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Quando emerge o cultural atrofia-se o biológico?

Atualizado dia 4/19/2007 12:37:26 AM em Almas Gêmeas
por Samuel Macêdo Guimarães


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Ao abrir debate sobre a relação entre o cultural e o biológico busca-se refletir sobre a dificuldade em estabelecer comparações entre aquilo que é construído e aquilo que é o que é. Um dilema deveras muito instigante. Se fosse possível responder a estes dilemas, tentaria numa forma poética, que expusesse e denunciasse certos anacronismos existentes naqueles pensamentos dos que se vangloriam de saber a resposta para todos os dilemas e assim, quando tentam responde-los, aprisionam a consciência dos seres humanos em caixinhas descoloridas apresentando desarmonias com as mesmices da contemporânea aculturação quase que generalizada desconstruindo se possível as subjetividades, impedindo as alteridades com a uniformização do gesto que só pode ser gesto se nasce múltiplo, quando em si mesmo lhe é permitido expressar-se.

Dois momentos ímpares da literatura universal se mostram levando-nos a refletir sobre ser e não ser. Shakespeare nos disse: “Ser ou não ser. Eis a questão! ” e Pablo Neruda por sua vez também nos apresenta a sua versão sobre tal dilema: “Talvez não ser é ser sem que tu saibas”. E como o tempo elabora semânticas de viver muito mais pelo que foi vivido, não resisto a tentação de ser poeta, não da maneira do grande poetinha Vinícius de Morais que em cada palavra, rompia os gestos estereotipados e inaugurava novas culturas que transformavam o cultural em biologia viva. Nem mesmo como Tom Jobim que quando cantava a natureza, transcendia também, do biológico para o cultural. Enfim, auscultar as linguagens que o coração metafórico tem a dizer ao coração biológico e, nesta dialogicidade, o sujeito se instituído, constitua também o outro que o transforma em pessoa.

Se não tivéssemos a compreensão de que o coração pulsa. Poderíamos dizer que a sístole quando vista isoladamente é um coração atrofiado e que a diástole é um coração inchado de orgulho de si mesmo. Mas quando olhamos os dois movimentos juntos promovendo a pulsação nos ensinando de que algo é vivo por que pulsa, não teria alternativa outra alternativa neste contexto a não fosse a de afirmar: isso é poesia... também é biologia. Daí perguntar: A cultura que emerge dos desejos, nasce de algum lugar além do vazio das necessidades biológicas? O Biológico que emerge das necessidades da ânsia de preencher o vazio da vida que quer viver, nasce de algum lugar além do vazio dos desejos?

E enfim, a resposta em forma de poesia. Não que seja poeta. Mas por sentir que posso ser múltiplo sem deixar de ser nas dúvidas vividas e não vividas dos desejos e necessidades que pela magia da poesia se transforma tantas vezes em carne emocionada, apenas e apenasmente por que pulsa. Essa vida que é matéria e que se elabora e reelabora na relação entre saber e poder, na transcendência e na subjeção entre forma e função também diz por que dizer é cultura nascida dessa biologia. E assim responde:

CORPO, CULTURA E BIOLOGIA

Pulsa tempo
Pulsa vento
Nasce e se põe Sol
Chora e também ri homem
Mulher, menino, menina
Velho e velha
Vocês são as minhas cicatrizes
Guardadas em mim
Como um tesouro
No baú da eternidade
Que se expõem
A cada lampejo de consciência
Vocês dormem em mim
E a cada minuto
Me assusto
E acordo
Como flecha
Em arco retesado
A espera do lançamento
Na objetividade do tempo
Em uma ou alguma direção

A minha biologia não te alcança
Na linearidade deste viver
Mas a cultura me planta
Na radialidade de cada acontecer

Sou corpo,
Sou homem,
Sou Ser
Sou a própria biologia
que se veste de cultura
Sou a própria cultura
que se ilumina na biologia?

Eu Sou responde:
“Não filho meu, não!
Muito mais!
Muito mais...

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Samuel Macêdo Guimarães   
Formação em Psicoterapia Corporal Neo-Reichiana, Psicoterapia Corporal para Crianças e Adolescentes, Psicoterapia Holográfica. Mestre em Educação Física, Consultor de Bem Estar.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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