A Arte de Parar
Autor Ana Maria Carvalho Prada
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 1/3/2010 2:04:57 PM
Terapeuta – Reiki Master
Contato (41) 9224-0651
No supermercado a criança jogou-se de bruços no chão, rindo deliciada consigo mesma; as mãozinhas apoiaram-se com firmeza no piso, depois rolou de barriga para cima ainda sorrindo, os enormes olhos cismadores olhando à volta cuidadosamente.
O pai, diante do inesperado, empurrou mais à frente o lotado carrinho de compras, incentivando a criança a se levantar – estava com pressa. Ao dar comigo sorrindo para seu filho, constrangeu-se, apanhou a criança e perdeu-se rapidamente no supermercado entre dezenas de humanos igualmente apressados. A cena, ou melhor, os olhos enormes e o sorriso da criança voltaram muitas vezes à minha memória durante a semana do natal e os dias que antecederam o ano novo.
Nós, os humanos, programamos cada vez mais cedo, nossos dias e os das nossas crianças e jovens. Agendas são compradas e presenteadas aos milhões, no mundo todo, para que controlemos os dias, as horas, minutos e segundos de nossas vidas e as vidas existentes à nossa volta, nos esforçando até a exaustão total para cumprirmos aquilo que programamos ou que nos foi programado. Fico pensando se, em algum momento, não perdemos de vista o que nos é essencial, talvez de modo irrecuperável. As agendas desempenham papel importante nisso: - nos ajudam a “fazer” e a “ter”, constiuindo-se na maior parte das vezes, em listas intermináveis que acabam por desmotivar a alma e o coração. A esse respeito existe a temível frase muito repetida:”..não é o que eu quero, mas eu tenho que...”.
Acredito que é essencial parar. Como a criança no supermercado. Parar é uma maneira de conseguirmos fazer aquilo que realmente desejamos. Porque parar nos faz olhar profundamente à nossa volta, com uma visão que vem do nosso coração, sem a censura de condicionamentos e freios de agendamentos. Às vezes chego a pensar que essa corrida maluca tem a finalidade de fazer com que nos distanciemos de nós mesmos. É mais confortável não nos levarmos a sério. Dói menos. Dá menos trabalho.
Fiz a experiência – parei durante um tempo, jogada sobre o tapete branco da sala. Peito solto no chão, a rigidez dos ombros espetou o assoalho além do tapete. Relaxei sabe-se de qual peso nos ombros e no coração. Percebi minhas mãos apoiadas sobre o tapete, dei-me conta do quanto são pequenas e frágeis e nervosas e impacientes agarradas aos meus dias. Todos os dias, sem descanso, sem trégua. Senti alívio.
Olhei à minha volta, o gato Zeus veio ver o que estava acontecendo. Jogou-se também no tapete de barriga para cima, os olhos azuis tranqüilos encarando minhas descobertas. Acima de mim, a árvore de natal brilhava com risos e vozes de um tempo quase esquecido.
Fechei a agenda de 2009; deixei de lado a de 2010. E comecei a escrever. Porque escrever era o que eu mais e melhor sabia fazer. É isso.
Avaliação: 5 | Votos: 8
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