A experiência sagrada e a crença no absurdo
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 06/06/2008 15:35:27
Desde os tempos mais remotos que questões sobre de onde viemos e para onde vamos freqüentemente nos assolam.
Temos ao longo da história da Humanidade tribos e mais tribos se desenvolvendo na arte de falar com os deuses, na arte de receber mensagens divinas e mais, na desconcertante disputa sobre quem seriam os detentores de uma suposta verdade celestial.
Um número infindável de religiões se autoriza, nos mais incríveis procedimentos, incluindo o culto ao ódio a todo aquele que não está a favor dos preceitos entendidos como sendo os certeiros caminhos promovedores da aliança do homem com o seu criador.
A grande maioria de nós permanece cegamente submissa a sistemas religiosos que pregam o amor e a redenção divina em seus cultos. Estes mesmos sistemas, por outro lado, cometem os mais diversos tipos de atrocidades quando impõem as suas identidades religiosas sobre as demais opções de fé.
Se hoje ficamos estarrecidos ao pensarmos nas torturas feitas, por exemplo, na época da inquisição, imaginem só como ficarão os nossos descendentes ao lerem as trajetórias de algumas das atuais ações em nome de determinados tipos de devoção. Nada mudou. O que se mostra agora são apenas novos sistemas de camuflagem representados pelas atuais ditaduras religiosas.
Se pudermos nos descolar por apenas um instante deste tipo de tela, facilmente poderemos compreender que, se não mudarmos aspectos importantes das nossas consciências, num futuro próximo, o vestuário de guerra em nome da unificação religiosa somente terá uma outra forma alegórica sem trazer nada novo.
Devemos nos recordar de que a nossa jornada terrena é apenas um espaço de tempo muito tênue, uma passagem. E se não fizermos algo agora estaremos fadados a “viver” ininterruptamente num continuum como formas/pensamentos e, pior, totalmente incapazes de experienciar o sentido maior das nossas existências.
A verdade é que todos nós estamos inequivocadamente à mercê de um grande “não sei existencial” frente a um futuro que nos é totalmente desconhecido. Permanecemos como sempre estivemos, impotentes e desamparados em relação às imponderáveis forças do universo.
Sabemos todos que seremos totalmente derrotados se estivermos em meio aos grandes furacões, tempestades e outros da mesma ordem. Exatamente do mesmo modo que estávamos no início dos tempos. Nessas horas de colapso da Natureza, de nada adiantaria todo o avanço tecnológico alcançado ou mesmo as brigas por ideais de crenças religiosas.
Somos cidadãos planetários. Deveríamos possuir consciência do dever que temos de honrar a nossa passagem aqui para aprender seja o que for dentro de um sentido ético e moral que nada tem a ver com a arrogância dos dogmas secularmente instalados nas grandes massas.
Estamos todos nós na mesma condição. Fadados a deixarmos tudo o que acreditamos ao longo de uma vida e sem aviso prévio. De repente, tudo o que nos parece ser eterno deixará de existir. Todas as nossas relações, nossos ganhos, nossas perdas podem neste momento de reflexão, parecer serem feitas de pura ilusão (e não seriam?).
O que vale se ainda tivermos algum tempo, é a certeza de que através de uma experiência sagrada teremos a sensação inequívoca da eterna validade da alma.
A experiência do sagrado, do transcendente, aqui pede espaço para a sua manifestação. Sabemos que a mente racional utiliza-se da fé cega para poder se orientar num tempo e num espaço determinado pelo homem e de modo compartilhado com a tribo em que se vive. Aqui a questão vai ficando mais e mais profunda e paradoxalmente mais simples e subjetiva.
Hoje estamos literalmente intoxicados de conceitos sobre tudo o que existe, a experiência individual pouco ou nada tem de valor se comparada às verdades que nos são impostas. Muitas das verdades que nos são impostas mudam a todo momento, isso sem contar os dogmas seculares de cunho religiosos que nem ao menos se atualizam...Em que acreditar? Que rumo seguir?
A grande verdade é que o ser humano até hoje não aprendeu a lidar com o seu desamparo existencial. Cria subterfúgios imaginários e coletivos (religiões/seitas e outras) em nome de driblar questões nas quais deveria ter um olhar especial. Sabemos que temos uma segurança relativa em relação ao nosso existir. E com tudo enquanto vivos, ainda temos a certeza de que vale a pena lutar para se convencer ou convencer o outro sobre as verdades ditas sagradas.
Aqui abrimos espaço para a sede da alma que se busca de modo diferenciado de todo o pressuposto acima delineado. Abre-se um espaço para você leitor que sem acaso algum, se conectou com esta modalidade de leitura. Vamos falar agora da experiência do sagrado de modo único subjetivo e individual.
A experiência do sagrado pode promover um salto quântico na consciência e esta fica altamente facilitada quando saímos dos dogmas que nos foram impostos ao longo da vida, ou mesmo quando saímos de uma fé cega, cujo nome por si só já diz e rumamos para uma auto-iluminação genuína. Práticas de meditação, yogas, terapias, exercícios energéticos e outros podem promover este tipo de experiência diferenciada.
O seu dia a dia depois deste tipo de percepção/vivência passa a ser ininterruptamente sagrado. Não importa o modo como você se habilitou a entrar em contato com esse lugar de êxtase extremamente lúcido e consciente. O que vale é entrar em contato com a experiência do sagrado e tê-la em si para sempre.
Lembro-me que uma das ocasiões mais significativas em que vivenciei o sagrado foi num final de ano quando eu tinha 17 anos e estava numa praia apreciando a lua, o mar e a praia; foi quando repentinamente me senti fazer parte de tudo o que existe, me senti uma com a lua, com o mar e por fim com tudo o que existe no sentido mais sagrado que posso imaginar. Tudo o que eu escrever sobre esta experiência será insuficiente para expressar a sua grandiosidade. Esta, com certeza, foi uma experiência do sagrado em mim O religare que tantos falam.
Gostaria de propor um exercício a você que está lendo este artigo:
Ao longo de sua vida, você já deve ter experimentado um momento sagrado. Entre agora em contato com ele. Visualize e sinta este momento. Ancore ele em você. Se você nunca teve este momento, ou não se recorda dele, com a mente aberta, intencione rumar para este importante tema existencial. Abra espaço e intuitivamente receba o caminho que facilitara o seu encontro com o sagrado.
Seja feliz por completo. Sinta-se pleno e ouse experienciar o que é incomungável.
Ouse atravessar os dogmas e sentir-se em si mesmo.
Você pode.