A Psicologia Arquetípica e a Espiritualidade
Autor Rose Romero
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 7/12/2004 1:13:24 AM
A psicologia desenvolvida por C. G. Jung tem como um dos pilares o conceito de arquétipo, que por permear tanto sua teoria psicológica da psique, acabou por dar seu nome a ela. Os arquétipos são as matrizes da psique, as bases que a ordenam e estruturam. Conceitos, chaves, fundamentos, matrizes presentes na estrutura de todo ser humano independente de raça, credo ou cultura.
Sendo assim, Jung acreditava que mesmo com todo o desenvolvimento humano e mesmo devido a ele, nada de essencial teria se perdido, porque a “matriz” sempre esteve e está presente em nós e a partir dela pode-se produzir o original, caso necessário.
A fim de chegar a esta “matriz” Jung se debruçou sobre as formas que o homem tentou expressar sua alma: mitos, lendas, artes, religiões. Percebeu em seus estudos sobre estas expressões que o homem não pode suportar uma vida sem significado e que muitas vezes este vem através da religião.
A religião para ele era um instinto primário do indivíduo tão importante como o alimento e o sexo. E na falta da vivência religiosa, na falta de um significado, repousa o esquecimento da finalidade para a qual vivemos como também o motivo pelo qual sofremos.
A experiência religiosa confere significado ao nosso sofrimento e coragem para suportá-lo; pois se não sabemos por que sofremos os desafios da vida facilmente nos derrotarão. O significado torna suportáveis um sem número de coisas, talvez tudo.
Na eterna busca do sentido da vida, da transformação da experiência em significado, na busca do Si-Mesmo, do centro que tudo dirige e tudo realiza para cada um de nós e em todos nós emergir e manifestar-se em plena consciência, a Escritura Sagrada, a Bíblia, nos surge como um relato das vicissitudes do relacionamento entre Deus e o homem e como um testemunho individual e coletivo das lutas humanas para a psique tornar-se consciente de si mesma.
A Bíblia é um dos maiores testemunhos da História da psique coletiva, principalmente do Ocidente, pois nela se encontram os alicerces fundamentais da alma e de todo ocidental, seja ateu ou indiferente ou religioso.
Logo no início da Bíblia em Gen 1, 26-27, somos informados que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Para a Psicologia fica claro que Deus e o homem são dois mistérios indissoluvelmente ligados. E como assinalou Jesus ao dizer “O Reino de Deus está dentro de vós”, devemos procurar a causa de nossas idiossincrasias e de nossas glórias em nós mesmos, pois o mundo externo é reflexo do nosso mundo interno, e toda raiz e essência se encontram nas felizes ou infelizes conexões feitas na alma.
Em Gen 1,31; 2,2-3 vemos que “Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom... e descansou depois de toda a obra que fizera... depois de toda a sua obra de criação”. Isto é, ele fez o que se propusera a fazer. O resto cabe a nós. Cabe a nós continuar a criar, já que temos em nós a imagem e semelhança de Deus. Mas para isso precisamos descobri-la e fazê-la emergir encarnando-a em nossas vidas.
Os passos, ou pistas para esse caminho encontram-se em várias passagens bíblicas, momentos de vida de personagens bíblicos que encarnaram o mistério e a luz divina presente também em todos nós.
A expressão máxima desse mistério é a pessoa de Jesus. Com ele aconteceu o que deve acontecer em todos nós e em cada um de nós: tornarmo-nos o espelho que reflete o mistério de Deus.
Jesus através de suas parábolas nos deixou pistas sobre o caminho a seguir para a realização e vivência do Reino de deus, ou falando psicologicamente, para a realização do processo de individuação.
Estas indicações ficam claras, por exemplo, quando falando em parábolas, Jesus incita o crítico a olhar para si próprio de modo a descobrir em si a grande falha que vê no outro e ao perdoar-se, abrir-se em amor ao próximo. Da mesma forma retirando-se do outro as projeções psicológicas tanto positivas quanto negativas e as aceitando como próprias, não só se liberta o outro do nosso olhar preconceituoso, como nos possibilita olhar o outro verdadeiramente e nos relacionarmos com mais profundidade.
Jesus também fala em parábolas sobre a exigência da hora, isto é, que é preciso agir com decisão, sendo um indivíduo de resposta firme, clara e consciente. Um ser humano psicologicamente maduro.
Maturidade conseguida através do conhecimento, da proximidade e do acolhimento dos pobres interiores, dos miseráveis internos que nos atormentam e que por isso desprezamos. Do amor, do misterioso amor por estes conteúdos internos tão rejeitados e não reconhecidos como próprios.Amor que se revela e transborda quando olhamos para dentro e acolhemos e reconhecemos os pobres em nós e assim podemos expressar externamente este amor no amor pelos necessitados.Daí, desta experiência , nasce a confiança inabalável que advém nos momentos de derrota, quando sabemos por experiência, que Deus conduz inexoravelmente seus começos à consumação; quando sentimos o fluir do fluxo da vida, o significado da existência.
A psicologia então como irmã querida da religião, da espiritualidade essencial, é um instrumento, uma forma de leitura e compreensão do que neste momento Deus ou a imagem que nós temos de Deus, pede a todos e a cada um de nós. Tenta compreender os projetos e os caminhos que cada um de nós deve realizar, para que Deus se manifeste em nós, para que cada um vivencie realmente a versão de Deus que foi chamado a realizar, para o seu mais alto bem e o melhor bem de todos.
Rose Lane Romero da Rosa
Psicóloga Junguiana
E-mail: [email protected]
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Psicóloga Junguiana, Teóloga e Facilitadora das Oficinas ArteVida de Meditação do Projeto Labirinto E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
