Dar a Outra Face
Autor Antony Valentim
Assunto Almas GêmeasAtualizado em 07/08/2007 19:55:59
A bondade humana incomoda. Sempre haverão aqueles que considerarão absurdo dar a outra face. Mas dar a outra face não significa agradecer imensamente quando alguém lhe pisa o pé, com ou sem calo. Dar a outra face significa calar ao encontrar oportunidade de humilhar, relevar ao encontrar oportunidade de punir, dar mais uma chance, mesmo quando "a última chance" já foi dada diversas vezes, se esforçar para perdoar quando a atitude nos fere mortalmente o íntimo, abrir mão de jogar na face de uma pessoa a verdade que só a humilharia, enfim... encontraremos muitos exemplos da prática de dar a outra face, sem que com isso tenhamos que, necessariamente, perder o respeito por nós mesmos. E muitas dessas práticas são silenciosas, o que faz com que por diversas situações, haverão os que percebendo tais atitudes em alguém, as considerem sinais de fraqueza. Nunca perceberão que a explosão incondicional é sempre sinal de derrota íntima, e que aquele que governa seu destino desejando o tempo todo mostrar "quem manda por aqui", na verdade mostra é uma criatura que muito tempo ainda precisará passar pelas aulas da mestra dor até que compreenda que a vida é uma troca, e invariavelmente recebemos de volta o que ofertamos. Obviamente que haverão sempre aqueles que desejarão "abusar da boa vontade" de quem demonstra bondade, e pouco comum serão as vezes em que não o farão, o que faz com que a revolta cresca nos corações da plateia que assiste o ato. Mas isto também é um erro, pois não é necessário deixar que abusem. Controlar situações fazendo com que os outros pensem que são eles que estão no controle é muito mais do que uma arte: é caridade para com aqueles que ainda estão muito apegados ao orgulho e à prepotência, e definitivamente, manifestação plena de uma sensibilidade que sabe administrar. Dar a outra face porém, agradecendo aos que lhe esbofeteiam e ainda perguntando se desejam esbofetear mais alguma outra parte, é um erro. É "bom ser bom", mas é indispensável também ser firme, e quando necessário, aplicar a força (moral) para evitar os abusos descabidos. Existe uma lenda indiana que exemplifica bem isso, chamada "A Serpente e o Santo", que diz mais ou menos assim:
"Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto. Mas um santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo. A serpente o atacou, desrespeitosa. Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou:
- Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.
A víbora recolheu-se, envergonhada. Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela. Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita, medrosa, desanimada. Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente contou-lhe, então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as criaturas perseguiam-na e apedrejavam-na. O sábio pensou, pensou e respondeu após ouví-la:
- Mas, minha irmã, houve engano de tua parte. Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses de assustar os maus. Não ataque as criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso a distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos." (Do livro "OS MENSAGEIROS", cap.20 - André Luiz (Espírito) Psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier)
Por isso, devemos sim ser humildes, mansos e serenos, mas igualmente determinados, firmes e convictos. Não devemos confundir as coisas. Ser bom não significa ser alvo de maldades. Quando o outro for instrumento de perversidade que ameaça o equilíbrio íntimo indispensável à tarefa do amor, é necessário mostrar as garras, apresentar as armas, montar a guarda e se preciso até mesmo atirar para o alto, de forma que o outro entenda que para tudo existem limites que devem ser respeitados. Ainda assim, limitando-se ao necessário para manutenção da ordem, sempre haverão aqueles que acharão que o melhor é impor respeito pela força destruidora, pela punição indiscriminada e pela condução com mãos, pés, braços e pernas de ferro. Mas a regra vale somente quando eles estão isentos de serem o alvo. Mas como diz o Salmo 36 (37 em algumas versões): "Não te irrites com os que agem mal, nem invejes aos que praticam a iniquidade (...)"
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Antony Valentim é um ser comum, sem privilégios ou destaques que o diferenciem das demais pessoas. Devorador de livros, admirador de culturas religiosas sem preconceitos, e eterno aprendiz do Cristo. Mestre de nada, sábio de coisa alguma. Alguém como você, que chora, sorri, busca, luta, exercita a fé e cultiva no peito a doce flor da esperança. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Almas Gêmeas clicando aqui. |
