A NAFTALINA
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Autor Eduardo Paes Ferreira Netto
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 12/03/2008 17:43:45
A NAFTALINA
O auditório do Colégio Batista estava lotado como acontecia todas as quartas-feiras às dez noras, quando era realizado o culto semanal com todos os alunos e professores.
Aqueles cultos eram uma amolação para os alunos, principalmente aos não evangélicos que, não obstante, eram obrigados a assisti-los, ouvindo a contragosto seus cânticos e orações.
Não raras vezes alguns alunos mais rebeldes eram suspensos das aulas devido a atos de indisciplina e anarquia que faziam, principalmente durante as orações, que como de praxe eram feitas de pé e de olhos fechados. Nessas ocasiões os mais bagunceiros aproveitavam para "aprontar" algumas peças, especialmente com as moças que se sentavam separadas dos rapazes.
Nos tempos de São João, vez por outra estourava uma bombinha em plena oração. Era um Deus nos acuda. O aluno descoberto teria uma séria suspensão, mas dificilmente se descobria o "gracioso".
Nessas reuniões semanais, após os cânticos e orações, um dos professores fazia uma palestra sobre assunto de sua livre escolha. Não eram necessariamente assuntos religiosos.Alguns preferiam dissertar sobre suas matérias, dando-lhes um enfoque mais amplo e prático, assim as palestras eram realmente bem aproveitadas por aqueles que se dispunham a ouvi-Ias com atenção.
Certa vez um dos professores fez uma palestra, contrariando a teoria de que o homem é descendente do macaco. Era uma palestra bem fundamentada, com citações bíblicas apropriadas.
O professor, não sendo, embora um orador brilhante, suas palestras sempre eram do agrado geral e era dos poucos que contava com a total atenção dos alunos. Suas palestras versavam via de regra sobre as lendas amazônicas e isso era um assunto que a todos agradava. Desta feita, entretanto, os alunos estavam indóceis. O professor não estava obtendo o mesmo sucesso das palestras anteriores. Risos e chacotas surgiam aqui e ali. Na realidade o tema embora muito interessante e bem fundamentado não conseguia convencer; e nem podia, o orador era a imagem perfeita do animal de cuja descendência ele discordava.
Coisas realmente muito curiosas aconteciam naquelas reuniões.
Certa vez, estava o próprio diretor do colégio, um senhor americano, avermelhado, já bem entrado em anos, careca, fazia sua palestra quando repentinamente entrou voando pela janela uma pequenina ave, conhecida na região como "caga sibite", a avesinha pousou e deixou uma “lembrança” na careca do orador como a protestar ou reclamar sobre o assunto tratado. O diretor pacientemente, o rosto mais avermelhado que do costume, segurou a intrusa irreverente e jogou-a delicadamente pela janela. Voltando ao seu lugar, tira um lenço, e limpa a calva, tentando por ordem na platéia.
A estória que serve de título a este capítulo nos foi contada durante uma destas palestras pelo próprio diretor protagonista do incidente acima e era a seguinte:
Certo americano residente no Brasil já há algum tempo, resolveu passar suas férias na terra natal, e como presente para um amigo levou como coisa muito preciosa um coco. Devidamente embrulhado, colocou-o dentro de sua mala junto com suas roupas e outros pertences pessoais. Chegando à sua terra, após alguns dias de deliciosa viagem a bordo de um transatlântico de luxo foi visitar o amigo a quem levara o precioso presente.
O amigo ficou bastante agradecido com a lembrança, mas não sabia o que fazer com aquela fruta, e pede ajuda ao visitante. Este com um facão desbasta a fruta e lhe faz uma abertura num dos olhos, oferecendo-o ao amigo para que bebesse sua água. O amigo enfia um canudinho pela abertura e suga a água.
- Uh! Uh! Que porcaria é esta. Que diabo é isto que você me trouxe? Reclamou. o amigo em sua língua.
_Mas é muito gostosa você não gostou não? O visitante tomou a fruta das mãos do. amigo e sorveu com bastante prazer sua água .
-Ah! Puff, puff. e cuspiu aborrecido o líquido. Puxa vida, é naftalina pura!
O diretor aproveitou a incidente para sua lição religiosa, dizendo que aquela naftalina era como o pecado e nos aconselhava a manter puros os nossos corações, não deixando que ele maculasse nossas almas, assim como a naftalina que apesar da casca grossa protetora do coco conseguira contaminar o seu interior. Aconselhou-nos a vigiar e orar ao Senhor Jesus para criar em nossas almas "uma casca" bem mais poderosa do que a do coco, para evitar que como a naftalina, o pecado fizesse o mesmo com nossos corações.
F I M
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