Bem-vindos à Era da Lucidez
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 31/05/2007 13:06:42
Seria tranqüilo vivenciar com consciência a jornada da sua existência como mais uma das inúmeras empreitadas a que estamos acostumados a fazer em busca do conhecimento.
Ocorre que, num susto, o participante efetivamente implicado no seu processo de ampliação da consciência, acostumado em acumular blocos conceituais que pouco ou quase nada contribuíram para uma mudança efetiva em seu estado consciencial, percebe que agora tem a possibilidade de transcender da condição do eterno Buscador para o lugar efetivo do Encontrador.
Neste contexto, não é de se estranhar que situações como falta de sentido na vida, percepção de futilidade, crise de identidade, sensação de irrealidade e depressão, possam vir a acometer todo aquele que entra em contato com a realidade quântica.
Seja qual for a temporalidade destes questionamentos, se novos ou antigos, é importante notar que um estudo ou terapia com padrões de funcionamento tão inovadores pode proporcionar a abertura de todas estas questões e de outras tantas.
São sensações que, de repente, podem emergir de modo aparentemente desenfreado, como se fossem as erupções da lava de um grande vulcão há tempos adormecido.
Este delicado momento, mais comumente conhecido como Inversão Existencial, diz respeito tanto às questões acima citadas, como também à possibilidade de uma profunda transformação de velhos conceitos e crenças que serviam como lastreadores de uma existência mais significativa.
Ainda dentro deste enfoque, podemos perceber este tipo de “crise”, quando tomamos consciência de que não existíamos de fato em nós mesmos. É neste momento que entramos, talvez pela primeira vez, em contato com a nossa própria solidão. Essa sensação pode ocorrer quando o indivíduo deixa de se “pendurar” ou de ser “cabide” para outros.
Todo o processo leva à percepção de que é a própria pessoa - e mais ninguém - a geradora de sua própria existência e que é, portanto, totalmente responsável por si mesma.
Gurus externos gradativamente vão perdendo o sentido...
É muito complicado, em princípio, conceber que se estava ancorado num esquema de sustentação puramente ilusório, onde as crenças faziam o ser, mas não permitiam que este mesmo ser fosse.
Percebe-se o antes como uma falsa segurança baseada em comodismos, um tempo parado, num lugar onde tudo se recria sem a ousadia da vida criativa que envolve o novo. A crise existencial deste momento é a percepção da possível transição de um lugar de inação para a possibilidade de ação efetiva.
Quando começamos a ter nuances de consciência deste lugar, percebemo-nos num estado altamente conflitante, interrogativo e instável.
Muitas vezes é nesta ocasião que costumam acontecer revoltas; é quando tomamos consciência do tipo de postura que estávamos tendo frente à vida até então.
Não é fácil admitir que tudo aquilo que achávamos possuir, saber, ou ser pode estar falho; é bastante difícil ver que as bases que estavam nos sustentando, podem ser feitas de mera ilusão.
Desejar voltar a não saber do que já sabe, ou retroceder num caminho que já foi escolhido é também uma das possibilidades deste momento de crise, mas ocorre a percepção de que isso também seria uma ilusão.
Note que na medida em que se adquire um grau maior de lucidez, surgem duas situações que exigem atos de coragem:
l – Opção de se perpetuar no antigo lugar conhecido com o novo padrão de consciência adquirido.
ll – Avançar para o desconhecido, experimentar-se. Determinar conhecer-se de modo diferenciado.
Vislumbres de experiências e sensações de puro prazer de existir em si mesmo, de imediato, podem causar um certo desconforto pois ainda não estamos acostumados a entrar em conexão com o que somos e não sabemos como nomear estas “novas” sensações.
Outros aspectos do tipo - se alguma lei aprendida como sagrada estaria sendo infringida - também são passiveis de acontecer. Embasados em crenças, muitos pensam na possibilidade de receber algum tipo de castigo ou punição divina por avançarem em conhecimentos que ainda não foram escritos e não serão poucas as vezes em que as novas informações adquiridas transcenderão o concebido neste plano como possível.
Ajudamo-nos a nos libertar de existências autolimitantes assim que abrimos espaços para criarmos as nossas realidades de modo mais consciente, e então teremos a confirmação da existência em si, na possibilidade de ver o ato da criação ao mesmo tempo em que somos a própria criação.
Se acaso tiver lidando essas percepções, nada tema, tranqüilize-se e tenha coragem de prosseguir, você apenas estará ficando mais lúcido.
Em determinados momentos podemos ter a sensação de estar ficando loucos. Sair desta imensa teia e perceber que muito dos conceitos aprendidos em nossas vidas podem ser totalmente infundados nos remete a uma postura mais observadora. Como exemplo, poderíamos analisar que atrás do apelo da solidariedade evidenciado pela mídia deste planeta, reside uma sociedade regida por um individualismo crescente, por uma competição feroz e que a maioria não se dá conta porque vive em sono profundo, emaranhados neste “tricô”.
Fruto de um invisível fio condutor na busca do desenvolvimento consciencial, repentinamente, compreende-se que não existem regras a seguir ou a se contrapor, encaminhando-se para um lugar de maturidade onde a pessoa passa a conceber que é o senhor de suas ações. É nesta hora que passa a tomar decisões com maior grau de responsabilidade.
Numa outra vertente, ainda dentro do tema do desenvolvimento consciencial, a pessoa começa a se situar dentro de um contexto onde nada é estável, percebe-se como existência alinear e atemporal como uma manifestação puramente energética. Finalmente, concebe o modo como existe.
Essa questão também é um dos pontos que podem ser conflitivos, pois admitir que funcionamos de modo diferente do que aprendemos, na certa nos tira os pés do chão, literalmente! Mas se tudo é energia...De que chão estaríamos falando?
Na seqüência desta concepção, avançando um pouco mais pela ação consciente dentro deste novo patamar de experimentação, pode-se encontrar um novo mapa existencial, com infinitas possibilidades existindo em situações de ação nunca antes experimentadas.
Em meio a toda essa revolução, é provável passar por ocasiões permeadas por fortes sensações de vazio interno e desamparo. Pode-se entrar em contato com a percepção da verdadeira irrealidade, com o quanto é frágil o lugar onde se estava apoiado.
Pode ser que você, leitor, em determinado momento de sua vida se sinta deste modo, mas é importante saber que este montante de sensações faz parte de todo um processo de ampliação da consciência escolhido por você nesta sua jornada existencial, que é única.Entendemos como é complexa esta passagem, não é nada fácil descomplicar. Por vezes sentimos como se estivéssemos com um nó em nossas cabeças e o pior é que nem ao menos sabemos por onde começar a desatá-lo.
O fato é que não se consegue decifrar o que nunca foi lido anteriormente. Somos tomados pelo susto de sermos “obrigados” a voltar nossos olhos para nós mesmos e de percebermos onde estávamos anteriormente bem como funcionávamos.
De repente, temos a consciência de que podemos ter passado por incontáveis existências nos repetindo... É nesta hora que acontece o descortinamento deste potente sistema de camuflagem no qual estamos inseridos.
Esta transformação ocorre simultaneamente ao nos percebermos “descolando” de um universo robotizante em que milhões e milhões de pessoas vivem também sem nenhum questionamento a respeito.