A caminho de Santiago de Compostela - parte 2
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Autor Fernando Tibiriçá
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/26/2006 9:51:49 PM
Abordagens sobre religião, comportamento, curiosidades e política no caminho de Santiago que foram alvos de comentários em meu e-mail por parte de leitores.
Nesta semana teremos as eleições em Israel e, recentemente aconteceram as eleições na Palestina. O Hamas foi o vencedor entre os palestinos e a desaprovação foi grande entre os dirigentes de Israel. Enquanto estive no caminho de Santiago de Compostela (de 31 de agosto até 12 de outubro de 2.004), vivenciei e pensei sobre algumas passagens do islamismo, judaísmo e o entendimento cristão nos dias de hoje.
“...Eu queria ir para a África ou para o Oriente Médio. Fernando Garcia e outros jornalistas da Bandeirantes, juntamente comigo, passamos a pleitear um programa que falasse sobre as reivindicações dos árabes, sem apoiar qualquer ação agressiva contra os israelenses ou judeus, que são maravilhosas pessoas e amigos solidários em qualquer momento. Sim, queríamos condenar o sionismo, que mascarava uma campanha para fazer os palestinos perderem sua identidade nacional. O sionismo foi condenado como racismo pela ONU e por várias organizações judaicas liberais. Não adiantou.
Hoje, os palestinos não têm nenhum poder, vivem na miséria, praticamente sem identidade. O sionismo ganhou, mas também perdeu porque os árabes, solidários ou não aos palestinos, nunca irão perdoar o que está sendo feito. É algo parecido com que os judeus sofreram na Segunda Guerra, nos guetos. O movimento sionista defende o interesse dos 30 milhões de judeus que existem no mundo e traz problemas e perigos para os outros quase sete bilhões de habitantes. Que caminho!
Os árabes e judeus precisam conhecer o Bom Retiro, em São Paulo, onde palestinos e árabes em geral convivem harmoniosamente com judeus e até com israelenses...”
“...Quando desci para comer, fiquei sem graça porque o dono berrou: “Brasileiro!”. Só para ser amável. O restaurante lotado todo se virou para mim. Entrei e comi mostrando que brasileiro é civilizado. Durante o jantar, muitos peregrinos de vários países assistiam à televisão ligada mostrando o noticiário, guerras, atentados e, no ar, um clima de atenção em toda a Espanha.
Desde a semana passada, por todos os hotéis, pousadas, albergues e hostais, os documentos era checados, verificados e, na maioria das vezes, xerocados. A força policial estava preocupada com infiltrações de grupos terroristas entre os peregrinos. Era complicado porque tinha gente de todo o mundo e, justamente por isso, o caminho seria um prato cheio para qualquer grupo terrorista. Não havia tensão em razão da vibração da proposta do lugar, mas era inegável uma certa apreensão no caminho.
O islamismo cresceu porque o cristianismo ficou fortemente ligado às forças colonizadoras e imperialistas. No período colonizador, as grandes potências usavam e abusavam da palavra de Cristo e desmereciam, no Oriente Médio, África e parte da Ásia, qualquer culto que não fosse cristão. A insatisfação por ser subjugado e ter seu credo desrespeitado fez de alguns vilões verdadeiros mártires com seguidores muito jovens. Agora, ficou difícil consertar e quanto mais os direitos dos muçulmanos não forem respeitados, mais insatisfeitos haverá. A pobreza e a miséria por onde anda o islamismo é imensa, não em função da religião, é claro, e sim por causa dos seus governantes, que são tiranos, com raras exceções.
Os cristãos que dialogam com os muçulmanos são benquistos como pessoas. Afinal, Jesus Cristo e sua rebeldia contra as tradições e a forma de atuar dos governantes judeus acabou ganhando o respeito dos muçulmanos. Aliás, no Brasil, deveria haver programas religiosos obrigatórios, como obrigatórios são os programas políticos: eles mostrariam todos os credos, religiões ou manifestações religiosas. Assim, o brasileiro conheceria a religiosidade das pessoas, o pensamento de cada religião e poderia comparar, analisar, aprender e respeitar e não ser obrigatoriamente catequizado ou induzido por qualquer credo. Os programas religiosos que compram horários ou grupos religiosos que ganham concessões não deveriam existir. Normalmente, o poder do dinheiro supera a vontade de se praticar a religião na sua essência...”
“...Desci para comer e o restaurante, que abriu às 9h, já estava fechado às 10h40. Não havia o que comer, tive que encarar uma salada russa e um bolo de batatas na cafeteria do hotel, onde 15 homens jogavam em máquinas eletrônicas, uma praga na Espanha, ou baralho. Todos árabes, do Norte da África. Alguns meio doidões, eu diria. O hostal, que era para os peregrinos, só hospedava um peregrino: eu. Então, um cristão e 15 muçulmanos. Eles vestidos normalmente, alguns de paletó, e eu de bermuda e havaianas. Segurei a onda. Horas depois, foram saindo e eu fiquei escrevendo. Todo mundo saiu. Um empregado começou a varrer. Paguei a conta e fui dormir. A maioria dos árabes urbanos na Espanha bebe, fuma e joga. Aparentemente usam drogas e não têm boas maneiras. Acho que eu incomodei porque parecia o mais típico peregrino cristão no caminho.
Liguei a televisão e vi um documentário sobre Santiago de Compostela. Na realidade, um filme dirigido por um alemão, uma equipe com gente de várias nacionalidades e artistas espanhóis. Um peregrino era ciceroneado por um policial e ouvia a insinuação de que Bin Laden poderia destruir a Catedral de Santiago de Compostela. Matéria longa sobre o filme e a sua produção. E eu no caminho...”
“...Depois do banho, liguei a TV e vi uma resenha das notícias da semana: um atentado no Egito, a morte de muitas pessoas, a insatisfação de grupos islâmicos. No Egito, eles são fortes, já mataram Anuar Sadat, o presidente do Egito que promoveu a paz com Israel. As imagens eram de um canal alemão. Naturalmente, não entendia o que falavam, mas as imagens falavam por si. Muitos israelenses morreram nesse atentado. Acho covarde o ataque a bomba.em qualquer circunstância, mais ainda quando atinge civis e turistas. Fiquei pensando porque Israel não poupava o mundo de tantos problemas. Que Israel devolva as terras aos árabes, conforme determinação de resoluções da ONU, promova o nascimento do Estado Palestino e crie um mercado comum em todo o Oriente Médio. Com alento financeiro e a perspectiva de vida, então, o mundo árabe fatalmente se acalmaria. Os fundamentalistas e grupos terroristas ficariam sem força e a paz reinaria no Oriente Médio. Em perigo, ficariam os regimes ditatoriais e monárquicos da região, principalmente os corruptos e corruptores. Mas esse seria um problema interno de cada país.
No hotel, fazia planos para 2005: queria visitar o túmulo de Jesus Cristo. Eu dependeria do meu preparo físico e mental e da atmosfera política da região. Gostaria de entrar em Jerusalém acompanhado de um palestino e de um israelense, de mãos dadas...”
E parece que nada vai mudar, pois tudo acontece a milhares de anos e nunca houve uma real intermediação das grandes potências internacionais.
Leia: Encontros e Desencontros do Caminho desde a introdução (29/01/2006).
Epidemia Incontrolável: Alerta Geral ! (04/02/2006)
O Futuro da Terra (18/02/2006)
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