A caminho de Santiago de Compostela
Autor Fernando Tibiriçá
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 26/03/2006 21:26:10
Abordagens sobre religião, comportamento, curiosidades e política no caminho de Santiago que foram alvos de comentários em meu e-mail por parte de leitores.
No último dia 23 de março de 2.006, o ETA resolveu interromper suas ações abrindo perspectivas para uma paz duradoura. Enquanto estive no Caminho (de 31 de agosto até 12 de outubro de 2.004), pude notar manifestações separatistas que relato em dois momentos do livro "Encontros e Desencontros do Caminho".
“...Gente alegre, simpática e atenciosa. Fiquei encantado com esse povoado pequeno do interior da Espanha. Os habitantes locais chamavam o vilarejo de Aezkoa, na língua basca. A influência basca, aliás, era muito grande e o sentimento maior ainda. Todos eram muito amáveis e educados e queriam um país deles. Acho que merecem.
Eu já havia notado em Saint Jean, no Sul da França (ou San Juan ou São João ou ainda São João Batista - Xangô presente na minha vida), que o orgulho basco e a mistura religiosa e política eram imensos: por todo lado se via cartazes de shows, partidas de pelota basca, rugby e manifestações artísticas em geral. E tudo passava desapercebido da maioria dos turistas, mas eu, sempre atento aos mínimos detalhes do caminho, notava que essas características estavam firmes no povo basco da aldeia. Curiosamente, todo esse orgulho basco do Sul da França era completamente ignorado pelos franceses de outras regiões...”
“...O casarão tinha uma recepção, restaurante, sala de estar e cozinha no térreo, com madeiras antigas e blocos de pedra por toda parte. Convenientemente, os ambientes eram separados por paredes originais, antigas e também por vidros, que funcionavam como isolamento acústico. E esses vidros eram imperceptíveis. Subindo a escada, havia uma cozinha medieval com uma chaminé maravilhosa e com tudo o que era necessário para o seu funcionamento. Tudo basco. O homem e a mulher, bascos, foram perfeitos anfitriões. Ela cozinhava, ele servia e eu comia.
Fui dormir, um silêncio absoluto, em um quarto ao lado da chaminé. Sonhos, ruídos e o descanso fizeram me sentir um privilegiado em 1600, no interior da Espanha, no país basco. O casarão ganhou vida, parecia que tudo acontecia durante aquela noite. A movimentação era intensa. Ouvi uma comemoração com gargalhadas e saudações. Abri a porta do quarto e o silêncio novamente se fez. Voltei a dormir pensando na festa que era íntima e para a qual eu não tinha sido convidado. Eu podia apenas escutar toda a alegria das pessoas.
Não quis comentar no Messenger nem por telefone as emoções que eu vivia e a conversa política com meu anfitrião. A censura e o controle, embora discretos, existem. E eu não queria atrapalhar a vida de ninguém e, muito menos, ser convidado a sair da Espanha. Só faltava parar em Guantanamo como agitador. Logo eu, que queria ir até Santiago de Compostela como bom cristão, na base da paz e amor, mas atento às reivindicações honestas e verdadeiras das minorias do caminho...”
Em vários povoados e vilarejos de Navarra assim como, no sul da França, a população demonstra interesse numa liberdade cultural e política. Este tipo de manifestação vamos encontrar em várias partes do mundo e, já resultaram em desmembramentos de vários estados e países. Tudo em busca de uma identidade própria.
Leia: Encontros e Desencontros do Caminho desde a introdução (29/01/2006).
Epidemia Incontrolável: Alerta Geral ! (04/02/2006)
O Futuro da Terra (18/02/2006)
Avaliação: 5 | Votos: 41
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