EMDR: Ouse e conquiste-se
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 17/06/2010 17:21:46
Assaltos, seqüestros, tiroteios entre policiais e bandidos. A rotina de violência das cidades leva um número cada vez maior de pessoas a buscar a ajuda de psiquiatras e psicólogos. Os especialistas, por sua vez, discutem o tema e adaptam técnicas para ajudar os pacientes. E uma terapia que está sendo bastante utilizada é a EMDR (sigla em inglês para dessensibilização e reprocessamento através de movimentos oculares).
A EMDR é uma terapia que trabalha os dois hemisférios do cérebro, com estímulos oculares, auditivos e táteis. Esses estímulos ajudam a diminuir o sofrimento provocado por lembranças perturbadoras.
O método de 'dessensibilização e reprocessamento através de movimentos oculares', envolve exercícios, como pedir ao paciente que acompanhe o movimento dos dedos do psicólogo de um lado para outro. Enquanto isso, o terapeuta pede que ele recorde a cena mais traumática do episódio de violência, ou de qualquer situação que o perturbe e que tenha dificuldade de resolver. Na sequência, pergunta que emoção está sentindo.
Um dos diferenciais do EDMR é a rapidez no aparecimento dos resultados. Geralmente, não se passa mais de um ano com um paciente. Dependendo da questão, é possível perceber melhoras logo nas primeiras sessões.
O tratamento pode ser feito em crianças e adultos. No entanto, devido à possibilidade de o paciente apresentar emoção intensa durante o processo, é importante que o estado de saúde da pessoa seja avaliado previamente com o terapeuta, principalmente em casos de problemas cardíacos ou gravidez.
O EMDR significa Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) porque permite a reativação do sistema de reprocessamento cerebral, onde as lembranças dolorosas são armazenadas. Representa uma mudança de paradigma na psicoterapia pela rapidez dos resultados, manutenção dos mesmos através do tempo e o acesso direto à lembrança com possibilidade de reprocessamento/dessensibilização e subseqüente arquivamento da lembrança no passado.
No Brasil, há terapeutas formados por colegas estrangeiros desde 2000, mas o movimento atual começou a tomar maior força, em 2004, quando Esly Regina, representante oficial de Francine Shapiro na América latina, passou a dar os treinamentos em português com a possibilidade de formar novos trainers. Desde então, há treinamentos regulares em mais de 10 cidades brasileiras, contando hoje com mais de mil pessoas capacitadas nessa abordagem.
Na sessão de EMDR, pede-se ao cliente que focalize os elementos da memória traumática e, a seguir, aplica-se a estimulação bilateral (visual, auditiva ou tátil) segundo um protocolo de oito etapas. Isso promove o “diálogo” entre os hemisférios cerebrais e a “metabolização” (reprocessamento) de questões mal-resolvidas como traumas (TEPT), situações de luto, quadros resultantes de ansiedade generalizada, fobias, síndrome de pânico, depressão e outros.
Temos obtido resultados promissores com doenças psicossomáticas e aprimoramento de desempenho futuro.
Em pouco tempo, o indivíduo tem a sensação de maior distanciamento da perturbação traumática. Espontaneamente, começa a reavaliar a experiência a partir de uma perspectiva mais otimista. É comum que após o reprocessamento a lembrança do que antes era uma morte traumática perca seu poder de ferir e a pessoa é capaz de resgatar as lembranças de bons momentos. A partir dessas conquistas, a pessoa organiza-se melhor, passa a desfazer-se de sentimentos de culpa inadequados, consegue planejar um futuro melhor e se permite desejar coisas boas para si.
Além de ter respostas mais rápidas sobre as abordagens mais tradicionais, o EMDR permite que o cliente trabalhe de uma forma mais protegida. Não é necessário falar sobre tudo que lhe aconteceu para sarar, já que o reprocessamento acontece diretamente no cérebro e não na fala. As resoluções que se alcançam com o reprocessamento são definitivas e duradouras.
Esta técnica pode ser aplicada em adultos e crianças, sendo que crianças e adolescentes têm respostas muito mais rápidas, porque possuem menos “quilômetros rodados” em termos de redes neuronais. As respostas nessas populações costumam ser ainda mais rápidas e eficazes, sendo que a dificuldade maior é de ajudar a criança a pensar no incidente a ser tratado. Não é recomendável para psicóticos e esquizofrênicos. Para indivíduos borderline (pessoas com personalidade múltiplas) e bipolares, há que se fazer uma avaliação minuciosa para verificar se há suficiente estabilização do quadro para a aplicação do método.
Quem pode aplicar o EMDR?
Psicoterapeutas devidamente capacitados e certificados por treinadores reconhecidos pelo EMDR Institute dos Estados Unidos (comumente psicólogos ou psiquiatras, ou médicos com longa especialização em psicoterapia). Geralmente são certificados também por EMDR Ibero-América em convênio com EMDR Brasil. Há perigo de dissociação ou retraumatização do cliente quando o caso é mal-manejado; e por isso é importante ser tratado por pessoas especializadas, deste modo é bom se certificar quanto às devidas credenciais do terapeuta.
Agradecimentos a Esly Regina - Brasília e a Silvia Guz – Natal