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HÁ MUITOS "AMA-ME!" EM TODAS AS BOCAS

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Procura ficar junto, meu coração,
enquanto choras a terra
onde primeiro principiaste a bater.
É impossível ficar em silêncio - sufocante!
O Único Radiante deve construir os alicerces mais uma vez.
A terra está tão devastada que não resta bastante terra preta
para encher o espaço sob a unha do dedo.
A terra está tão devastada, e ninguém se importa,
ninguém reclama, não há sequer olhos úmidos.
O sol está encoberto,
os rios estão vazios,
os lagos de peixes estão poluídos.
Luta-se pela terra, tomam-na, devolvem-na,
tomam-na e devolvem-na,
e ninguém pode ver ou ouvir o fim disso tudo.
Nada parece importante, e tudo parece doentio.
As pessoas fazem flechas de metal, pedem para ser alimentadas com sangue, e
riem em tom de voz doentio.
Ninguém chora por causa da morte
ou jejua ou volta-se para nada senão para si próprio.
Todas as bocas estão empanturradas com "Ama-me!"
e a maturidade desapareceu.
A terra está à mingua
mas grassam os burocratas.
A terra está nua
mas os impostos sobem.
Quanto menos cereal colhemos, mais eles tomam de nós.
O Único Radiante dá as costas à humanidade
e brilha apenas uma hora a cada dia.
As pessoas não sabem quando é meio-dia,
porque não conseguem ver suas sombras.
Nenhum rosto se ilumina quando elas vêem
o Único Radiante, nem o sentimento mareja os olhos de
ninguém.
O brilho ainda está ali, como antes,
mas nós não vamos no rumo certo.

Profecia de Nefer-Rohu, escrita durante o Médio Império por volta de 2000 a.C.

Recebido de Soraya Souza

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