A ENCANTARIA
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Autor Hellen Katiuscia de Sá
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 2/7/2006 1:14:35 PM
Mariana embrenhava-se mata adentro. Procurava sua irmã Jarina que havia se perdido à beira do rio, brincando com seu pequeno penacho de jangadinha. Mariana chorava pela irmãzinha sumida na selva. Foi quando os galhos das árvores apiedaram-se da pequena, amparando-a com suas folhas e cipós.
Mariana rodopiava. Sorrindo, passava de galho em galho fortalecendo sua coragem com o sumo das folhas e o verde da mata. As árvores guiavam Mariana pela floresta, entregando-lhe depois aos cantos dos uirapurus revertidos em suaves rodopios.
A menina subia num pé de vento, ergueu-se num instante e seu olhar ficou acima da selva, acima das nuvens e acima das águas. Foi quando o vento desceu deixando a pequena sob custódia da Mãe D’água. Seu nome era Janaína, a doce sereia com cauda de ouro. Era uma moça morena de olhos indígenas. Mariana nunca tinha visto mulher tão linda. E sua cauda dourada batia nas águas formando as ondas que iam ter à beira das praias. E seus cabelos de espumas prateadas eram um véu cintilante que escorria pela face sedosa da bela sereia.
Quando a moça-sereia era bem tratada pelos pescadores – navegantes dos rios e mares –ela lhes dava maré calma com peixes grandes a cada onda. Mas quando eles bulinavam os domínios de Janaína, ela virava redemoinho, aprisionando os homens maus das águas em seu castelo submerso feito de pedraria.
Mariana, então, perguntou para Mãe D’água se ela tinha notícias de sua irmãzinha Jarina. A moça de olhos cristalinos dissera que sim. A menina brincava sob suas águas com Norato, um dos filhos dos rios amazônicos. Ele se encantara pela menina e não a deixaria partir caso não tivesse em troca um presente.
A pequena disse que não tinha nada para dar em troca da irmã. Mas a bondosa Mãe D’água deu um pedaço de seu cabelo de espumas para a menina. Embrulhou-o numa cabaça, tampando o recipiente com uma semente. Disse para Mariana soltá-lo em torno de Norato no momento em que ele concordasse libertar Jarina.
Mariana fez como recomendado. Assim que Norato soltou Jarina, Mariana libertou o cacho de espumas e este logo se transformou em Mariacanga, uma cobra tal como Norato, mas feita de bruma. Ambos apaixonaram-se perdidamente e do amor deles nasceram os imensos rios da Amazônia.
Jarina e Mariana conseguiram ir para casa e elas também aprenderam o canto da sereia. Já adultas, em noites enluaradas, viravam moças com cauda de peixe, cantavam à beira dos rios sob o branco luar, essa história de encantaria para que os caboclos da região dormissem ao som do amor e magia.
Hellen Katiuscia de Sá
07 de fevereiro de 2006
Texto revisado por Cris
Avaliação: 4 | Votos: 4
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