Mais de Sequestradores de almas e de suas empreitadas
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:11
Sequestradores de almas costumam ter um arsenal de estratégias que visam manter o outro imantado e subjugado às suas próprias leis. Aplicam suas condutas com tal maestria de sedução e de culpa, que as vítimas, em meio às suas piores agonias, permanecem atadas à essa terrível trama como se estivessem presas a algum feitiço imortal. Nesta difícil e improvável missão de satisfazer as mais profundas carências deste tipo abusivo de sequestrador, ficam sempre tentando acertar, buscando a confirmação afetiva.
Amarradas nesta ilusão, por mais que desejem se ver livres deste sofrimento, enquanto não se trabalharem internamente, sempre serão vítimas das mais infundadas e também das mais articuladas e perversas manipulações. Com a mente confusa, a ponto de duvidarem da própria percepção, minada com o tempo de convívio, têm a impressão de que jamais conseguirão sair desta teia.
O que as mantêm no cárcere?
As vítimas sentem que precisam ser validadas em seu amor e, por conta dessa carência, ficam aprisionadas na tentativa de acertar as cada vez mais difíceis e infundadas cobranças. Sequer suspeitam que os sequestradores jamais se satisfarão. No seu adoecimento, eles têm a incrível capacidade de projetar em suas vítimas o medo de serem rejeitadas, e o pior, habilmente as fazem acreditar de que sem eles, sem o seu pseudo-amor, elas não sobreviverão. Quando a trama é desfeita, o medo da rejeição tende a voltar para os supostos sequestradores que, como conseqüência, podem passar por momentos depressivos se acaso conseguirem entrar em contato com os seus próprios temas, mas também podem nem chegar a entrar em contato e, de imediato, saírem em busca de outras presas. Também podem inferir uma espécie de ódio mortal naquela que desistiu dele e que, portanto, rejeitou-o.
Por terem imensa angústia e medo de serem rejeitados, sequestradores, vítimas de suas próprias tramas emocionais, rejeitam. A contraparte, por sua vez, invariavelmente, transita por profundas carências afetivas e por sentimentos de abandono e desamparo que tiveram suas origens e marcas, muito provavelmente, por volta da primeira infância.
Tais "sequestradores de alma", costumam, portanto, inferir no outro uma constante ameaça de perda e de desamparo e, como o medo da rejeição é a grande ferida não revelada, o outro é quem sofrerá deste possível destino, se acaso permanecer subjugado a eles. Sim, um "amor" totalmente condicional, onde os que estão no lugar dos sequestradores, acabam por desenvolver as suas artimanhas em nome de não perder o outro. Conseguem convencer suas escolhidas, de que estas certamente ficarão péssimas sem as suas companhias e dedicação (lê-se, controle). E que além de se sentirem desamparadas, sofrerão do pior dos males, que é o sentimento de solidão, que neste caso, seria visto como uma espécie de maldição.
Sequestradores de alma, incessantemente, repetem e projetam no outro os seus maiores receios: "Faça o que eu quero, senão te abandono" seria a mensagem subliminar mestra deste tipo de relação. Ainda neste pacote, o quanto mais a presa ficar submetida aos infindáveis tiranos e severos mandatos, mais o sequestrador abusará da mesma, promovendo um verdadeiro inferno a ponto de que se nada for feito frente a isso, fatalmente, esse tipo de relação levará o outro à falência de si mesmo.
A relação vai se tornando cada vez mais punitiva e perversa quando o sequestrador alucina que não é suficientemente bem atendido. Castiga a vítima, isolando-a de seu afeto, dando um gelo, ameaçando que vai embora da relação, não atendendo telefonemas, por exemplo, tudo isso em meio a crises de mágoa e ainda culpando-a por não ter dado suficiente atenção a ele.
E quando a presa está literalmente subjugada, a privação afetiva passa a ser o pior dos mundos e é neste contexto que o sequestrador usufrui o seu gozo sádico. Imaginem ao que a vítima se submete, tudo em meio à culpa, sedução e ameaças.
O sequestrador tem a maestria de fazer o famoso "gaslighting", que é quando a vítima fala ou ele fala algo e depois tudo se esvai e ele ou desqualifica como se não tivesse falado nada, ou como se a vítima não tivesse entendido direito e fala tanto que acaba conseguindo confundir! A sorte é que isso não dura para sempre e a tendência é as pessoas, cedo ou tarde, acordarem!
Tenho observado, porém, que este tipo de relação precisa de reparos emocionais importantes. Para evitar se repetir, para se fortalecer definitivamente, fica a dica de se fazer uma boa terapia. Este tipo de experiência sofrida requer auxílio.
Dificilmente, a pessoa quando está dentro ou mesmo quando sai de um relacionamento desta ordem, sai inteira. Daí a necessidade de apoio terapêutico. Muitas vezes, a família e os amigos não conseguem ter noção do que de verdade acontece neste tipo de situação. Em ocasiões como esta, buscar por ajuda terapêutica vale a sua vida.