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Julgue Menos

Atualizado dia 1/4/2016 5:52:03 PM em Autoajuda
por Antony Valentim


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Ele era um jovem inteligente, que veio ao mundo para impactar a vida das pessoas com o pioneirismo e o estimular de novos sonhos.
Mas cresceu em uma família onde era comum falar palavrões. Não raro, os pais usavam de extremada arrogância no trato com subalternos, vendedores de lojas, garçons e pessoas diversas em posições teoricamente inferiores à sua situação socioeconômica. Ouvia, com dilatada frequência, que era inadmissível ser pacífico, e humilhar pessoas era sempre a opção primeira. Ser manso e agir com paciência? Somente os fracos fazem isso. Foi-lhe pregado que a violência era o mínimo para com aqueles que o enfrentassem. Aprendeu a ser “macho”. Se chegasse em casa ferido por uma briga, apanhava. Não se embebedar era para os frouxos. Aprendeu desde a infância que as pessoas eram cruéis e, por isso, não mereciam ser tratadas com mansidão. Xingar e falar mal dos outros era lição de berço, e fazer diferente disso também era motivo para apanhar – ou no mínimo ser chacoteado por tantos. De espiritualidade mesmo, pouco ouviu. Era obrigado a fazer uma ou outra atividade na igreja, mas fingia ir. Fazia parte do pacote de “se dar bem na vida” aprender a mentir e esconder a mentira.

O tempo passou, e com sementes de inferioridade tão bem plantadas, o menino se tornou adulto cuja maior habilidade era a briga, o enfrentamento, a afronta e o “não levar desaforo para casa”. Sua forma de agir em relação a diversas circunstâncias gerava temor, e tantas bênçãos deixaram de ser aproveitadas pela violência no trato. Naturalmente possuía qualidades agradáveis, mas, via de regra, ao primeiro sinal de desarmonia ou aborrecimento, reproduzia o que aprendera na infância vociferando e praguejando contra tudo e contra todos – inclusive contra pessoas da própria família, quando não as mesmas, das quais aprendeu tais comportamentos. Deixar alguém levar vantagem sobre ele era a morte. Mesmo manter-se calado diante de uma ofensa era impossível. Até que um dia, toda a rispidez daquela personalidade encontrou nas drogas a válvula de escape. O mergulho foi profundo. Tornou-se mais que usuário: já se tornava referência “no meio” por sua capacidade de conhecer e explicar todos os pormenores do mundo obscuro dos entorpecentes, e se sentia feliz por isso. Já não conseguia mais viver sem as drogas.

A relação com a família já não era das melhores quando a bomba dos entorpecentes a tornou consideravelmente pior. Mais brigas, mais discussões, mais violência, mais desarmonia. A mesma base de indolência que aquela individualidade assimilou para si, agora era usada contra ela própria. Como se não bastasse receber uma pesada culpa por ter uma personalidade difícil – estimulada pelos próprios pais e pela total ausência de espiritualidade na formação de sua personalidade até os 7 anos de idade – agora era julgado por ter escolhido o caminho das drogas ilícitas, e impropérios eram lançados em sua face como golpes vigorosos a incentivar-lhe o afastamento. Os familiares não percebiam que estavam diante de algo que eles próprios criaram e aquele ser não percebia que não estava diante de inimigos. Muitos dos golpes verbais que recebia eram como talhadas de facão do agricultor que plantou uma árvore e desejava que uma espécie diferente nascesse daquelas sementes. Mas não se colhe figos de abrolhos. Aquela individualidade seguiu o caminho natural diante de todo o estímulo inferior que recebeu.

