A DESOBEDIÊNCIA
Atualizado dia 2/24/2007 12:10:26 PM em Almas Gêmeaspor Hellen Katiuscia de Sá
Diziam os mais velhos que as mulheres não poderiam se deitar com seus maridos na mesma noite em que a Lua se deitava com o Sol, porque a criança nascida desse coito, seria prometida como filha adotiva da noiva do Sol. O bebê morreria antes dos três meses de vida.
Entretanto, Kaissaré-Pequena desobedeceu à ordem estabelecida pelos costumes de sua tribo. Por isso a presença do Pajé aposentado para cuidar da moça. Kauy-Tembé falava cânticos em tenra voz. Esfregava, na tez da moça, seus dedos em forma de signos invisíveis. A índia revirava os olhos por causa da forte febre. E toda tribo temia pela vida dela e da criança que estava por nascer.
Em delírio a futura mãe sonhou que Tupã deitava-lhe ouvidos adentro uma conversa... Dizia ele que o filho de Kaissaré-Pequena iria nascer bem. Seria macho, um valente guerreiro e que não morreria no terceiro mês de vida, contudo, havia uma condição. Tupã explicou à moça que ela deveria fazer um presente com as próprias mãos e ofertar aos noivos dos céus, para que perdoassem sua desobediência. O Pajé aposentado continuava seu cântico histérico e silencioso em favor da índia.
Kaissaré-Pequena de repente abrira os olhos sem qualquer aflição, deu de encontro com os do Pajé. E num único reflexo, sem dor ou empecilho, veio ao mundo Pakará-Teté, criança fruto do coito proibido da noite do eclipse lunar.
A índia contou ao curandeiro a conversa dela com Tupã. O velho índio orientou a jovem mãe que fosse para floresta alta, longe de sua tribo, a fim de encontrar resposta para o tal presente.
Numa dessas andanças, com o pequeno Pakará-Teté preso às costas, a jovem viu reluzir num riacho, algo diferente. Ao se aproximar notou uma pedra verde e lustrosa, desigual de todas que já havia visto antes. Kaissaré-Pequena esculpiu algo dessa pedrinha verde. Levou até à montanha mais alta das redondezas e ofertou como presente aos noivos dos céus. E o pequeno Pakará-Teté cresceu forte, honrado, tornando-se o mais valente guerreiro de sua tribo.
Desde, então, as virgens prometidas esculpiam, na mesma espécie de pedrinha, o artefato inventado por Kaissaré-Pequena. E ele se tornou objeto sagrado e de sorte nos rituais dessa tribo.
Quando o arqueólogo encontrou um desses artefatos, nunca alcançaria essa maravilhosa lenda. Com estudos e pesquisas conseguiu saber apenas o nome do objeto esculpido nas pedrinhas verdes sob a forma de sapinho estilizado, cujo apelido, Kaissaré-Pequena imaginou que seria “Muirakitã”.
Hellen Katiuscia de Sá
19 de fevereiro de 2007
O texto acima é uma ficção, mas o objeto esculpido em pedrinhas verdes – o “Muirakitã” - existe. Trata-se de um artefato sagrado de uma civilização bastante antiga que predominou na região Amazônica. Quem quiser conhecer algo mais sobre o curioso “sapinho estilizado”, veja: link
Texto revisado por Cris
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