A espera.
Autor Paulo Salvio Antolini
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 6/9/2013 7:16:47 PM
A espera.
Vocês já repararam como é desagradável o ato de esperar? A maioria das pessoas reclama sempre que se vê obrigada a aguardar alguma coisa, seja em uma fila de atendimento, seja pelo resultado que vai demorar dias para sair, pelo efeito de determinado medicamento, por uma data previamente marcada para se realizar uma cirurgia, um negócio, uma entrevista...Todos nós falamos: "Haja paciência!", mas reclamando e não demonstrando calma. Aproximadamente setenta por cento das vezes que entrei em uma fila de banco e conversei com alguém que nela estava, começamos falando da paciência que se necessita ter para ser atendido.
O ato de esperar significa que algo vai acontecer em um tempo futuro, próximo ou distante, onde o tempo cronológico é inevitável e, necessariamente, precisa ser respeitado. Não tem como ignorá-lo. Esse espaço de tempo entre o agora e o momento em que o ato esperado deverá acontecer gera nas pessoas um silêncio em que a introspecção acontece naturalmente. Observe o silêncio que impera nas salas de espera de todo consultório médico e perceba como rapidamente você estará refletindo sobre coisas íntimas, interiores, pessoais. Isso não quer dizer não pensar em outras pessoas, mas que a forma como é feita é muito mais desprendida, possibilitando uma visão mais ampla da situação.
Este olhar para dentro e ver as coisas mais desprendidamente de julgamentos e críticas faz com que as pessoas se desarmem, vendo mais claramente o que importa de verdade. E isso é angustiante para muitos, pois é a percepção do fato sem as manipulações da mente, para que prevaleça apenas aquilo que interessa.
Vejamos algumas reações de quem é obrigado a ficar em uma fila por um bom tempo:
Uma delas é de extrema irritação. A pessoa que lá estava ficou o tempo todo se cobrando pelo fato de ter que estar ali, pelo atraso na execução dos demais compromissos e assim por diante. Ao sair dali, sentia-se tremendamente mal humorada e com pouca energia para resolver suas pendências. A espera foi tão desgastante que ela já não conseguia dar continuidade ao seu dia de forma satisfatória, postergando as decisões e atitudes para o dia seguinte.
Outra pessoa que estava na mesma fila, entretanto, ao perceber que sua estada ali não dependia da sua própria vontade, em vez de ficar se recriminando ou acusando o sistema pela demora, aproveitou para dar asas aos seus pensamentos. Permitiu-se estar na fila desprendidamente. Suas percepções, tanto do exterior, do ambiente e das pessoas com quem convive como de si mesma, o que estava sentindo, o que estava vivendo de significativo nos últimos tempos e lhe era marcante, tornaram-se muito mais amplas e nítidas. Quando saem desse compromisso, esse tipo de pessoa consegue dar continuidade aos seus afazeres. Se percebem, entretanto, que naquele dia não será mais possível, não perdem sua estabilidade emocional. Podem até estar cansadas pela espera, mas não possuem o mal-estar causado pela agitação interior e são capazes de dar seqüência ao seu dia, independente do que passou. A pessoa que me descreveu esta experiência do esperar e soltar-se nesse espaço, disse ter experimentado uma sensação ímpar de introspecção, "ido a fundo", ela enfatizou. Disse ainda que a sensação que teve foi até agradável e nada incômoda.
Esperar é um grande martírio para pessoas ansiosas, pois implica em ter disponibilidade interior para tudo que possa ocorrer consigo nesse espaço de tempo. Não saber esperar é um dos principais fatores do imediatismo que rege a maioria das pessoas e que infelizmente, vem se manifestando nas crianças.
Fala-se muito na falta de tempo para se praticar uma técnica de meditação ou relaxamento, porém não se atentou, ainda, para o fato de que esse tempo de espera pode ser muito propício à prática do ato da meditação. Se a espera na fila é realmente inevitável, então aproveite para desprender-se de tudo. Não resolve ficar se martirizando por causa do outro compromisso que irá atrasar. Se terá que esperar, então considere que ganhou um tempo para si mesmo e pratique a "submersão". Use esse tempo para si mesmo e com vantagens, sem os desgastes que só provocariam "neuroses".
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