Até que se afastou da família. Foram anos distante, com intenso uso de entorpecentes e práticas extremamente inconfessáveis. E não somente a família daquela individualidade sofria as consequências da própria negligência, mas ela própria colhia amargos frutos do que ela mesma plantava ao externar tudo aquilo que moldou sua personalidade, e ao fazer sempre as escolhas mais difíceis. No perímetro espiritual, forças sinistras se aproveitavam da situação e estabeleciam uma conexão cada vez mais uníssona com a individualidade e também com os familiares. O completo afastamento das questões da alma impedia qualquer intervenção direta da luz, embora a providência divina sempre estivesse a postos. É sobre os soldados mais vigorosos, com as missões mais importantes, que as forças trevosas se levantam.

Um dia, as potências celestes se aproveitaram de um profundo momento de dor da individualidade – que sentia completo abandono – e insuflaram novos pensamentos, novas ideias, novos cenários, novas possibilidades críveis e estrondosas injeções de esperança. Um convite irrecusável a se aproximar do Eterno, e a entregar a Ele toda a sobrecarga que as atitudes incautas provocaram. Aos poucos, as rotinas foram se modificando, as ideias foram se renovando e uma nova esperança começou a brotar em seu coração. Não há força que resista à luz quando o amor do Pai toca o coração com vigor. E a reconstrução do ser estava iniciada. Dia a dia, experiência à experiência, passo a passo, todas as larvas mentais degenerativas iam dando lugar à formação de uma nova criatura, e uma nova cultura. O uso dos entorpecentes foi suprimido definitiva e conscientemente, sem imposições ou ordens, sem a tola violência de ameaças ou enfrentamentos, e com essa supressão, toda a sucessão de consequências infelizes causadas também foi interrompida. Uma nova chance estava sendo concedida àquele ser. Embora a personalidade daquele rapaz ainda tivesse raízes profundas nos comezinhos humanos, a vontade de ser maior e assumir seu correto papel no mundo era vigorosa. Uma gloriosa vitória para quem se deixou tocar pelas hostes celestes e reconheceu em si mesmo a urgente necessidade de regeneração. Muito trabalho, muito esforço, muita dedicação e o sincero compromisso de, gradativamente, na velocidade em que sua personalidade conseguisse suportar, refazer sua conexão com o Divino.

Sabendo dos novos rumos que tomou a vida daquele ser, a família se dispôs a acolhê-lo com todo o amor e carinho. O que encontraram foi um ser renovado. Abraços, histórias, lembranças, casos, perspectivas de futuro e declarações de novos caminhos. Laços se fortaleceram e genuína felicidade brotou no coração daqueles que torciam por ele. O fato de ter interrompido o uso de drogas, então, foi o motivo maior da celebração. A harmonia era convidada a entrar de novo naquela família, tão surrada pelas dores dos vícios mentais do mundo. Aquela criatura havia definitivamente mudado suas escolhas e estava diante de uma alteração inquestionável – para melhor. A libertação do uso das drogas era o estandarte e a disposição em se tornar uma pessoa melhor era seu foco. Sabia e reconhecia que em muito precisaria melhorar ainda, mas carregava na mochila não mais os velhos conceitos do mundo: vivia uma nova realidade, a de ressurgir em si mesmo. Conheceu o Cristo, sentiu seu amor, falava do Pai e aos poucos, ia deixando Deus entrar em sua vida.

Algumas pessoas porém, viciadas que estavam na conexão inferiorizada com o charco do mundo, e acostumadas a ver hipocrisia em tudo, ao verem aquele movimento, logo proclamavam:

“Deve estar mudando só por interesse”; 
“Tenho certeza que isso é uma falácia”; 
“Aquele viciado em drogas agora falando de Deus? Impossível”; 
“Só parou de usar drogas mas continua com a mesma personalidade irascível”. 

Entre outros impropérios, perdiam, lamentavelmente, a oportunidade de assistirem à mais bela obra do Pai: o acolhimento de um filho sinceramente disposto a se tornar uma pessoa melhor, ou porque não dizer, “a volta do filho pródigo aos braços do Pai”.

