A justiça veio a jato
Autor Gilberto Cabeggi
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/4/2008 12:18:04 PM
O mestre Jonas PahNu chamou seu discípulo, Daniel, e disse a ele:
– É muito bom quando a justiça é feita, você não acha? Dá-nos uma certeza de que ainda podemos acreditar no ser humano.
– Do que você está falando, mestre? Não estou entendendo...
– Estou falando de um caso que me contaram. Ouça:
“Em uma grande companhia aérea, no momento de embarque dos passageiros num de seus vôos internacionais, a comissária acompanhava uma senhora até a sua poltrona, na classe econômica.
Ao chegarem ao local reservado à passageira, a senhora, de repente, parou e exclamou irritada:
– Mas, como? Eu não posso viajar nesse assento?
– Por que não, minha senhora? – perguntou delicadamente a comissária.
– Você não está vendo? Há um negro sentado na poltrona ao lado... Vocês não querem que eu viaje ao lado de um negro. Não é?
A comissária olhou para o senhor sentado na poltrona ao lado, abismada, sem saber o que dizer. Ele apenas sorriu e a tranqüilizou.
– Vocês precisam arrumar-me um outro assento. Neste aqui eu não viajo. – continuou a senhora, agora sob os olhares de todos os outros passageiros, atônitos com o que estavam presenciando.
– Um momento, minha senhora. Vou conversar com o comandante, para ver se temos uma solução para esse problema.
– É bom mesmo! – esbravejou a mulher, mostrando-se cheia de razão.
A comissária saiu e voltou logo a seguir, desolada. Tentou se explicar: – Desculpe-me senhora, mas não há outro assento disponível, nem nesta classe, nem na classe executiva. Não vamos poder mudá-la de lugar.
– Como? Mas isso é um ultraje – ralhou a mulher, em voz alta. Neste assento eu não viajo. Não vou sentar-me ao lado de um negro. Vocês têm que dar um jeito nisso.
– Deixe-me conversar novamente com o comandante. – sussurrou a comissária, tentando não constranger o passageiro que estava sendo gratuitamente agredido por aquelas ofensas.
Pouco depois, a comissária voltou com um belo sorriso de satisfação. Aproximou-se da mulher e disse tranqüilamente:
– Bem, existe apenas um lugar vazio na primeira classe deste avião. Nossa companhia não permite que um passageiro da classe econômica viaje na primeira classe. Mas, o comandante decidiu abrir uma exceção neste caso.
A mulher impertinente sorriu, encheu o peito com um ar de vitoriosa, empinou o nariz e se preparou para dizer algo, quando a comissária de bordo complementou, dirigindo-se ao senhor que estava sentado na poltrona ao lado:
– Meu senhor, por gentileza, queira pegar a sua bagagem de mão e me acompanhar até a primeira classe. Em nossa companhia, ninguém é obrigado a viajar ao lado de uma pessoa desagradável.
E saíram os dois, em direção à primeira classe, sob os aplausos efusivos de todos os demais passageiros que estavam a bordo.
A mulher, humilhada e desautorizada, não viu outra alternativa: encolheu-se em si mesma e desistiu de embarcar naquele vôo.”
– Como eu disse: Justiça seja feita! – concluiu Jonas.
– Amém! – completou Daniel.
Gilberto Cabeggi é escritor, autor do livro
“Todo Dia É Dia de Ser Feliz”, pela Editora Gente.
www.papolegal.net
[email protected]
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