MUDANÇA – POR QUE É TÃO DIFICIL ENQUANTO TÃO NECESSÁRIA
Autor Osmar Francisco dos Santos
Assunto Almas GêmeasAtualizado em 26/08/2015 17:04:48
Segundo Heráclito (500 a C), “A única realidade é a mudança”. Lembro que já tive a oportunidade de mencionar isso em outros textos. O certo é que a incapacidade de mudar traz para muitos, perda de oportunidades valiosas. Hoje em dia a capacidade de mudar é considerada requisito fundamental para o exercício de certos cargos. Recordo-me de sua citação atribuída a Carlos Magno em que o Imperador é questionado por seus mais antigos generais o porquê da promoção de um mais jovem, uma vez que eles possuíam já tantos anos de caserna. O imperador olhou pela janela e viu um burro puxando uma carroça e justificou a sua escolha: “Tá vendo aquele burro puxando aquela carroça? Ele já o faz há muitos anos, no entanto nada o qualifica para ser capaz de fazer outra coisa”.
A vida é acima de tudo movimento. Tanto assim o é que uma das questões mais importantes da origem da vida está contida no que se chama de evolução “pre-biótica”. O bioquímico russo Alexander Oparin, em sua clássica obra “A Origem da vida”, demonstra uma questão aceita pela comunidade científica que existe uma evolução da matéria inanimada que deve ter começado algum tempo antes do surgimento das primeiras células vivas. Essa realidade pode, dentro da Biologia ser interpretada pelo que Jung chamou de “arquétipo”, ou seja, um núcleo de energia de onde emana toda a psique, sendo também seu fator de organização. Poderíamos compreender melhor imaginando a capacidade dos pássaros a voar, ou dos peixes a nadar. Pois bem entre essa fonte inicial da vida e todo seu desenvolvimento, para retornar ao eterno arquétipo, está a necessidade de mudança.
Mas porque tanta resistência? Nos estudos quânticos que nos mostra que a matéria e a energia não comporta exatamente como nos mostra nossos sentidos. Somente com a capacidade tecnológica de enxergar a matéria e a energia em pequenas escalas, pudemos nos inteirar que nossos sentidos são limitados e nos iludem. Ainda segundo a Física Quântica, nossos conceitos sobre a realidade criam “trilhas sinápticas”, caminhos demarcados que, às vezes nos impedem de renovar nossos pensamentos, nossos conceitos. Fazemos isso sem perceber, porque necessitamos ter controle para nos sentirmos seguros, mesmo que seja uma segurança pobre e ilusória. Por outro lado a necessidade de controle vem do medo. O medo por seu lado nos faz associar e grupos que nos induz a acreditar a acreditar que sabem o que é melhor para nós.
Segundo Hillman, (James Hillman – Paranóia – Editora Vozes – Petrópolis – 1993) “Se nos pedissem para caracterizar a vida da religião nos termos mais amplos possíveis, diríamos que ela consiste na crença de que há uma ordem invisível, e que nosso bem supremo reside em estarmos em harmonia com essa ordem. Essa crença e este ajuste formam a atitude religiosa da alma”. Faço referência à atitude religiosa porque a religião consiste no maior fator de alienação que se sabe. Tanto assim o é que os mais radicais matam pelos seus ídolos.
Ontem estive numa reunião de pessoas inteligentes e bem sucedidas onde eram exaltados os heróis, principalmente os da Mitologia Grega, as pessoas chegavam a se emocionar relatando seus feitos, os quais hoje não teriam muito sentido. As mudanças que tais fatos trouxeram não eram comentadas, apenas a parte histórica era vivida como um horizonte perdido que não volta do qual nos restou apenas saudade melancólica e paralisante, pois histórias e obras de arte retratam a ação de tais heróis em cenários estranhos à realidade presente. Segundo Jung: “Infelizmente, no entanto, sua façanha heroica não tem efeitos duradouros. Sempre o herói deve renovar sua batalha...”. Quando montamos o cenário com imagens gloriosas de heróis e relatamos seus feitos, nada pode ser mais alienante e impeditivo para mudanças. As imagens exercem um poder extraordinário sobre as pessoas, pois são criadas nas mídias, nos jornais, nos filmes e na televisão, principalmente pelas indústrias do entretenimento nos passando falsas ideias de sucesso e felicidade, justiça e bondade adequada. Na verdade as imagens são um poderoso meio de exercer poder sobre as pessoas tornando-as subservientes e desconectando-as de suas verdadeiras realidades, sem o uso da força física ou da violência, as pessoas entregam seus direitos a terceiros que se dizem capazes de conduzi-los.
