Fugindo para o Bar, à procura de atenção
por Flávio Gikovate em PsicologiaAtualizado em 16/09/2002 11:49:41
Será que os homens preferem a companhia dos amigos à da família? Gostam mesmo é de ficar tomando cerveja e conversando sobre futebol em vez de estar com a mulher e os filhos? São mais aventureiros e paqueradores do que caseiros e românticos? É possível que isso seja verdade para alguns, ou que aconteça de vez em quando com outros. Mas a maioria – pelos menos os que eu conheço – não gosta tanto assim dos bares. Eles só não têm pressa em voltar para casa, porque há algo lá que os incomoda muito.
Nem todos sabem dizer exatamente o que os perturba tanto. Desconversam: "Minha mulher é ótima, é confiável, tem caráter e é mãe exemplar." Mas, apesar disso, adiam a chegada em casa o máximo possível. Sentem falta de alguma coisa e não sabem extremamente o que é.
Alguns são mais claros ao falar do assunto: "A coisa piorou depois que as crianças nasceram." Ao mesmo tempo, não assumem os ciúmes que sentem dos filhos, do papel que eles ocupam na casa e nas preocupações da mulher. Afinal de contas, ser mãe dedicada é uma qualidade feminina e eles deveriam apreciá-la. Mas, querendo ou não, os homens se sentem incomodados e pouco importantes. Como não têm coragem de reclamar, só resta uma coisa a fazer: ir para os bares. Lá, provavelmente, encontrarão outros homens na mesma situação – boa companhia para suas lamentações.
Não é raro, então, que sejam vítimas de uma "atração fatal" – pequenas transas nas quais eles têm atenção plena e exclusiva, mesmo que por poucas horas. Do ponto de vista sentimental, a verdade é que somos todos imaturos, sempre querendo muito, muito carinho. Nós, os homens de mais de 30 anos, crescemos numa época em que a figura do pai era a mais importante da família. A comida era só a que ele preferia, o jantar só era servido quando ele chegava, as crianças deveriam tratá-lo com respeito e não podiam perturbar o seu descanso. Que coisa dura e sofrida é trabalhar fora e ganhar o pão de cada dia! A família o recebia, então, todas as noites, como um herói que volta da guerra, com direito a todas as honras. Naquela época – ou seja, até quinze ou vinte anos atrás –, trabalhar fora era visto como algo ruim e as mulheres só o faziam por absoluta necessidade. Por isso, o homem era tão paparicado: era ele quem se submetia a esse sacrifício.
De repente, tudo mudou. Hoje, trabalhar fora é o grande sonho de quase todas as mulheres. E os homens? São vistos como privilegiados que têm ocupações atraentes e interessantes. Naturalmente, não merecem mais nenhum tratamento especial quando chegam em casa. Ao contrário, ainda deverão ajudá-las nas suas tarefas "chatas e repetitivas", não importando se elas trabalham fora ou não.
Mas não é só isso. Não se pode esquecer que a educação dos filhos também se alterou radicalmente. A forma como educávamos anteriormente era rígida, baseada no medo. Ficamos todos muito "traumatizados" e a tendência passou a ser uma educação mais tolerante e baseada na atenção e carinho. As crianças viraram os novos "reis do lar". É a elas que dedicamos a maior parte de nossas atenções, tempo e dinheiro. A casa é delas. Quanto a nós, adultos, ficamos encurralados em alguns pequenos espaços. Quando éramos pequenos, ouvíamos frases do tipo: "Fica quieto, seu pai está cansado e nervoso." Agora é o contrário: "Fica quieto, as crianças estão vendo televisão."
É muita mudança para tão pouco tempo. Não somos capazes de nos modificarmos emocionalmente de modo tão completo, e o resultado é uma sensação de desprestígio, desprezo, como se fôssemos tratados com muito pouco carinho. Não sabemos o que fazer. Só admitimos que estamos nos sentindo mal em casa, que nos falta aconchego. Não ousamos reclamar e nos mandamos para o bar. Para falar de mulher.