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A poesia, a paixão e a música

Atualizado dia 17/08/2023 10:07:25 em Autoconhecimento
por Nathalie Favaron


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A minha ligação com a poesia não veio de nenhuma fonte formal ou acadêmica. Na verdade, pra mim, a música encobria os versos dentro da sua melodia e sonoridade. Muitas vezes nem prestava atenção na letra que acompanhava os acordes e compassos.

Há alguns anos, quando comecei a escrever e publicar artigos, crônicas e contos, percebi que a poesia também se destacava como uma vertente do meu repertório.
Fiquei curiosa imaginando de onde esta veia poética tinha surgido. É certo que meu avô materno era um excelente músico e o avô paterno além de músico, compositor. Ambos faziam do violão o caminho de sua expressão da arte. Mas como não tive a sorte de conhecê-los, nunca liguei uma coisa à outra.
Mas agora, às vésperas de publicar um livro que combina um romance com poesias, peguei-me buscando em algum lugar uma conexão com a fonte de toda essa inspiração.
E não é que encontrei... parece que até quando não estou trabalhando formalmente com as Constelações Sistêmicas Familiares, esse fenômeno mágico e sutil dá os ares da sua graça.
A conexão com meus pais já está feita dentro do meu coração há alguns anos. Já escrevi textos específicos sobre a gratidão e amor que tenho aos dois (isso é claro, após muitas constelações sobre tudo o que vivemos juntos...rsrs).

As minhas avós ocuparam um lugar de honra nesses últimos anos depois que saí de São Paulo e pude reservar mais tempo para a arte em todas as suas nuances. Aprendi a costurar, criando peças artesanais através do patchwork e descobrir em seguida que minha avó paterna era exímia costureira. Aprendi a fazer crochê que era o passatempo preferido da avó materna, em conjunto com delícias que ela fazia na cozinha na qual, com frequência, agora me aventuro.

Mas apenas hoje, literalmente, quando sentei à frente do computador com a intenção de digitar um novo texto que escrevi à mão (sim, ainda escrevo muito à mão e só depois é que passo pra cá), fui tomada pela simplicidade do local onde estava e as conexões começaram a ser desvendadas.

É verdade que passei duas horas antes disso com meu querido cliente/amigo Thiago, músico promissor, criando em seu violão a trilha sonora experimental para as poesias do livro que está nascendo.
Rendo-me, portanto, às coincidências e sincronicidades do campo dando as boas-vindas aos meus queridos avôs José Antônio e Edgard. Vocês também fazem parte e têm um lugar em meu coração! Minhas poesias e o violão que as acompanha são a minha parte na continuidade do talento de vocês.
Agora, sim, o texto que já tinha escrito (incrivelmente também fala de poesia e violão...)

A Música

Eu o conheci em uma das noites que fui àquele bar. O mesmo bar que eu já havia estado muitas noites afogando minhas dores num copo de cerveja gelada.
Ele já estava lá, sentado junto ao balcão. Sozinho. Assim como eu.
A música tocava uma gostosa bossa nova romântica que todos acompanhavam cantando em algum momento. Eu pedi minha cerveja e algo para comer.
Como sempre havia trabalhado quase 12 horas, estava faminta e estressada. Buscava música e relaxamento.
Mas lá estava ele. Olhava-me com atenção enquanto batucava no balcão acompanhando o ritmo da canção.
Eu também já começava a me soltar e cantarolava o refrão.

“- ...E aí... na hora do sufoco você vai me procurar... com a mesma promessa que um dia me fez apaixonar...”

E à medida que meu corpo se animava nas ondas da balada, ele me chama para dançar. Quase não tem espaço. Poucos dançam ali. É um bar para beber, ouvir boa música e conversar. Mas alguns se animam e em boa companhia dão seu espetáculo de sincronismo e ritmo.

Começamos buscando acertar e ajustar nossos passos com a música. Para minha grata surpresa, combinamos em poucos segundos, corpos encaixados com perfeição numa dança boa de se ver. E deliciosa de se dançar. Com direito a voltinhas e passos mais complicados. Uma diversão! E assim ficamos mais uma música e mais outra.
Junto com a parada do cantor nos soltamos com relutância, tomamos um gole do chopp gelado e nos apresentamos.

Este foi o início da primeira noite de muitas outras que passaríamos juntos naquele mesmo bar. Palco de várias histórias românticas, engraçadas entre aquelas tristes e dramáticas.
Conversamos, rimos, bebemos mais e mais, cantamos e dançamos novamente.
E a noite foi passando, os demais grupos e assíduos frequentadores indo embora e nós dois lá, firmes e profundamente envolvidos na sedução de Tom Jobim e Caetano. Hora após hora, depois de nossos corpos já estarem acostumados um com o outro, nossas bocas resolveram se encontrar.
Beijos longos, beijos curtos, beijos molhados, beijos que dançam e sorriem. Muitos beijos.

O tempo voa e quase mais ninguém estava por lá. O bar está quase fechando. A musica pára e o violeiro vem até nós dois para cumprimentar pela companhia e animação dos passos de dança que engrandeceram o show da noite.
É nessa hora que meu acompanhante pega o violão, acomoda-me à sua frente e começa a cantar com uma voz, absolutamente perfeita, meu queridíssimo Vinicius de Moraes em nada menos que Eu sei que vou te Amar!
Olhos colados aos meus, sorrindo entre os versos e, ao final, a morte súbita: o Soneto da Fidelidade* declamado em alto em bom tom. Aplaudido ao final pelos garçons que pararam de recolher as mesas para assistir a cena inusitada.
E eu ali, parada, em transe, derretida e já irremediavelmente apaixonada!

*para quem não se lembra segue o Soneto

Soneto de Fidelidade - Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.


Texto revisado

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Conteúdo desenvolvido por: Nathalie Favaron   
Nathalie Favaron é Coach e Terapeuta Sistêmica especializada em Constelações e Hipnose Ericksoniana. Autora do LIVRO O Reencontro e do CURSO ON LINE - A História da sua Família SAIBA MAIS AQUI www.nathaliefavaron.com.br ou whatsapp 11-950203079
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