A Medicina Holística
Atualizado dia 2/22/2007 3:27:57 PM em Autoconhecimentopor Mani Álvarez
A alta tecnologia desenvolvida nessas construções somente hoje começa a ser descoberta, graças à física quântica. Séculos mais tarde, Imhotep passou a ser conhecido como Hermes Trismegisto, o três vezes sábio. Os gregos o chamaram de Esculápio, depois de Asclépio e ele passou a ser associado à cura, por ter introduzido um método mais racional e eficaz para lidar com as doenças. Por isso foi chamado de Pai da Medicina moderna.
Suas idéias são extremamente avançadas e isto ficou demonstrado após a descoberta de um importante papiro chamado Edwin Smith, datado de 1.600 aC., que faz referência a tratamentos cirúrgicos, conhecimentos de anatomia, terapêutica estética e de rejuvenescimento, entre outros.
Conta-se que o Egito conheceu muita perfeição e estabilidade social, graças à harmonia existente entre a ciência, a magia e a religião. Magia é uma palavra que tinha o significado de “alta sabedoria”. Sua raíz “mag”, em aramaico, quer dizer “grande sacerdote, sábio”. Isso significa que a magia era sinônimo de sabedoria e muitos conhecidos filósofos gregos foram se abeberar nas fontes da “magia” egípcia. Entre eles, Pitágoras, Hipócrates, Platão e muitos outros.
A cosmovisão egípcia da medicina se baseava no conceito de cura natural. Dentre os métodos que eram utilizados, havia o uso terapêutico da energia solar, o uso de água solarizada em vidros cromatizados e o uso de pedras preciosas para a cura de doenças. Segundo a famosa Tábua de Esmeralda, onde foram registrados os ensinamentos do sábio Hermes Trismegisto, o corpo humano era constituído de nove corpos sutis, e esta concepção original da constituição humana demonstrava que eles sabiam da existência da energia e mais ainda, sabiam como fazer uso dela. Graças a esse reconhecimento das origens da arte de curar, até hoje existe um juramento que se faz nas formaturas dos novos médicos, em nome de Apolo, o deus grego da cura e de Esculápio, o Imhotep dos egípcios. Na tradição médica ocidental existe o Caduceu, o símbolo do cetro de Toth, deus egípcio da sabedoria, que foi adotado também como símbolo da Medicina.
Conta-se que Thot (que é o mesmo que Hermes) reuniu em diversos livros todo o conhecimento existente sobre matemática, música, arquitetura, dança, geometria, astronomia e a medicina de sua época e das eras anteriores. O Caduceu, originariamente, representava duas serpentes enroladas, sendo uma branca e a outra negra, evocando um movimento ascendente dos contrários. Este símbolo evoca o movimento da energia no corpo, ao longo da coluna dorsal, em direção à cura ou à salvação. Lembrando que saúde é uma palavra de origem latina que significa “estar salvo” (saluus, salvus). Infelizmente, com o tempo, fomos perdendo esse significado, restando para nós apenas a idéia de que saúde é ausência de doença.
Mais próximos de nossa era cristã, foram descobertos textos no Mar Morto que fazem referência a antigos terapeutas que viviam na Alexandria e percorriam o deserto cuidando de pessoas doentes e aflitas. Os relatos do judeu Fílon, que foi contemporâneo de Jesus, revelam que a prática desses Terapeutas do deserto se pautava por uma antropologia holística, na qual o ser humano era percebido uno em sua multidimensionalidade de corpo, mente, alma e espírito. Por isso, a tarefa principal desses médicos era “cuidar do ser”, não dividindo a dimensão espiritual dos cuidados com o corpo, como é de costume em nossa cultura. Aliás, o termo grego “Therapeutes” possui dois sentidos muito próximos, que é o de servir ou render culto e tratar, cuidar. Na época desses antigos Terapeutas do deserto, a Alexandria era um espaço cultural de grande riqueza e troca de conhecimentos. Por seus templos passaram muitos filósofos de outras culturas e tradições em busca de ciência e sabedoria.
Depois de ter sofrido a barbárie de invasões e incêndios criminosos, houve uma evasão do conhecimento do Egito para a Grécia, graças aos inúmeros filósofos gregos que havia passado pela famosa Escola de Medicina de Heliópolis, e pela Escola Ginecológica de Saís. Lá, aprendiam com os sacerdotes egípcios a arte médica, e com as parteiras, os conhecimentos tradicionais práticos de ginecologia. Eram muito utilizados os banhos de sol, o que demonstra que o poder terapêutico e bactericida da energia solar eram bem conhecidos entre eles.
Hipócrates teve, durante séculos, um templo dedicado à cura de todos os males, chamado Epidaurus. Lá praticavam métodos que hoje são usados em modernos Spas, como banhos de ervas, massagens terapêuticas, exercícios físicos, relaxamento, fitoterapia e, junto a tudo isso, a interpretação de sonhos pelos oráculos, como na moderna Psicanálise. O relato dessas curas fantásticas ainda pode ser visto nas colunas de mármore das ruínas do templo de Hipócrates, em Epidaurus.
De tudo isso podemos entender que a medicina holística, cujos princípios estamos começando a aplicar de forma mais consistente e sistemática hoje, fazia parte da visão de mundo de nossos antepassados. Teria sido esse o ‘segredo’ para a conservação da paz, do patrimônio sócio-cultural e espiritual dos povos egípcios durante milênios?
Dessa medicina holística fazem parte todos os sistemas de cura que estimulam a saúde, e não a preocupação com os diagnósticos ou com as doenças. Os cuidados com a alimentação da Tradicional Medicina Chinesa, os exercícios físicos da Yogaterapia, o equilíbrio energético da acupuntura e outros, focam na pessoa inteira em recuperação, e não somente num ou noutro órgão afetado. Esta visão integrada torna as pessoas mais responsáveis e atuantes na promoção de sua saúde, estimulando a autonomia e a independência do paciente. Este é o verdadeiro significado de saúde: ser salvo de um estado de passividade e dependência em relação a outro, aos remédios, às intervenções externas, para assumir sua essência e missão no mundo.
Mani Alvarez
Doutora em Filosofia da Educação e diretora do Instituto Humanitatis. De sua autoria o livro "Psicologia Transpessoal: a aliança entre espiritualidade e ciência".
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Texto revisado por Cris
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