5º capítulo OS HOMENS TAMBEM SE ENTREGAM !
Atualizado dia 6/24/2007 2:32:27 PM em Autoconhecimentopor Lena Antabi
Depois de passarmos dias divertidos entre Buenos Aires e Bariloche, seguimos de volta ao Brasil. Viemos de ônibus até Montevidéu. Estava bastante animada e muito dinâmica, a nossa viagem.
Enquanto estávamos no saguão do hotel vi um belo e alto rapaz moreno que me acenava pedindo que aguardasse um instante enquanto ele terminava uma ligação telefônica. Esperei e ele veio falar comigo e minhas amigas. Convidou-me pra sair à noite e eu aceitei na condição de ir com mais uma amiga.
O grupo da excursão sempre me perguntava onde eu iria e como me informava sempre para saber o lugar mais badalado do momento já sabia que o ônibus chegaria a qualquer instante no local que tinha combinado com toda a turma. Isso era bom porque todo mundo acabava se encontrando e, também, me sentia mais alegre e segura. Era muito engraçado estar numa balada e de repente chegar toda a turminha de amigos brasileiros.
Saímos da balada caminhando à beira-mar, eu, Patrícia, minha amiga e um amigo também uruguaio do Carlos Hugo que me havia convidado. Passeamos de mãos dadas como namorados e olhávamos o céu, o mar, as estrelas... uma noite linda de luar com romantismo e ternura... pra ser sincera nem sei se rolou beijo na boca! Talvez uns selinhos... Na época só se beijava depois de estar namorando... esse tal de "ficar" da atualidade não existia naqueles tempos. Lembro-me bem de uma bonita sorveteria Kibon onde saboreamos sorvetes deliciosos! Quando nos demos conta já eram quatro horas da manhã e tínhamos que voltar para o hotel, fazer as malas e deixá-las na porta do quarto até as 6 horas, pois partiríamos rumo ao Brasil logo após o café da manhã.
Os rapazes acenaram para um táxi e indicaram o caminho do hotel ao motorista. Ali nos despedimos combinando de eu telefonar quando chegássemos ao nosso destino. Lembro da malandragem de Patrícia que disse estar sem dinheiro pra pagar o táxi que já ia zarpando e Carlos Hugo tirou de súbito tudo o que tinha na carteira e colocou na mão dela. No trajeto a critiquei: “Por que você fez isso? Nós temos dinheiro!” E ela respondeu: “Os homens que devem pagar!” Esta era a crença dela e eu me calei.
Logo que chegamos iniciamos a fazer as malas; ela foi minha companheira de quarto durante toda a viagem. Por sinal, se eu soubesse que era tão chatinha teria escolhido outra amiga para dividir o quarto. Estudávamos juntas, na mesma classe, no Externato Meira, onde fazíamos o curso para professora.
Lembrei-me de avisar o Carlos de que havíamos chegado sãs e salvas! Telefonei e para minha surpresa e susto atendeu o pai dele, um senhor muito gentil mesmo sendo acordado às 5 da manhã! Disse-me que ele ainda não havia chegado e que daria o recado. Desculpei-me e disse: "Nossa! Estou preocupada porque ele disse que morava perto de onde estávamos!" O pai, totalmente cavalheiro, respondeu: "Não se preocupe, ele é “hombre”! Ele é que deve se preocupar com você!" Também disse que seu filho já havia comentado que havia conhecido uma brasileira “muy hermosa”.
Bom, depois de uma meia hora o telefone tocou e era Carlos que havia chegado. Contou que teve que ir a pé para casa porque não tinha encontrado outro táxi! Senti o efeito da mentira da minha amiga na hora! Claro que ele havia ficado sem dinheiro! Mas mesmo assim me fez um lindo presente: tocou no piano a música “Fascination” para que eu ouvisse enquanto terminava de fazer minha confusa e bagunçada mala, com preguiça e vontade de ficar no Uruguai. E, ainda, minha amiga era uma chata! Reclamava que o fio do telefone estava impedindo-a de transitar no quarto. Penso que ela estava com ciúme da minha serenata! Antes de desligar Carlos pediu meu endereço: cidade, rua, número... e eu informei. Despedimo-nos e... bye bye...
Agora, relato algo muito interessante e bonito. Mulheres, prestem atenção!
Nunca mais vi, falei ou tive notícias desse rapaz educado, de berço, gentil e romântico... mas nunca me esqueci da música “Fascination” que ele tocou por telefone no amanhecer de Montevidéu! Num dia de 1999, fui a um evento do meu amigo Tito na Avenida Cidade Jardim, em São Paulo. Assim que cheguei meu amigo me apresentou a um homem: "Esta é minha amiga Lena, a maior designer de São Paulo. E este é meu amigo Carlos, o maior antiquário de São Paulo." Meu amigo Tito é exagerado na referência aos amigos... na verdade, ele é que é o maior amigo do mundo! O tal Carlos tomava um uísque e, olhando nos meus olhos, disse: “O teu nome não é Lena!” Um segundo de silêncio... “É Marilena A.....! E você morava na Avenida Brigadeiro...” e situou o número e até o andar! Eu me surpreendi! Como alguém que não me conhecia sabia detalhes da minha vida? Ainda mais porque fazia muitos anos que já me mudara desse endereço!
Ele me pegou pela cintura e disse: “Sou o Carlos e te conheci em Montevidéu, há 30 anos! Você se lembra? Por favor, preciso sentar já! Minhas pernas estão tremendo!” O copo com gelo tilintava e ele mal conseguia segura-lo! "Tito, eu me apaixonei por esta garota e procurei por ela a minha vida inteira!" Eu fiquei perplexa! “Como?! Como você me reconheceu?!” “Pelo seu olhar, seu sorriso e sua voz rouca...” Gente! Que coisa maravilhosa! Aí lembrei dele por causa do piano! A música “Fascinação”!
Ele foi se acalmando e contou o que se passou: “Você me disse apenas que se chamava Lena e eu não sabia seu sobrenome; me deu o nome da cidade, rua e número, mas apenas isso. Aí fui ao hotel e disse que a garota do quarto 36 havia esquecido os óculos comigo! Assim, consegui seu nome completo. Juntei uma grana, me meti num ônibus e vim pra São Paulo. Comecei a olhar nas listas telefônicas e nada de te achar! Minhas esperanças se reduziram a pó quando depois de alguns anos, quase nos anos 80, achei um número que batia com seus dados... liguei e constatei que, infelizmente, você já estava casada... E nesta noite tudo aconteceu! Sem esperar ou imaginar, nosso amigo Tito me convidou pra vir neste evento e aqui estou, frente a você! Sabe, Lena, passei estes anos todos lembrando do seu sorriso e mantendo a esperança de te reencontrar. Tenho listas telefônicas desde 1969! Foi assim que me tornei um colecionador de antiguidades... juntando listas telefônicas!”
Nós, mulheres, temos o hábito de dizer que os homens só pensam em sexo! Que os homens só querem ficar e tchau! E acabamos nos fixando nisso, repetindo esse estigma que, a meu ver, é totalmente equivocado! Os homens também são românticos e são capazes de passar uma vida inteira em busca de um sorriso ou de um olhar!
Como esta história que vivi, com certeza, existem infinitas outras semelhantes, porque os homens também se entregam!
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 48
Lena Antabi .Autora do livro *Os homens também se entregam* Escritora de artigos ,adora se comunicar com os *ANJOS* e também e designer. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |