Terapia, um Antídoto para que V. não se perca num `filme que não lhe pertence´
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:15
Para alguém ir atrás de tratamento psicológico, certamente que estará passando por algum tipo de crise ou de perturbação com máxima consciência de que não mais consegue resolver as suas questões por si mesmo.
A verdade é que nascemos e permanecemos em espaços aparentemente herméticos e estruturados dentro das mais diversas leis e sistemas. Ora estamos dentro de algum contexto familiar, ora mergulhados dentro das leis de um trabalho ou em alguma outra situação sociocultural que sempre nos exigirá regras e mais regras sobre como que supostamente deveríamos agir.
Regras em geral não são más, ao contrário, facilitam as nossas vidas em vários sentidos, porém, não nos devemos esquecer de que todo excesso pode nos gerar danos de toda ordem. O maior risco que podemos correr, se estivermos por demais dentro desse padrão de funcionamento, é um possível distanciamento ou mesmo a falta do conhecimento de quem se é em essência, e por fim, o aprisionamento do nosso ser essencial em uma trama que, ao atar, também pode cegar para a realidade externa e interna.
A crise nesse sentido é passível de ocorrer no momento em que não nos entendemos mais nos vários sentimentos e sensações a que somos cometidos e que se mostram desconectados com as aparentes realidades factuais a que sempre estivemos inseridos. Podemos inclusive chegar ao ponto de nos sentirmos em total ruptura com o rumo das nossas vidas.
Nesses momentos, muitos se queixam de perder a conhecida clareza anterior e começam a ter dificuldades para dizer um não ou um sim. Outros, ainda nesse mesmo contexto, observam-se extremamente impacientes e até violentos em determinadas situações. Mas o que todos estão falando é que algo acontece dentro de si mesmos que resulta em algum tipo de manifestação não satisfatória e sem controle do eu, até então conhecido.
Outra cena comum nesses estados são as sensações mais depressivas e a falta de desejo de ações anteriormente conhecidas como "legais". O receio do descontrole tanto nos estados mais passivos, como nos mais ativos fica em evidência. O que passa a reinar é medo é do caos interno...
Os processos vivenciados dentro da terapia auxiliarão a entrar em contato com os aspectos estruturais do self, ou seja, com o eu interior, abrindo espaço para que aconteça oportunidades para se transformar. É a possibilidade de um conhecimento único a respeito de nós mesmos e dos motivos pelos quais nos distanciamos de tudo o que realmente somos.
Quando não nos visitamos, pouco a pouco a nossa percepção vai sendo minada. Passamos a achar normal uma vida medíocre sem grande entendimentos sobre nós mesmos. Até que mais e mais, vamos perdendo a referência de quem somos e pior é que acabamos por nos convencer que a baixa qualidade de prazer que temos na vida é normal.
Quando não nos apropriamos de nós mesmos passamos a funcionar num limiar de autoconsciência muitíssimo baixa.
E quando estivermos com a "corda no pescoço", estressados demais, as nossas máquinas biológicas, que foram geradas para sobrevivência, começam a soar um alarme fatal avisando ao nosso Si Mesmo de que algo não vai bem. Este é o precioso momento em que temos a chance de buscar ajuda emergencial e de fazermos terapia a fim de nos ganharmos de volta. É nesta hora que temos a certeza de que tudo pode ser diferente. Uma oportunidade para entrarmos em contato com várias das nossas questões e de nos atualizarmos como existências plenas. É a chance.
O hexagrama chinês de crise é composto de dois caracteres, um representando o perigo e outro a oportunidade.
É quando notamos que falta a percepção do por que estarmos funcionando de modo tão insatisfatório há tanto tempo...
É claro que temos toda uma história que nos construiu e que ainda constrói tanto os nossos pensamentos, como a maneira de nos compreendermos como entidades dentro de toda esta trama e isso inclui todas as nossas possibilidades de ação até o presente momento.
A formatação do viver dentro de determinados conceitos, ilusoriamente mostra às pessoas a mentira de que podem controlar tudo. Não dá para se controlar nada enquanto formos frutos inconscientes de outros tipos de controle e de outras tantas instâncias psicológicas nossas que nos controlam à revelia.
A proposta, na saída da crise, é o agir de modo simultâneo e consciente, ora como participantes ativos inseridos dentro de um suposto contexto, ora como observadores ativos, porém sem jamais nos perdermos novamente daquilo que somos em essência.
Até podemos participar de "filmes" que não nos pertencem, mas apenas por alguns momentos e sempre com um pé em nosso próprio "filme existencial".
Quer um Antídoto para não se perder num "filme que não é seu? Conheça a si mesmo.