Somos assim. 
Se nossos irmãos de humanidade estão vinculados aos mais obscuros hábitos, julgamos. 
Se começam a melhorar, julgamos. 
Se se livram de prisões tenebrosas como a das drogas, ainda não é suficiente, e julgamos.
Se não fazem exatamente o que queremos que façam, como se fôssemos detentores das escolhas do outro, julgamos. 
Se começam a evitar companhias doentias, ainda assim não atendem à expectativa dos exigentes expectadores – quando não são acusados por deixar de lado “os amigos”. 

Somos juízes afiados. 
Matamos os sonhos de Deus na vida das pessoas com cada ato de julgamento, desconfiança, manipulação ou violência verbal que acusa, fere, malogra e contamina a alma que tenta se reerguer. Confundimos o “tornar-se uma pessoa melhor” com “mudar e fazer o que eu quero que faça”. Se não for do nosso jeito, não serve.
Queremos mudar as pessoas a golpes verbais, mas nunca pelo exemplo.
Falamos do cisco do uso das drogas no olho do outro, mas não percebemos a trave do abuso das bebidas no nosso próprio olho - entre outros tantos hábitos infelizes a que nos entregamos.

Somos exigentes com os outros, esquecendo que um dia poderemos ser nós a passar pelo que o outro vivencia hoje, ou quem sabe, um filho nosso. E então? Teremos condições de agir no futuro consoante ao que ditamos para o outro no presente? Até quando vamos maldizer quem tenta se melhorar sem tentar antes melhorar a nós mesmos? Se a vontade de mudar e melhorar que há no outro for obra da hipocrisia, disfarce, ou interesses indignos, o que temos nós com isso? Cada um responderá a seu tempo, perante a justiça divina - ou a dos homens - por cada falha que tiver cometido. Não cabem a nós tolices de separatismo quando o outro começa a sair do charco, só porque não se lava dos resíduos imediatamente. A restauração é um processo. Sem citar quando extirpamos o outro de nossa convivência apenas por deixar nossas inúteis paranoias ditarem os rumos de uma relação que poderia ser o despertar de uma nova era na vida de tantas pessoas.

André Luiz, o grande médico carioca, escreve pelas nobilíssimas mãos de Chico Xavier:

“Não acuse o irmão que parece mais abastado. Talvez seja simples escravo de compromissos.
Não condene o companheiro guindado à autoridade. É provável seja ele mero devedor da multidão.
Não inveje aquele que administra, enquanto você obedece. Muitas vezes, é um torturado.
Não menospreze o colega conduzido a maior destaque. A responsabilidade que lhe pesa nos ombros pode ser um tormento incessante.
Não censure a mulher que se apresenta suntuosamente. O luxo, provavelmente, lhe constitui amarga provação.
Não critique as pessoas gentis que parecem insinceras, à primeira vista. Possivelmente, estarão evitando enormes crimes ou grandes desânimos.
Não se agaste com o amigo mal-humorado. Você não lhe conhece todas as dificuldades íntimas. 
Não se aborreça com a pessoa de conversação ainda fútil. Você também era assim quando lhe faltava experiência.
Não murmure contra os jovens menos responsáveis. Ajude-os, quanto estiver ao seu alcance, recordando que você já foi leviano para muita gente.
Não seja intolerante em situação alguma. O relógio bate, incessante, e você será surpreendido por inúmeros problemas difíceis em seu caminho e no caminho daqueles que você ama".

Pense nisso, julgue menos, e entenda: quando o Cristo disse "não julgueis, para que não sejais julgados", ele falava sério. O que vai, volta.

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Conteúdo desenvolvido por: Antony Valentim   
Antony Valentim é um ser comum, sem privilégios ou destaques que o diferenciem das demais pessoas. Devorador de livros, admirador de culturas religiosas sem preconceitos, e eterno aprendiz do Cristo. Mestre de nada, sábio de coisa alguma. Alguém como você, que chora, sorri, busca, luta, exercita a fé e cultiva no peito a doce flor da esperança.
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