A LUZ VEM DE DENTRO!
Atualizado dia 10/30/2007 10:40:28 PM em Autoconhecimentopor Christina Nunes
Essas palestras, que até hoje perduram sob novas diretrizes, constituem a espinha dorsal do todo no tratamento espiritual dispensado pela monumental Casa Espírita situada num bairro da zona norte do Rio de Janeiro, e são consideradas indispensáveis para a continuidade dos trabalhos em prol da saúde espiritual e física – nesta ordem! – já que benefício algum de ordem orgânica é possível sem o devido reajuste na fonte geradora dos problemas, invariavelmente situada numa gama incalculável de enganos de procedência íntima perante o repertório pregresso de nossas vidas.
As palestras, como foi dito, bombavam. Mas, preciso é que se mencione, não havia uma em que o Sr. Antonio não observasse a peculiaridade da presença apenas de corpo de um grande número de pessoas, em ausência flagrante e total de espírito! De modo que, na obscuridade azulada e reconfortante do ambiente do salão de palestras, diante dos temas palpitantes e – diga-se! – nada enfadonhos a qualquer tempo, abordados sob grande inspiração do palestrante - muitos dormiam como anjinhos!
Às vezes o Sr. Antonio os admoestava, mas na maior parte das vezes não. Não obstante, apontava com acerto que, se daquela regurgitante platéia dez por cento aproveitava como se devia o conteúdo da palestra, já seria muito! Porque a maior parte ali comparecia com o único intuito de preencher no seu cartão de tratamento o número necessário de quintas-feiras para que se atingisse o nível seguinte – e o mais visado, em si, que lhes comparecia ao entendimento como uma espécie de período mágico, durante o qual os espíritos, milagrosamente, segundo supunham, resolveriam, sem nenhum trabalho de sua parte, todos os seus problemas, através das sessões de desobsessão, de passes, de antigoécia, cura e cromoterapia!
Lastimável engano, no qual, preciso que se diga, uma grande soma de pessoas que buscam o Espiritismo incorrem sempre!
Sem embargos, nunca será demais repetir, para esses casos, o adágio sublime de Jesus, ao mencionar, há muito tempo atrás, que a árvore se dá a conhecer pelos frutos. É grande o número daqueles que procuram a mensagem esclarecedora da Espiritualidade acerca das realidades maiores da vida que nos aguardam pela eternidade afora. Imprescindível, contudo, a consciência de que o conhecimento da mensagem, em si, não basta para sanar todos os males que afligem a alma humana desde o seu longo percurso evolutivo. Menos ainda para franquear-lhes acesso aos lugares privilegiados do mundo espiritual após a passagem terrena! O principal não reside nisso: reside em entendimento aliado ao esforço próprio de se sintonizar a si mesmo, a cada lance do cotidiano, em acordo com a nova noção de responsabilidade que a verdade maior acerca de nós mesmos nos exige.
Assistimos diariamente no noticiário resenhas repetitivas e alarmantes acerca de jovens que morrem estupidamente em festas em decorrência da violência e do uso autodestrutivo – diria, antes, suicida! – de narcóticos. A cada semana, as evidências contundentes dos efeitos do ódio, da intolerância, do desgoverno no qual a humanidade anda mergulhada, imperam, soberanas, nos acontecimentos do dia-a-dia em todo canto do orbe terreno. E disso, o que se depreende, nítido, sobressaindo de toda a dedução possível? O domínio pleno da falta de noção do valor da Vida, e do desamor, ainda soberanos nos nossos dias, determinando condutas, prioridades e o estabelecimento de uma escala de valores funesta e desvirtuada, que a nada leva a não ser ao desastroso panorama de tédio e de falta de objetivos dignos, que norteia em grande número os nossos jovens e toda a humanidade!
De nada adianta, portanto, e em qualquer caminho religioso ou filosófico escolhido, o simples gesto vazio de significados de se buscar o auxílio do mais Alto, esperando que resolva por nós os problemas por nós mesmos criados e que nos cobram responsabilidade e amadurecimento para assumi-los e soluciona-los. De fato, não serão os passes ou as sessões de desobsessão, no âmbito do Espiritismo, que solucionarão a contento os desajustes residentes em primeiro lugar em nós mesmos, e no nosso milenar modo equivocado de reagir aos desafios próprios do nosso crescimento - desajustes dos quais o clima extremo de desassossego da nossa sociedade reflete os efeitos, e os resultados do que deve ser sanado, antes de mais nada, no nosso íntimo. E não através de fórmulas instantâneas ou de passes de mágica, ou de orações entoadas sem o menor eco no nosso modo de ser. E nem mesmo com o concurso benéfico e sempre generoso dos nossos orientadores desencarnados.
Como menciona o adágio, a árvore sempre se dará a conhecer pelos frutos; e os frutos são o resultado lógico da essência valiosa ou gangrenada da árvore. Não há para onde se apelar! E é, portanto, neste contexto, que as palestras de evangelização da Casa Espírita, quando bem assimiladas, segundo as diretrizes preciosas da mensagem veiculada pela Espiritualidade, nos valem mais do que qualquer outra etapa do tratamento espiritual dispensado; para que, em acendendo a fonte das nossas luzes íntimas propriamente ditas, já alcancemos o estágio seguinte ao menos mais lúcidos, e empenhados na única profilaxia eficiente a favor do nosso progresso na direção dos contextos mais felizes da vida: um estado de consciência plena em que se vive harmonizado com a noção sagrada do respeito pela vida como um todo e, conseqüentemente, pela vida no nosso próximo e em tudo o mais que nos rodeia!
Somos, pois, como lâmpadas, e toda a luz possível só se irradiará vinda de dentro, da nossa própria fonte – desde que, como ocorre com a lâmpada, nos sintonizemos com a fonte maior geradora da Luz. E apenas a nós mesmos cabe a conexão com esta Usina primeva e imperecível, aproveitando os recursos bem-vindos dos inúmeros caminhos disponíveis, que funcionam como os plugues dos quais lançamos mão visando o nosso despertar mais rápido para as maravilhas excelsas e adormecidas no nosso íntimo, desde sempre refulgentes no próprio cerne da Eternidade!
Mas, para tanto, as prioridades deverão ser outras: o inverso de tudo o que se observa no turbilhão de desassossego que grassa hoje nos quatro cantos do mundo. Quando, afinal, as frivolidades levianas, filhas do profundo estado de imaturidade espiritual ainda dominante na maioria das almas, ocuparem o seu devido lugar na ordem das coisas secundárias - não sendo mais equivocadamente consideradas como a finalidade última e o sentido maior de se viver – e deixando vez a que, enfim, tome relevância no contexto dos nossos dias a única condição que de fato nos importa, e que nos conduzirá à felicidade entresonhada e imperecível: o estado inalterável do Amor a nós mesmos, ao nosso próximo e a Deus!
Com amor.
Avaliação: 5 | Votos: 52
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
