Reconstruções!
Atualizado dia 31/10/2015 09:00:13 em Almas Gêmeaspor Paulo Salvio Antolini
Quando alguém chega a essa conclusão, já retira algo de muito positivo que é a percepção da necessidade de se fazer diferente, assim como é preciso que tenha a consciência de que o perceber isso em sua vida também se deve ao fato de ser quem é pelo tudo que foi.
Um filho que se queixa do pai e que prega insistentemente que não será igual a ele, se esquece de que, por pior que o pai tenha sido ele, filho, tem essa visão exatamente por ter passado por tudo que passou. Os pais são fundamentais na formação de seus filhos. Se seu pai tivesse sido diferente, ele também teria desenvolvido características outras, que hoje não se sabe quais seriam.
Não importa a idade, antes tarde do que mais tarde!
Exatamente. É evidente que os anos pesam, retiram muito da energia e disposição de enfrentamento que quando mais jovens se possui. Porém, sempre é possível encontrar uma nova forma de se posicionar no mundo quando se percebe que a atual perdeu seu significado, não lhe diz mais nada, lhe é perniciosa.
Lembro-me de uma senhora que permitiu a seu marido e seus filhos fazerem-na de verdadeira empregada. Só a notavam na ausência de seus afazeres. Quando tudo estava em ordem, ela nem era percebida. Estar presente às refeições eles eram indiferentes, mas se algo na comida não fosse do agrado logo diziam “cadê a mãe?”.
Após o choque da consciência, assunto para outro artigo, resolveu mudar. E o fez. Apenas definiu o que realmente era de sua responsabilidade e o que pertencia aos demais, marido e filhos. Com muita calma, segundo me contou, comunicou a eles que a partir daquela data estava ocorrendo uma redistribuição de responsabilidades.
Não obteve críticas, apenas risos e até gargalhadas. Não acreditaram. Começou por não mais recolher as roupas usadas e jogadas por todos os cantos dos quartos. Eles sabiam que havia um cesto só para elas. Já no primeiro dia escutou algumas reclamações, pois os quartos, embora limpos e camas arrumadas, tinham por cima as roupas abandonadas pelos mesmos.
A casa passou por um “período de guerra”, ameaças choveram de todos os lados. Ela continuou amorosa, porém firme. A cada queixa ou acusação, respondia com um sorriso e os lembrava de suas responsabilidades, não dela. Por dentro existia uma grande dor, acompanhada de enorme tristeza. Um dos filhos chegou até a sair de casa por um período. Em pouco tempo, retornou, pois para onde foi recebeu fortes cobranças sobre suas responsabilidades em compartilhar com a arrumação da casa. Atualmente sua família a vê com outros olhos. Conforme ela me disse: “Voltei a ser membro da família”.
Reconstrução significa construir novamente. Muitas vezes é necessária a desconstrução de algo para dar lugar a uma nova forma de existir. Mas nem sempre a desconstrução vai às últimas consequências. Nem sempre o casamento precisa ser desfeito. Nem sempre é preciso pedir a conta do emprego. Embora haja casos onde isso se torna uma das únicas opções.
É possível reconstruir fazendo as mesmas coisas de forma diferente. Para tanto, é necessário perceber e aceitar a necessidade da mudança, mudança essa que depende basicamente da pessoa que deseja reconstruir.
Quando isso ocorre, as reações externas vão desde a rejeição total até à surpresa e boa aceitação dos que convivem com a pessoa. Porém, o mais importante é que ela, a pessoa que está se reconstruindo, sente a convicção de seus acertos em suas novas atitudes. Pode até se entristecer por ver pessoas queridas não a compreenderem, mas não mais cede a pressões externas ou mesmo reluta em modificar opções feitas por si mesma e que agora precisam ser alteradas.
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