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O silêncio que mata! - Parte 2

por Rosemeire Zago em Psicologia
Atualizado em 08/04/2020 11:35:20


No artigo anterior escrevi sobre a relação do suicídio com abusos na infância, seja físico, emocional e/ou sexual. Mas agora quero refletir um pouco mais sobre o título, pois o silêncio mata não só pelo suicídio, mas também pelos mais diversos sintomas que se desenvolvem ao longo da vida de quem foi vítima de abuso e teve que, forçosamente, manter-se em silêncio, porque quando não temos quem nos ajude, somos forçadas a reprimir a verdade. Verdade que machuca e vai nos matando por dentro durante toda uma vida, ou até romper o silêncio.

Vamos pensar na criança, que mesmo sofrendo qualquer tipo de violência, fica calada, pois não tem estrutura emocional para se defender e buscar ajuda. A criança também não possui plena compreensão da situação, e o abuso pode não ser visto como tal. E quando o abuso é sexual, ela é constantemente ameaçada, com frases tipo: "se você contar ninguém vai acreditar, se você contar eu vou matar sua mãe, se você contar vai destruir a família", e por aí vai, as ameaças são muitas. A criança acredita em tudo que o adulto fala, e assim, se cala!

O medo dessas ameaças ouvidas tão cedo pode permanecer inconsciente (porque sua origem não foi tratada ou mesmo descoberta), e mesmo adulta poderá sentir muita dificuldade em falar sobre o que aconteceu, como se tivesse sido "condicionada" a ficar em silêncio, podendo acompanhar a pessoa durante toda sua vida e determinar todos seus comportamentos e escolhas.

Muitas pessoas nos dias de hoje ainda pensam que a criança quando se tornar adulta não vai se lembrar do que aconteceu com ela nos primeiros anos de vida, mas talvez o que essas pessoas não saibam é que quanto mais cedo é cometido algum abuso, mais grave é o dano. E por mais que não se lembrem, pois muitas vezes o esquecimento acontece como forma de defesa do inconsciente, o corpo registra tudo, e as lembranças dos abusos podem vir nos sonhos ou em sintomas físicos, como também em forma de repetição de padrão, em qualquer momento da vida. Ou seja, o trauma não precisa ser lembrado conscientemente para se fazer presente, pois com certeza ele se fará com suas consequências.

Portanto, se você lembra ou desconfia que sofreu algum tipo de abuso, principalmente sexual, enfrente sua vergonha, medo, culpa e busque ajuda! Lembre-se que a criança sempre é vítima e, portanto, não tem culpa de absolutamente nada do que aconteceu. Para sua recuperação é importante falar, ser ouvida, validar e levar a sério tudo que sentiu e ainda sente. Um profissional com experiência em traumas de infância poderá fazer muita diferença. Sim, muita experiência, porque infelizmente a maioria dos profissionais não tem esse preparo e pode acabar por retraumatizar quem os procura.

Enfim, o processo de cura começa quando o adulto, que foi vítima de abuso na infância, resolve romper com o silêncio do sofrimento. Sempre vale lembrar uma citação de Alice Miller: "não são os traumas de infância que nos tornam doentes, mas sim a incapacidade de expressá-los". E a presença de uma testemunha conhecedora é indispensável para este processo. Não fique sozinha em silêncio com sua dor, permita-se romper com esse silêncio que lhe aprisiona e a faz sofrer.



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zago
Rosemeire Zago é psicóloga clínica CRP 06/36.933-0, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Estudiosa de Alice Miller e Jung, aprofundou-se no ensaio: `A Psicologia do Arquétipo da Criança Interior´ - 1940.
A base de seu trabalho no atendimento individual de adultos é o resgate da autoestima e amor-próprio, com experiência no processo de reencontrar e cuidar da criança que foi vítima de abuso físico, psicológico e/ou sexual, e ainda hoje contamina a vida do adulto com suas dores.
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