A nossa criança interior precisa de amor
Atualizado dia 10/10/2023 07:42:20 em Autoconhecimentopor Adriana Garibaldi
Nossa criança procura avidamente ser amada, criar vínculos afetivos que a façam existir, como se somente nos fosse possível viver se o outro também viver, se o outro nos amar.
Na infância, não somos capazes de conceber a nós mesmos como seres separados de nossos pais. A figura materna, principalmente, costuma exercer um papel simbiótico com o poder de determinar, em termos emocionais, nosso padrão de comportamento que nos acompanha pelo resto da vida.
O afeto, a proteção, o reconhecimento e aprovação que procuramos no outro, refletem, em grande medida, as necessidades dessas mesmas qualidades emocionais que não foram preenchidas de forma conveniente durante a infância.
Provavelmente, a maioria de nós vivencia um processo similar, a busca do próprio existir através do amor.
Amor que desejamos receber de uma figura materna ou paterna que, em geral, já nem existe num sentido material, mas continua a existir como arquétipo interno. Esse é um padrão que muitas vezes carregamos, principalmente quando nossos pais não souberam, por serem tão imaturos quanto nós, dar-nos a solidez de um amor capaz de suprir nossas necessidades básicas de afeto. Sem fazer uso de alguma forma de barganha emocional que nos impedia de nos sentir merecedores de um amor sem julgamentos, sem chantagens.
Repetimos durante a vida um papel que fora estipulado lá atrás, um padrão de carência e mendicância afetiva que movimentamos na tentativa de receber amor, algo que nos permita existir, que faça com que nos sintamos merecedores.
O nosso intelecto nem sempre tem o poder de reconhecer e resolver este dilema do nosso campo emocional, a não ser por um sério e profundo tratamento psicológico capaz de nos auxiliar na cura da nossa criança ferida. Na maioria das vezes, não podemos, sem esse auxílio profissional, atingir sozinhos a faixa mais básica de nossa psique, que se movimenta por detrás de nossos pensamentos, a faixa oculta onde a nossa criança se expressa ou tenta se expressar.
Quando alguém faz um pequeno movimento no sentido de nos acolher emocionalmente, esse gesto de imediato é traduzido por nossa criança como um gesto de amor e modo rápido pulamos para o colo daquele ser e nos refugiamos nele para nos sentir protegidos, preenchidos para, enfim, existirmos, por significar aquilo que ela entende como uma resposta a seus íntimos desejos de sustentação afetiva. Ele me ama! Por fim, alguém me ama!
E acabamos nos apegando a um amor que às vezes nem sequer existe para o outro, mas que, para nosso arquétipo criança, significa a diferença entre existir ou não existir. Nas palavras de Jung, uma parte de nós que anseia ser, mas ainda não é. Eu diria que anseia ser preenchida pelo amor para se sentir completa, como se algo sempre lhe estivesse faltando.
A nossa parcela adulta precisa entrar em cena e estar disposta a ouvir com total atenção a nossa criança, compreendendo que ela é uma identidade educável que não reflete somente um padrão traumático da nossa personalidade, mas uma parte sabia e criativa, necessária a expansão de nossa individualidade.
Precisamos educar nossa criança sem nunca deixar de ouvir a sua sabedoria que muito tem a nos oferecer. Sua luz precisa ser olhada e concebida como fonte de cura e criatividade.
O amor é sempre a chave para abrir as trancas internas e nos libertar do cativeiro da falta, onde se encontra aprisionada nossa parte criança. Libertando seu lado luz para curar seu/ nosso lado menos luminoso que foi machucado e negligenciado. Um trabalho interno que consista em descartar o medo de nos abrir para possibilidades novas, experiências criativas, novas emoções, novas aventuras, novos e luminosos vínculos de vida, fazendo com que nossa criança se manifeste livre e de forma destemida, desbloqueando nosso imenso potencial de expansão e criatividade.
Texto revisado
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