai e mãe estão atentos a cada fase, usufruindo seu papel e atuando responsável e ativamente para o seu desenvolvimento, perceberão, momento a momento, o que deve ser feito em prol do bem estar de seu filho.
O mesmo acontece num casamento: depois da cerimônia ele tem suas fases que exigem atenção e interesse de ambas as partes, homem e mulher. E sete anos de casamento é mais uma fase. Pode ser uma fase difícil ou fácil!

Quando se fala em “crise dos sete anos” parece que se fala assim: “estava tudo bem e de repente...”.
Em nada na vida existe o “de repente”. No decorrer destes sete anos muita coisa aconteceu; muitos sinais aconteceram – alguns sutis, outros mais óbvios – mostrando em qual direção o casamento estava sendo levado. O que você estava fazendo em prol deste seu relacionamento neste tempo todo?

O mais comum é ver homens e mulheres “esquecerem” que depois do ritual do casamento ainda é preciso, e muito, se cultivar a relação. Depois da cerimônia do casamento eles não vão viver “felizes para sempre”, muito pelo contrário; é aí que realmente começa a verdadeira jornada do casal ou, no mínimo, uma nova jornada de vida, uma nova e desconhecida jornada a dois.

Depois da cerimônia vem a lua de mel. Depois da lua de mel começa o casamento propriamente dito, onde homem e mulher irão adaptar-se aos respectivos papéis.
Até este momento tudo a que se referia sobre casamento entre eles era uma grande fantasia porque tudo se passava dentro de suas cabeças e as trocas de planos eram absolutamente abstratas, pois eram em cima de idéias. Agora é o momento da concretização dos sonhos pessoais e mútuos. Agora é o momento das concessões e do estabelecimento dos limites de cada um. Agora é o verdadeiro teste da possibilidade de realização deste casamento entre estas duas pessoas, ou seja, a possibilidade da concretização de suas fantasias sobre o que é “casamento”. Dois projetos pessoais na busca de torná-lo um único projeto! E é por isso que o momento da cerimônia é tão significativo e especial, pois é um marco de passagem.

Este “agora” é diluído no dia-a-dia; é diluído em pequenas ou grandes situações e desavenças que exigem os ajustes necessários para a composição do casal e para o desenvolvimento do casamento; é diluído em pequenas ou grandes satisfações pessoais e/ou mútuas que contribuam para a cumplicidade do casal e fortalecimento da relação.
Aos sete anos de casamento se processa, obviamente, uma natural evolução de todos os envolvidos: do homem, da mulher e da própria relação.
O que acontece neste momento é um questionamento natural de ambos – homem e mulher.
Se teriam aquilo mesmo que eles sonharam em ter como casamento.
Se o seu sonho sobre o que é casamento se concretizou ou se, pelo menos, está na direção de se concretizar.
Se estaria satisfeito com o resultado até o momento presente. Ainda: questiona-se também se é possível continuar com este casamento e se esta pessoa, com quem casou, seria mesmo “a pessoa”. Questiona-se se está feliz!

Chega o momento que nos damos conta que já não somos mais os mesmos, que nosso(a) parceiro(a) também não é mais aquele(a) com quem casamos e, conseqüentemente, aquele relacionamento dos primeiros tempos também nem existe mais.

É o momento da constatação e reavaliação. Eis a crise instalada!
Portanto, este é o momento de redirecionar a evolução do casamento.
A chamada “crise dos sete anos” será proporcional ao investimento e desempenho do homem e da mulher diante de cada momento no decorrer dos sete anos deste casamento.

Quando falo em investimento digo da capacidade de entrega de cada um ao outro e à relação. A capacidade de entrega será proporcional ao que cada um pensa e entende sobre o que é casamento – isto envolve seus valores morais e éticos como também depende da própria maturidade emocional.

Quando se vai lapidando o casamento – feito por duas pessoas, dois corações e duas expectativas – no dia-a-dia, nas oportunas situações que a própria condição de casados os coloca, o casal tem maior probabilidade de passar sem grandes conflitos pela famosa “crise dos sete anos”.

Mas, seja como for, para se superar qualquer crise – pequena ou grande – é fundamental que haja amor entre as partes, além da necessidade de se colocarem numa postura de co-autores e co-responsáveis pela história construída até então.


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maria
Maria Aparecida Diniz Bressani é psicóloga e psicoterapeuta Junguiana,
especializada em atendimento individual de jovens e adultos,
em seu consultório em São Paulo.


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