As voltas que a vida deu
Atualizado dia 06/10/2014 15:39:35 em Almas Gêmeaspor Renata Kindle
Não sou muito adepta às redes sociais, não gosto daquilo que me expõe, mas estranhamente, foi justamente através de alguns passeios virtuais que ganhei de volta pessoas que há muito não via, um amor, um grande amigo, uma amiga da escola, mais outro e outros mais.
Mais de vinte anos se foram desde a última vez que vira qualquer um deles. Talvez eu esteja, como diz o ditado, “pagando minha língua”, mas o que eu acredito mesmo, de verdade, é que nessas voltas que a vida dá, uma hora ou outra eu esbarraria com eles, fosse onde fosse, fosse como fosse. Simplesmente porque tinha que ser! “Maktub”?! Não sei se acredito muito nisso (no fundo, talvez sim), mas penso que para receber a semente, a terra tem que estar pronta!
Pessoas se tornam especiais umas para as outras por incontáveis razões ou sem razão alguma, simplesmente porque existem, porque nos dizem uma única frase que nos acompanha por muitos anos, por um gesto gentil, por uma risada gostosa, por experiências que vivem juntas, pela pipoca dividida no cinema, pela chuva que tomam de mãos dadas... ainda que nunca mais as vejamos. Primeiro, tornam-se especiais, instalam-se pra sempre em nossos corações. Em seguida, tornam-se preciosas, jóias raras e, por fim, insubstituíveis, passe o tempo que passar.
Algumas pessoas esquecemos com facilidade, outras nos esforçamos em deixar à margem da estrada enquanto seguimos, mas outras, levamos sempre em nossos corações, não permitindo que suas imagens se desfaçam em nossas memórias, não permitindo que suas vozes se calem para nós. “Mesmo que o tempo e a distância digam não, mesmo esquecendo a canção (...)”.
Incrível a força que o tempo não tem!! Sim, ele é imprescindível na cura das nossas feridas, mas é fraco diante da força humana de criar e manter laços de amor e de amizade. O tempo não destrói aquilo que foi bem plantado, não apaga as memórias emocionais. Latência não é morte e, quando se acorda desse estado de hibernação, a sensação é de ter sido ontem a última vez que nos vimos, que nos falamos.
Aos mais de trinta anos, os tempos da escola são saudosas lembranças. Esquecemos a tal parte chata e até o disciplinário, sempre tão bravo e austero, é legal agora, mas as amizades feitas àquela época, essas são eternas, seguem pra sempre conosco e puxa, como isso é bom! A adolescência já ficou pra trás há muitos anos, a vida de gente grande exigiu esforços, renúncias, escolhas, houve erros, choros, mas trouxe também vitórias, crescimentos, trouxe alegrias e trouxe pessoas de volta.
Não fico chateada pela lacuna de anos e anos, não fico pensando como poderia ter sido se esses reencontros tivessem se dado há vinte anos. Ao contrário, penso que tinha que ser exatamente como é agora, tanto tempo depois, cada um de nós com sua bagagem, com suas histórias. Acho que quando estamos prontos, a vida se revela, acontece simplesmente e a isso, sim, sou muito grata. A palavra “se” transforma tudo e o gostoso agora é o sabor do reencontro, sem “se” nem “mas”. A força do agora, do presente, nas voltas que a vida deu!
Texto revisado
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Psicóloga clínica e hospitalar (crianças, adolescentes, adultos, casais e família); autora de alguns textos e artigos. Desenvolvedora de um trabalho piloto sobre a atuação das emoções no corpo físico, que se realiza com grupos de oficinas terapêuticas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Almas Gêmeas clicando aqui. |