Ninguém consegue promover mudança significativa a não ser voltando para dentro de si mesmo e se descobrindo. Nem sempre o que descobrimos nos agrada, entretanto é através de nossa própria ferida que podemos crescer. Às vezes a dificuldade de mudança é tão grande que um político se candidata a determinado cargo que sabe que não tem chance de vitória, mas o faz apenas para ficar conhecido. O que faz do Serra um dos principais candidatos de seu partido é fato de ele já ter concorrido várias vezes, embora não tenha ganhado nenhuma a nível nacional. A dificuldade de mudança é tão grande que semana passada a Câmara Federal manteve o mandato de um deputado mesmo sendo ele um detento, julgado e condenado.
Nos meus trabalhos em psicoterapia sou sempre procurado por questões afetivas, pois as mudanças profundas por que passam a humanidade impões novos parâmetros nas relações afetivas. Com a necessária emancipação da mulher, mesmo que num primeiro momento esta emancipação se baseia nas mesmas características do mundo machista, afetando a indispensável identidade de tudo que é importante tudo que é bom no feminino. Esses parâmetros dos quais falo consistem essencialmente numa nova atitude nos papéis do masculino, como já tive a oportunidade de escrever a respeito da crise de identidade masculina, de que hoje carece um mundo. Atitudes que fazem com que os ditadores desalmados abandonem o poder para evitar o derramamento de sangue de inocentes; atitudes que fazem com que os gestores dos bens públicos, não se deixem levar pela ilusão de amealhar bens a qualquer custo; Atitudes que fazem com que juízes os mais graduados, que tem por missão sagrada assegurar o cumprimento da justiça, não se vendam por interesses corporativistas daqueles que os nomearam, dando interpretação sofista as leis de modo a enganar ou retardar a justiça. Neste caso, as instituições corporativas, representativas de classe, apoiam em suas manifestações o Juiz demagogo e desonesto em detrimento de quem tem a coragem de lhe lançar a verdade nua crua na cara. Essas mudanças são, a nível institucional as que mais necessitamos.
A mudança que tem se operado no conceito de família, a qual ocorre perante nossos olhos, sem que de fato a compreendemos, se deve a causa da falta da paternidade. A paternidade em si não á exercida consanguinidade ou outro poder qualquer, mas trata-se um aspecto arquetípico de que é investido o pai ou quem exerce seu papel. Segundo novamente James Hillman (O livro do puer – Editora Paulus – Petrópolis – 1999) “...O pai que falta não é o seu ou o meu pai pessoal. É o pai ausente da nossa cultura, o senex (o mago) vivo que fornece não o pão de cada dia, mas o espírito através do significado e da ordem. O pai que falta é o Deus morto que se constituía em foco de tudo que é espiritual. Sem esse foco, voltamo-nos para sonhos e oráculos...”. Por isso, no Novo Testamento se fala tanto no Pai. Essa é a grande e necessária mudança que precisamos quer no âmbito da família e nas qualidades necessárias aos homens públicos que representam o pai coletivo. [email protected]
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•Participante do Núcleo de estudo Junguiano do Rio de Janeiro; •Palestrante e autor de trabalhos sobre Psicologia Junguiana publicados em revistas universitárias e outras; •Psicoterapeuta transpessoal da linha Junguiana; •Administrador de Empresas e Consultor de Qualidade Total na Área de Recursos Humanos. •Atuação em Consultório particular. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Almas Gêmeas clicando aqui. |
