Cárceres emocionais que nos adoecem
Atualizado dia 26/02/2016 19:03:30 em Autoajudapor Adriana Garibaldi
Muitas vezes não são fatos de grande relevância emocional, como mortes prematuras ou catástrofes econômicas ou familiares que nos lançam nesse mar escuro e sombrio, chamado depressão, mas as pequenas dores, as frustrações repetidas, os relacionamentos tóxicos, as desilusões que quebram expetativas na maioria das vezes ilusórias, partindo nosso eixo emocional em pedaços minando-nos por dentro, de tal forma que não somos capazes de detectar onde se iniciou o processo que nos levou a esse estado de adoecimento.
Uma despedida ou a iminência de uma despedida é um duelo e, nesse processo, acontecem algumas coisas, algumas delas dolorosas que nos fazem sentir a necessidade de nos apegarmos ao impossível, custa-nos fechar ciclos que precisam ser fechados, lamber as feridas da alma e seguir em frente por um outro caminho, como se um certo masoquismo nos acompanhasse irremediavelmente.
Afirmamos desejar a felicidade e provocamos nossa própria desdita de forma quase inconsciente nos apegando a situações ou relacionamentos que já cumpriram seu papel nas nossas vidas. Muitas vezes ficamos presos a uma situação que produz marcas de dor irreversível em nosso coração, e mesmo tendo absoluta consciência disso, insistimos em continuar batendo numa mesma tecla que nunca será capaz de nos brindar com a doce melodia que desejaríamos ouvir.
Fazemos de conta que tudo está bem quando em realidade sabemos que não está, que precisamos mudar, não uma coisa, não somente aquele relacionamento, não uma área determinada da vida, mas tudo, absolutamente tudo para, de alguma forma, sermos capazes de continuar vivendo. Aí chega uma hora em que uma profunda reflexão se faz necessária e urgente.
Por que insistimos naquilo que sabemos ter chegado ao fim e rejeitamos a possibilidade de vivenciar outras coisas como se tivéssemos adquirido certa resistência à felicidade, um comportamento masoquista ou auto-obsessivo, um inimigo oculto em alguma parte de nossa psiquismo que nos faz viver uma vida às avessas, pendurados de cabeça para baixo tal qual o cidadão retratado na lâmina do Tarot do Enforcado, uma figura estranha que se submete voluntariamente a uma condição de imobilidade da qual poderia se safar se assim o desejar, se assim o determinar. Contudo não quer, ou se quer, não tem força suficiente de fazê-lo. Ficamos em suspense esperando que algo vindo de fora nos liberte, algo que nos outorgue um impulso suficientemente decisivo para nos soltar. Porém, ninguém vem para nos tirar da forca, da situação que resignadamente aceitamos como se não tivéssemos outra escolha.
Sentimo-nos desmotivados para continuar a própria vida, num cenário muito vago de sombras imprecisas e esperanças que jazem ao longe, distantes, ausentes, e mentimos para nós e para os outros dizendo que tudo está bem sem nos darmos conta que ficamos repetindo o mesmo gesto de negação que já aprendemos no passado, escondendo debaixo do tapete as nossas angústias, pensando que desaparecerão de nossa realidade magicamente se não olharmos para eles.
Situações frustrantes que desmoronam castelos de areia que por algum tempo sustentamos como uma forma de refúgio, mesmo sabendo de antemão se tratar de um refúgio fictício destinados ao fracasso. Se você ainda não teve essa experiência, talvez um dia a tenha. A vida que normalmente se move num diapasão, ora descendente ora ascendente, de repente se estabiliza num patamar onde nada ocorre e a saída nunca é óbvia. Estacionamos num espécie de marasmo dos sentidos, no qual todas as ilusões e os desejos, as emoções e os quereres dão lugar a uma letargia sombria, uma acomodação para aquilo que não tem remédio para o qual a única saída possível parece ser fazermos de conta que tudo está bem, que tudo é o que deveria ser e somente resta nos conformar.
Reaja! Dizemos para nós mesmos. Você precisa encontrar motivação, motivos para a ação. E conjeturamos conosco que às vezes a vida nos dá um xeque-mate para despertamos forças internas adormecidas. No entanto, pensamentos como este que fazem parte de nosso repertório interno do tipo livro de autoajuda, não parecem ter força suficiente para nos convencer a abandonarmos o vitimismo, pulando para fora do pântano que criamos.
Não é nada fácil, principalmente para quem já está acostumado a repetir um paradigma no qual a equação da própria vida resumia-se a ser útil para o outro, útil para alguém, sem sermos úteis para nós, negando-nos a desempenhar um novo papel que mude nosso sistema de crenças que já não nos serve por uma outra que diga respeito a fazermos algo por nós, que valha a pena para nós.
Improvisar motivos, onde antes não existiam, parece ser a saída. Construir aspirações reais que nos sustentem pode não ser fácil mais é o único caminho possível para, apesar de tudo, continuarmos vivendo e tendo esperanças.
Texto revisado
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