A AVALIAÇÃO
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Autor Hellen Katiuscia de Sá
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 10/9/2005 11:36:24 AM
Num povoado da Antiga China havia um grupo de estudos milenares de onde o mestre tinha escolhido cinco de seus mais notáveis e aplicados discípulos. Esses escolhidos iriam agora aprender com o mestre de seu mestre: o sábio Wang Li.
Os cinco escolhidos foram, juntamente com seu mestre atual, rumo ao pagode do ancião. Lá chegando o velho foi logo dizendo: “A partir de hoje vocês cinco serão escravos de meu empregado Wai Liu! Farão tudo o que ele mandar...” Os cinco discípulos olharam-se entre si desconfiados, porém acataram o que foi dito.
O serviçal Wai Liu tinha quase a mesma idade do mestre Wang Li. Passaram juntos toda a mocidade. Notava-se que eram muito amigos e confidentes um do outro. Havia respeito e admiração entre eles.
Passaram-se seis meses e a única coisa que os cinco aprenderam foi limpar a casa, cuidar do jardim, cozinhar e os demais afazeres domésticos. Até que um dia um dos discípulos atreveu-se a perguntar ao mestre Wang Li o porque de estarem subalternos ao empregado do sábio e não aprendendo as milenares lições que foram prometidas.
Então o sábio explicou-lhes que antes de qualquer ensinamento de ordem mística, espiritual ou filosófica mais aprofundada eles tinham que aprender a vivenciar as pequenas coisas da vida, pois somente assim compreenderiam os ensinamentos mais sutis.
“Ainda não está claro, mestre... explique novamente, por favor!”, disse o discípulo.
Então, o ancião chamou os demais aprendizes e o serviçal Wai Liu no cômodo central do pagode. Todos sentados comodamente no chão formando um círculo e o sábio proferiu: “Farei uma pergunta aos cinco discípulos. E quero que sejam todos sinceros em suas respostas”. Concordaram todos. “O que vocês acham de Wai Liu?”
Um dos discípulos disse que o achava convencido ao dar as ordens. Outro disse que Wai Liu era preguiçoso pois não ajudava nos afazeres, ficava só observando os discípulos trabalhando... Outro, por sua vez, disse que o serviçal era muito prepotente e não tinha sapiência o suficiente para dar ordens... Já o discípulo seguinte disse que o serviçal era muito exigente... E por fim, o último discípulo disse que não achava nada sobre o serviçal porque não o conhecia o suficiente para tirar conclusões. O que sabia era que deveria acatar suas ordens porque isso fazia parte dos ensinamentos.
Obtendo essa resposta o sábio Wang Li levantou-se e disse: “Apresento-lhes meu mestre...”, apontando para Wai Liu. E todos admirados não acreditaram que o verdadeiro mestre era o então serviçal...
Assumindo sua postura natural Wai Liu disse que essa era a última avaliação dos jovens para obterem o grau mais elevado nos estudos milenares. Seria necessário todos eles exporem sua visão interior.
Wai Liu disse ainda que os seres humanos costumam julgar as pessoas pela aparência e, em nenhum momento, observam que seus julgamentos estão embebidos pelos seus próprios preconceitos e limitações impostas pelo ego. E esses aspectos dificultam o aprendizado. O único discípulo, o que passou no teste, foi o que não fez julgamentos; apenas acatou o que lhe foi pedido, por compreensão de todo um processo.
Agindo assim o jovem demonstrou disciplina e compaixão pelo seu semelhante, tendo o desprendimento no que diz respeito a preconceitos de toda ordem... Estava apto ele, a adentrar no conhecimento mais profundo e sutil, porque para ele o conhecimento milenar nunca ultrapassaria o conceito de abnegação, respeito e amor ao próximo.
“Quem vai com muita sede ao pote, acaba passando por cima do próprio pote... É necessário ter olhos para ver e ouvidos para escutar. Somente desse modo é que a sede será saciada sem passar por cima do pote”, falou Wai Liu.
Ficou somente um aprendiz com os dois velhos mestres; os demais retornaram ao antigo pagode. Foram repetir as lições até a próxima avaliação...
Hellen Katiuscia de Sá
29 de setembro de 2005
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 4
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