Você está pronta? A gestação do papel de mãe
por Sirley Bittú em PsicologiaAtualizado em 16/06/2003 11:47:22
Uma mulher quando deseja ser mãe muitas vezes enfrenta alguns medos e as perguntas mais freqüentes são: Será que vou dar conta?
Conseguirei oferecer ao meu filho todo carinho e amor de que ele necessitará?
Serei paciente o suficiente? Conseguirei gerar um filho?
Conseguirei gerar um filho perfeito? Conseguirei educá-lo sem traumas?
Conseguirei sustentá-lo? Saberei cuidar dele fisicamente?
E os primeiros banhos? E o umbigo?
Conseguirei protegê-lo da violência dos nossos tempos?
Repetirei com meu filho o que vivi como filha?
Algumas vezes o pavor é tanto que algumas mulheres desistem de tentar ou muitas vezes nem conseguem engravidar.
Quando experimentamos um novo papel, deparamo-nos com sentimentos, necessidades e percepções totalmente novas, pois o tipo de papel que estamos tentando desenvolver nos é desconhecido de maneira profunda. Cada papel novo que desempenhamos traz consigo outros papéis relacionados, como nesse caso o papel de mulher, de mãe e de filha. Só é possível assumir o papel de mãe quando conseguirmos deixar o papel e filha, e o que isso significa? Implica em assumir a responsabilidade sobre nossas vidas, passar do papel de “ser cuidado” para o papel de “cuidador”. É quando naturalmente nos tornamos mães e pais de nossos pais.
Em outras palavras a condução desse processo está relacionada a nossa segurança interna e auto-estima.
O papel de mãe se fortalece sustentado pela própria capacidade da mulher de sentir-se fortalecida com suas características, mesmo estando consciente daquelas características que não gosta tanto.
Durante a vida, todos nós somos solicitados a treinar esse papel de alguma forma; mesmo os homens. Isto acontece quando nos percebemos sendo generosos, afetivos, espontâneos e criativos não apenas em relação aos outros mas também em relação a nós mesmos. Acredito que é o que mantém a esperança na natureza humana.
Nossa vivência de ser acolhido, certamente nos fortalece e nos ensina a acolher o outro. Podemos ter essa experiência, não apenas nas relações que tivemos com nossas “mães de origem”, mas em todas as relações afetivas que estabelecemos durante nossas vidas.
Algumas vezes a maternidade chega sem sobreaviso trazendo à vida de algumas mulheres, muitas vezes ainda meninas, uma mistura de sentimentos, um emaranhado confuso entre amor, raiva, culpa, desespero, insegurança e principalmente medo. Ainda são apenas filhas e muitas vezes não estão prontas para assumir essa tarefa, precisando de todo tipo de ajuda e principalmente de suporte emocional.
E nossas dúvidas, há respostas para essas perguntas? Quando tentamos responde-las, caímos no caos do desconhecimento, no escuro, no duro limite de nossa potência e impotência sobre nossas vidas, pois não temos como garantir que teremos dinheiro para alimentar o filho, por exemplo, ou que conseguiremos evitar um assalto, um seqüestro ou um atropelamento, e somos então invadidos pelo medo e pelo pavor. A sociedade faz da violência uma constante em nossos dias, limitando nossas vidas e nossos desejos.
Então o que temos? Temos o que sempre tivemos: nossa disponibilidade e nosso amor. O ser humano nunca teve, e dificilmente terá, o total controle sobre os acontecimentos, as frustrações e as dores que inevitavelmente passamos durante nosso caminho de desenvolvimento; o que temos é a certeza de que faremos o que estiver ao nosso alcance, pois daremos o nosso melhor e com isso o medo não desaparecerá por completo, mas se transformará apenas em nossa cautela, prudência e sensatez que nos protegerão e nos acalentarão.
Maternidade é uma dádiva, e como tal, exige responsabilidade e comprometimento de quem gera; trata-se de um comprometimento com a vida, um pacto de amor e dedicação e para tanto a mulher deve sentir-se preparada e estar disposta, para esse belo ato de coragem e fé.