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PELO QUE VOCÊ SAI DA CAMA - PARTE 1

Atualizado dia 10/12/2008 5:44:27 PM em Almas Gêmeas
por Isabela Bisconcini


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Num belo dia você acorda e não tem a menor vontade de sair da cama. Não é depressão, ou talvez até seja, mas você não foi ainda diagnosticado. Você sente um vazio desconfortável, espaço enorme. Você conhece a engrenagem e sabe que tarefas e afazeres cotidianos não faltam. Talvez eles sejam sérios, pesados e exijam de você todo o tempo do seu dia. Mas falo de um vazio que desponta inconveniente, uma sensação como dor de dente que resolveu mostrar as caras numa hora “completamente imprópria” (como se nossas reais necessidades pudessem se submeter aos ditames dos nossos afazeres). Você não pára pra pensar e segue, levantando rápido. No dia seguinte, você tem um compromisso cedo, acorda já com a cabeça ocupada e sai correndo, atrasado. No final de semana talvez você durma um pouco mais e se distraia com os amigos, ou talvez aproveite para pôr em ordem as coisas sempre atrasadas da semana... E assim vai por um bom tempo, talvez (muitos) anos mesmo, dependendo do tamanho da engrenagem à qual você esteja atrelado. Mas um belo dia o desconforto volta e, por sorte, você não tem nenhum compromisso que o impeça de sentir a “desagradável” sensação. Então, você se pergunta: minha vida vale a pena? Não é que as coisas estejam horrorosas (seria mais fácil), só que de repente você começou a sentir uma dor oca e seca. Ou começou a sentir o medo de sentir essa dor, o que não é a dor propriamente ainda.

A questão é: pelo que você acha que realmente vale a pena se levantar da cama?

Quando a gente tem filhos a vida coloca um caminho na nossa frente e nos adequamos; passamos a ter uma boa razão pra fazer as coisas. O pedido de sentido encontra uma resposta. Não que os filhos por si já não sejam uma boa razão pra sair da cama e viver! Está tudo certo em cuidar da cria e honrar os frutos; mas será que são só eles que podem nos dar o rumo que precisamos? Será que precisamos que a vida nos coloque o caminho para seguirmos, ou conseguimos escolher um caminho?

Vi um amigo passar pela sentença de morte dada pelo médico pelo menos três vezes na vida. Por ter nascido com uma doença congênita de coração, até os 18 anos ele viveu a vida em uma redoma, sendo absolutamente privado de usar seu corpo. Quando jovem, ele colocou uma válvula animal no coração. Ele conta que, num dado momento, sinceramente passou a não mais temer a morte (ou preferiu morrer a continuar vivendo daquele jeito) e passou, então, a não mais se limitar, fazendo esportes e correndo riscos. Estourou a válvula animal que teve de ser substituída por outra artificial - essa mais resistente -, ficou em coma duas vezes, numa delas por quase um mês. Desde a infância toma remédios anticoagulantes diariamente (e, portanto, não pode absolutamente se cortar), mas trabalha com esportes-aventura e ecoturismo! Sua vida é risco! Não bastasse uma infância e adolescência vividas em médicos, com 30 e poucos anos descobriu que tinha câncer de pele, e já com metástase. Pela terceira vez ouviu o médico dizer-lhe: “você tem 3-6 meses de vida”. Ele conta que internamente sentiu: “eu NÃO POSSO morrer, eu tenho que mostrar para as pessoas que a natureza é importante, e que elas precisam sentir o que é estar na natureza”. Presenciei seu medo, mas sua decisão de que havia algo absolutamente imprescindível a ser feito e o encontro com um xamã curador no Peru lhe garantiram a volta aos médicos meses depois para vê-los dizerem surpresos que devem ter errado o diagnóstico, porque simplesmente ele não tinha nada, menos ainda câncer.

Bem, pessoalmente acredito que os médicos não erraram o diagnóstico, mas que o forte senso de propósito, de missão, de chamado interno a fazer algo que meu amigo sentiu, fez com que algo nele se recolocasse perante a vida e que a doença não mais tivesse espaço nesse cenário, de forma que uma cura espontânea se deu. A doença faz parte de nossas vidas, não se trata de negá-la ou de pregar a apologia ao super-homem, como se nosso ego pudesse deliberar a hora de chegar e partir desta cena. Ou como se nossos avanços tecno-estéticos-longevídicos nos poupassem de encarar a inevitável limitação e finitude de nossos corpos. Não, de fato, o que noto é que realmente o chamado era de outra ordem e nada egóico; tinha a ver com uma chama à qual respeitosamente se serve. Diante disso, tudo em nós se reconfigura. E no caso dele não se tratou de um contexto explicitamente espiritual. 

Mas, voltando a você: o que para você tem realmente essa cara de “por causa disso vale a pena”, “isso me motiva, me dá energias pra levantar da cama”? Sabe criança, quando espera contando os dias para algo acontecer? É mais ou menos dessa qualidade que falo. A propósito disso comecei a perguntar a algumas pessoas à minha volta o que as tira da cama com felicidade... Ouvi desde fome (saudável) até expressões de estranhamento de quem acha que a pergunta é descabida e com desconforto, sem saber como responder e desconversando, se entrega: “mas sabe que a minha planta lá em casa deu uma pinha e era tão bonitinha!”

Com essa frase compreendi que querer se levantar, mesmo que você não tenha um forte senso de propósito consciente na vida, como alguns sentem e como meu amigo sentiu, para simplesmente deixar-se tocar, surpreender-se e poder abrir-se, tendo espaço aberto e sendo continente para o imprevisto, o inusitado, é a maneira de se colocar em movimento com confiança. É a maneira de sentir-se valendo a pena sem ter uma Causa à qual servir. E talvez seja a Causa mais segura: abrir mão do condicionado em si, desconstruir-se, descondicionar-se, deixar-se impressionar, tocar e ser tocado, abrir-se. Afinal, por que queremos tanto nos sentir apaixonados? Por que perseguimos essa sensação? Por que ela nos traz essa abertura e sensação de frescor e de algo novo em nossas vidas... e isso vale a pena!

Pelo que você sai da cama - Parte 2

Texto revisado por Cris


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Conteúdo desenvolvido por: Isabela Bisconcini   
Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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