OS JASMINS DE NOVEMBRO

   

Autor Christina Nunes

Acabo de sair da segunda cirurgia de catarata do ano e não esperaria este presente de Deus.

O meu jasmineiro andava seco. Eu passava pelo pequeno jardinzinho de casa durante os últimos meses de estiagem implacável no Rio de Janeiro, e julgava mesmo que a plantinha havia sucumbido sob os efeitos inclementes de semanas seguidas de calor infernal castigando a minha varanda.

Afora a azaléia frondosa postada num ângulo de meia luz, que oferece flores o ano todo, somente os pés de orquídea foram pontuais à época da florada anual, comum aos tempos em que as estações climáticas ainda eram bem demarcadas. No jasmineiro ressequido, não havia sequer mais folhas nas ramagens estioladas, e eu lamentava, porque dentre as espécies de jasmins, aquela é a que nos presenteia com um perfume inebriante, único, durante as noites de verão.

Há alguns dias, pouco antes do dia em que me submeti à operação bem sucedida para cumprir posterior período de repouso em casa, eis que, para minha grata surpresa, do nada, de um dia para o outro, a plantinha rebentou uma sucessão de brotos verdes a partir dos longos caules, até então aparentemente sem vida. Uma prodigalidade de folhinhas verdes se espalhou com grande velocidade em todo o pé de jasmim, e, ao final de terceiro dia desta mágica da natureza, reparava que não apenas as pequenas folhas proliferavam; também incontáveis pequenos botões de flores surgiam, simultâneos, prometendo uma florada de jasmins como nunca antes acontecera desde que trouxera para casa o pequeno brotinho de jasmineiro, plantando-o no grande vaso, para que dividisse espaço com o também já desenvolvido pé de alamanda que, vá lá, é parcimonioso na floração anual, mas que vez por outra também me presenteia com suas lindas e grandes flores amarelas de suave aroma! 

Então, após a cirurgia na quarta-feira, como se me presenteando pela recuperação gradativa da capacidade visual plena também na vista esquerda, eis que, ao terceiro dia consecutivo, a festa da natureza começou. Senti, de inopino, na noite do sábado, um perfume inebriante se evolando a partir da varanda pelo ambiente da minha sala; abri a porta, e a comovente surpresa: inúmeros jasmins brancos pequeninos principiavam a desabrochar de uma só vez, embelezando e banhando o ambiente de minha casa com um aroma que jamais nenhuma essência artificial, por mais cara que seja, conseguirá imitar com perfeição!

As obras de Deus são exclusivas, únicas, irreproduzíveis! São presentes repletos de amor, porque nos são oferecidos de graça, pelo dom puro e simples da Criação de se doar incessantemente em favor do embelezamento da Vida; dom inerente a cada manifestação divina natural, espontânea, presente em nosso mundo e no universo que nos cerca, sem que muitos de nós, na maior parte do nosso tempo conturbado por superficialidades, dele sequer nos demos conta!

Graças ao bom Deus pelo dom da visão, que nos permite contemplar o Sol que diariamente nos inunda de Luz, de Vida e Saúde; como já nos lembrava S. Francisco, benditos sejam, os irmãos Sol, Lua, e as irmãs estrelas, e toda a cor, brilho, e a majestade perfeita da Natureza de Deus, de uma beleza profunda e infinita!

Avaliação: 5 | Votos: 10

     

Conteúdo desenvolvido pelo Autor Christina Nunes    Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Almas Gêmeas clicando aqui.